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Mais uma vez, a “fita da evolução” e o princípio antrópico
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Depois de uma semana particularmente atribulada, o Tubo está de volta em um horário nada convencional, mas é o que está disponível no momento… já liberei os comentários dos dois últimos posts (daqui a pouco verifico os demais), e aproveito para perguntar a alguns comentaristas mais afoitos, que já chegaram com uns papos de “meus comentários não estão aparecendo, fui censurado!”, se eles não acharam estranho que nenhum comentário (e não apenas os do autor das reclamações) tivesse sido liberado depois de uma determinada data… de fato, eu devia ter achado tempo para liberar comentários durante a semana, falha minha. Mas não é para voltar a acontecer.

Um blog da BBC britânica, mantido por William Crawley, publicou uma entrevista interessantíssima com o reverendo Rodney Holder, diretor de Cursos do Instituto Faraday para a Ciência e Religião da Universidade de Cambridge. Crawley mora na Irlanda do Norte, e Holder está organizando um curso em Belfast no próximo fim de semana, uma espécie de introdução ao debate sobre ciência e religião. Até por isso, a entrevista é mais generalista.

Ao longo das perguntas vamos revisitando temas como a importância de John Draper e Andrew White na criação desse mito de que ciência e religião sempre viveram em conflito; a polêmica afirmação de Stephen Hawking sobre um “universo que surge do nada”; a recordação de que o fato de algo não ser científico não o torna irracional (nessas horas, sempre me lembro da pergunta de John Lennox a Richard Dawkins sobre o amor de sua esposa); o fato de a crença cristã num mundo racional e organizado, com leis, ter ajudado a impulsionar a ciência; os problemas com a teoria do Design Inteligente. Tudo isso já vimos aqui, mas é interessante ver todos esses temas reunidos em uma só entrevista.

Reprodução
Michael Faraday, que dá nome ao instituto do qual Holder é diretor, se destacou como cientista, mas também era um homem de profunda fé cristã.

Uma coincidência interessante é a menção a Stephen Jay Gould e sua afirmação sobre “tocar de novo a fita da evolução”. Nós conversamos sobre isso naquele post dos pinguins inteligentes. Holder parece não concordar com Gould e prefere citar Simon Conway Morris, um paleontologista de quem já ouvi falar bastante, mas cujas ideias ainda não tive a chance de conferir com mais atenção. Segundo Holder, Morris acredita que, da maneira como o mundo funciona, humanos surgiriam mais cedo ou mais tarde. De qualquer modo, percebi também que Holder não entra no debate sobre a necessidade de haver humanos para o surgimento da espiritualidade.

O comentário de Holder a respeito da oposição entre Gould e Morris é feito dentro de um contexto no qual o reverendo cita o princípio antrópico, o tal fine tuning de universo feito sob medida para nós. Holder diz que, para escapar dessa constatação, o ateísmo militante adotou o conceito de multiverso. Sinceramente, sei não. Não consta que as teorias de multiverso tenham surgido como resposta ao princípio antrópico (e nem Holder afirma isso, vamos deixar claro). Num texto que eu escrevi já faz um bom tempo, defendi que mesmo o multiverso não seria um argumento contra a existência de Deus; ele apenas demoliria o princípio antrópico, mas até aí ele não é essencial nos debates sobre a existência divina. De qualquer forma, Holder resume bem quando diz que o multiverso “apenas move a questão um nível para cima”; afinal, o multiverso também não pode ter surgido do nada, certo?

Disclaimer: o Instituto Faraday, mencionado neste post, me concedeu nesta semana uma bolsa para que eu possa ir a Cambridge participar de um curso de verão de uma semana, na segunda quinzena de julho.

PS: os leitores do Tubo que gostam de andar de bicicleta precisam conferir (se é que já não viram) um dos novos blogs da Gazeta, o Ir e vir de bike, do Alexandre Costa Nascimento, que é meu colega na editoria de Economia.

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A votação para a edição 2011 do Prêmio Top Blog começou em 20 de maio. Ano passado, o Tubo de Ensaio, concorrendo na categoria “religião/blogs profissionais”, foi o vencedor pelo voto popular. Vamos tentar o bicampeonato e buscar melhorar a posição no júri acadêmico, em que o Tubo terminou em terceiro lugar na edição 2010. Para votar, clique aqui, ou no selo ao lado. À medida que outros blogs da Gazeta do Povo forem se inscrevendo no prêmio, vocês saberão aqui como votar neles também.

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