Lembram do caso da tese de doutorado na Tunísia, em que a doutoranda negava toda a cosmologia moderna ao defender que a Terra é plana e está imóvel no centro do universo? Então, enquanto eu estava no Chile soube de outro caso bem complicado, agora no Brasil. O Maurício Tuffani publicou, no seu site Direto da Ciência, um texto sobre um artigo criacionista escrito por brasileiros e que apareceu em uma publicação estrangeira: trata-se de “Speciation in real time and historical-archaeological and its absence in geological time”, publicado em julho pelo Academia Journal of Scientific Research. Para quem quiser entender qual é, exatamente, o problema com o artigo, e por que ele está sendo visto como criacionista, o Tuffani recomenda, e eu endosso, o texto do biólogo Victor Rossetti.
Há duas grandes questões aqui. Uma é o conteúdo específico do artigo. De fato, além do texto do Rossetti, qualquer busca simples sobre “baraminology” no Google vai retornar basicamente sites criacionistas, incluindo Answers in Genesis, e outros que se dedicam a mostrar o tamanho da encrenca.
Outra tem a ver com a indústria das “publicações predatórias”. O texto do Tuffani traz vários comentários sobre isso. Não vivo imerso no meio acadêmico (até tenho currículo Lattes, mas, acreditem se quiser, ainda não consegui cadastrar o meu livro lá…), então sei muito vagamente como funciona a questão das publicações, plataforma Qualis, essas coisas. Mas sei que pesquisadores e pós-graduandos vivem pressionados para publicar seus artigos, e aí essas publicações acabam quebrando o galho; Tuffani aponta o fato de várias delas aparecem na Qualis (ainda que com a pior classificação de todas, a C) servir para legitimar essas publicações, pelo menos entre os brasileiros.
Como diz o título do post, mais uma vez temos tartaruga no alto do poste, pois um artigo criacionista não se materializa do nada em uma publicação acadêmica, ainda que predatória. Se a coisa chega a esse ponto, é porque contou com a ajuda ou a conivência de orientadores, revisores, editores, enfim, toda uma rede de pessoas que torna isso possível.
O blog fez contato com um dos coautores do artigo, Everton Fernando Alves, da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e cujo e-mail consta no artigo, mas ele disse que não responderia as perguntas que enviei.
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