Depois que Lawrence Krauss disse ter a chave para o surgimento do universo a partir do nada, ele não para de receber bordoada. A última veio em um dos blogs da Scientific American, o Cross-check (gosto do nome porque remete a um dos meus esportes preferidos, o hóquei no gelo). Nele, o jornalista John Horgan (que joga hóquei de vez em quando, daí o título do seu blog) afirma que a ciência, na verdade, nunca terá a resposta para o que ele chama de A Questão: “por que existe algo, em vez do nada?” Mas é justamente essa a pretensão de Krauss em seu livro, que já comentamos no blog em outras ocasiões.
Horgan lembra a resenha do livro publicada no New York Times por David Albert (eu já havia dado o link aqui no Tubo, mas repetir nunca é demais) para ressaltar a inconsistência da argumentação de Krauss. Ainda que ela esteja certa, não responde A Questão porque leis físicas servem para descrever o comportamento daquilo que já é. E, se algo já é, não estamos diante do nada: no máximo estamos diante de uma redefinição de nada feita sob medida para acomodar as pretensões do ateísmo militante, porque é preciso lembrar que o conceito de nada ontológico é bem mais antigo que esses “nadas com conteúdo” propostos por Krauss e Stephen Hawking (nessa entrevista de Krauss ao The Atlantic dá para ver como ele mete os pés pelas mãos quando fala do “nada”).
(aliás, sobra bordoada também para Richard Dawkins, que escreveu um prefácio bem fora da casinha para o livro de Krauss, dizendo, entre outras coisas, que A universe from nothing é o equivalente na Cosmologia ao que A origem das espécies foi na Biologia: um golpe final no sobrenaturalismo.)
Horgan acredita que uma abordagem melhor d’A Questão virá em um livro que está para ser lançado no meio do ano: Why does the world exist?, de Tim Holt. O autor conversou não apenas com físicos, mas também com filósofos, teólogos e outros curiosos. Horgan concorda que o tema não é exclusividade dos cientistas. “Quando se trata d’A Questão, todos e ninguém são especialistas, porque A Questão é de uma natureza diferente de qualquer outra questão colocada pela ciência”, afirma. E conclui dizendo que o tipo de coisa que Krauss e Dawkins fazem é um desserviço à ciência. “Eles se tornam uma imagem espelhada do fundamentalismo religioso que desprezam”, afirma. É bem por aí.
(Confiram também os comentários ao texto, em que Krauss aparece usando um ad hominem só para levar outra bordoada de Horgan.)
E tem mais Lawrence Krauss!
Neste sábado (ou seja, depois de amanhã), o autor de A universe from nothing debate com Rodney Holder, do Faraday Institute, no programa Unbelievable?, da rádio cristã britânica Premier. O programa começa às 14h30, hora local (10h30 no horário de Brasília, alguém me corrija se eu estiver errado). Parece que há transmissão pela internet; eu estarei ocupado no horário, mas se alguém puder ouvir e fazer um relato depois, agradeço.
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