Jaime Maldonado-Aviles deixou o pós-doutorado em Yale para entrar no seminário. Outros cientistas estão seguindo o mesmo caminho. (Foto: Linda Davidson/The Washington Post)| Foto:

O jornal O Globo, reproduzindo noticiário do Washington Post, conta a história de um neurocientista que, no meio do pós-doutorado em Yale, largou tudo para se tornar padre, matriculando-se em um seminário. E o jornal continua dizendo que Jaime Maldonado-Aviles está longe de ser um caso isolado. Entre os seminaristas, pelo menos em Washington e algumas outras instituições, há cada vez mais “vocações tardias” oriundas do ambiente científico.

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Como não poderia deixar de ser, ninguém mostra estar embasbacado ou perplexo com o fato de um cientista não apenas ter fé, mas também abraçar o sacerdócio. “Eles parecem se encaixar muito bem, é tudo que eu posso dizer. Não parece haver uma luta terrível para que eles tragam seus antecedentes científicos aqui. Ninguém lhes pede para abandoná-los”, diz um recrutador de um seminário que só aceita maiores de 30 anos, ou seja, pessoas que provavelmente já tinham uma carreira estabelecida antes de descobrir sua vocação. E não tinha como ser diferente mesmo, apesar do que revistas como Superinteressante ou Galileu continuem tentando colocar na nossa cabeça.

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A reportagem não diz se esses seminaristas, uma vez ordenados, abandonarão completamente suas pesquisas para se dedicar exclusivamente ao sacerdócio, ou se darão continuidade ao que faziam antes, talvez por meio da docência. Mas eles parecem conscientes de que seus antecedentes lhes dão um papel especial dentro da Igreja. Maldonado-Aviles “considera sua missão ajudar os católicos a entender os cientistas, e os cientistas a entenderem os católicos”, diz o texto. O Post diz que ele tem mergulhado em temas de bioética (essa parte o Globo cortou da sua versão) para dialogar com outros cientistas.

A história de Maldonado-Aviles me lembra dos padres-cientistas que entrevistei recentemente, do irmão trapista Gabriel e de outros padres e seminaristas que conheço (recentemente, conversando com o padre redentorista Joaquim Parron, ele me contou que um dos seminaristas tinha vindo da Física). Independentemente de seguirem, de algum modo, com sua carreira científica ou de a deixarem totalmente, essas pessoas enriquecem a Igreja com seus conhecimentos. Claro, também os leigos o fazem quando fomentam uma relação saudável entre a ciência e sua fé, mas pessoas que estão em posições de liderança, cujas opiniões são levadas em consideração pelos fiéis, podem fazer um grande bem ou causar um grande estrago. A perspectiva que um padre-cientista (ou “padre ex-cientista”) traz é preciosa; não podemos desperdiçá-la.

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