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Meu amigo Jaweed Kaleem, do Huffington Post, escreveu anteontem sobre os resultados de uma pesquisa da socióloga Elaine Ecklund, da Rice University, divulgados recentemente. Ela entrevistou algumas centenas de cientistas e revelou que, para a maioria deles, ciência e religião não estão sempre em conflito. Vocês já tinham lido sobre Elaine Ecklund aqui; o que não ficou muito claro é se esses novos resultados são parte da mesma pesquisa que gerou o livro Science vs Religion: what scientists really think; pela descrição de Kaleem, parece que sim, mas eles teriam ficado de fora da publicação.

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A pesquisa completa foi publicada na edição de setembro do Journal for the Scientific Study of Religion. Como eu acho absurdo ter de pagar US$ 35 dólares para ter acesso ao artigo por 24 horas (um texto bem interessante sobre essa questão das revistas acadêmicas está aqui), vou me guiar pelo texto de Kaleem. Ele diz que, segundo a pesquisa, 15% dos cientistas entrevistados dizem que ciência e fé estão sempre em conflito; a mesma porcentagem afirmou que nunca estão em conflito. A maioria, 70%, diz que apenas em algumas ocasiões há incompatibilidade. Senti falta de uma descrição mais aprofundada sobre o “tipo” de “conflito” que os cientistas dizem ocorrer. Uma coisa é você dizer que existe oposição entre descobertas científicas e afirmações feitas pelas religiões (por exemplo, dizer que o universo e a Terra têm 6 mil anos quando a Astronomia, a Geologia e outras ciências apontam o contrário). Outra coisa é você se opor a práticas científicas por causa de princípios religiosos (como a contestação à pesquisa com embriões humanos, ou ao uso de animais em experimentação). Eu, particularmente, como católico, recuso a incompatibilidade do primeiro tipo; quanto ao segundo tipo, não é exclusividade apenas das religiões, já que dia desses um grupo de direitos dos animais chegou a botar fogo no biotério central da Universidade Federal de Santa Catarina e publicou um vídeo todo orgulhoso no YouTube.

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Kaleem continua dizendo que Ecklund vê uma correlação entre o que os cientistas dizem sobre o suposto conflito (sempre, nunca ou às vezes) e a maneira como eles veem a religião. A maioria dos que dizem sempre haver conflito identifica “religião” com “fundamentalismo protestante norte-americano” (o que leva a criacionismo da Terra jovem e por aí vai). Os outros teriam uma visão mais aberta sobre o que constitui a religiosidade, incluindo práticas não vinculadas a esta ou aquela instituição religiosa. A pesquisa avaliou ainda como os cientistas veem seus pares mais “midiáticos”. Francis Collins, ex-diretor do Projeto Genoma e atual diretor do National Institutes of Health, ficou bem cotado; na ponta oposta ficou, adivinhem?, Richard Dawkins. O argumento é o mesmo que já vem sendo explorado em outras pesquisas: sua insistência em associar ciência com ateísmo afasta as pessoas religiosas, que, em vez de aprenderem a conciliar ciência e religião, acabam se entrincheirando em posturas anticientíficas.

A votação para a edição 2011 do Prêmio Top Blog vai até 11 de outubro. Ano passado, o Tubo de Ensaio, concorrendo na categoria “religião/blogs profissionais”, foi o vencedor pelo voto popular. Vamos tentar o bicampeonato e buscar melhorar a posição no júri acadêmico, em que o Tubo terminou em terceiro lugar na edição 2010. Para votar, clique aqui, ou no selo ao lado.

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