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Todo mundo que já participou de debates na internet, seja em fóruns, seja em comentários de blog, seja em listas de e-mail, conhece o troll, aquele sujeito que só está ali para tumultuar, que lança opiniões polêmicas só para ver o circo pegar fogo, isso quando não parte direto pro insulto para ver o que os outros vão responder. E volta e meia moderadores e blogueiros aparecem para dizer “não alimente o troll”, porque o troll vive de atenção: ignorar esse tipo de pessoa é o melhor modo de garantir que ela não cause mais problemas.

Pois então, o jornalista Tyler Francke sugere, no recém-criado site God of Evolution – Theology with attitude (que defende a conciliação entre Cristianismo e evolução), que os criacionistas sejam tratados exatamente como trolls, e que o melhor jeito de a discussão evolução-criação evoluir (acho que o trocadinho é intencional) é ignorando essa turma.

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Francke apresenta alguns argumentos: primeiro, muitos criacionistas não admitem nem mesmo a hipótese de analisar as evidências em favor da evolução, e por isso discutir é perder tempo. Segundo (derivado do primeiro), esse debate infrutífero tira tempo de outro trabalho intelectual mais produtivo, que é o de interpretar a Bíblia à luz do que a Biologia nos ensina. Terceiro, dar ouvidos aos criacionistas significa implicitamente conceder a eles uma legitimidade que você não daria, por exemplo, a um revisionista caso estivesse escrevendo algo sobre o Holocausto. Quarto, manter o quebra-pau ativo só intensifica divisões dentro de uma comunidade religiosa.

São bons argumentos. É fato que muitos criacionistas são mesmo bitolados (o mesmo vale para muitos ateus militantes). Concordo que a tarefa de oferecer uma interpretação da Bíblia compatível com a evolução seja um trabalho importante e que merece uma boa dose de atenção. Também concordo que fomentar divisões dentro de uma comunidade é receita para problemas. E concordo com a questão da legitimidade. Mas acho que ignorar os criacionistas é contraproducente. Vejam o que Francke diz: “deixar de dar espaço à posição criacionista [de Terra jovem] pode impedir novos crentes de serem doutrinados e pode até fortalecer o testemunho da Igreja diante do mundo”. Isso seria verdade uns 30 anos atrás, quando ainda havia filtros entre os produtores de conhecimento e o público consumidor de informação. Hoje, nessa era em que a coisa mais fácil do mundo é divulgar suas ideias, por mais loucas que sejam, é ingênuo achar que vamos impedir as pessoas de ter contato com o criacionismo de Terra jovem simplesmente fingindo que isso não existe.

Ontem, vimos o biólogo Douglas Futuyma dizer que não sabe o que fazer a respeito do fato de a controvérsia evolução-religião seguir acesa, apesar de a conciliação estar amplamente disponível. Francke oferece uma resposta, mas não creio ser a mais adequada. Enquanto não achamos uma solução melhor, acho que a estratégia ainda inclui gastar tempo tentando explicar aos criacionistas por que eles estão errados. E explicar aos demais por que eles não devem cair na conversa dos criacionistas.

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