O Pew Forum on Religion and Public Life é um instituto de pesquisa norte-americano que faz um trabalho espetacular, e ao qual a mídia não costuma dar muita atenção (pelo menos não por aqui). Na conferência da Religion Newswriters Association, em Minneapolis, tivemos uma palestra com um de seus diretores, que apresentou para nós os resultados de um trabalho sobre o impacto da imigração no perfil religioso norte-americano.
Em novembro, temos os 150 anos da publicação de A origem das espécies, e por isso o Pew lançou hoje um extenso material sobre como os americanos veem a relação entre ciência e fé. Alguns dos resultados já podemos imaginar, mas outros são bem interessantes. Por exemplo, podemos destacar o capítulo sobre como o público vê os cientistas. Seja qual for o corte, sempre mais de 80% do grupo analisado concorda que os efeitos da ciência na sociedade são principalmente benéficos, o que é ótimo. Mas podemos analisar melhor um outro gráfico, vejam aí:
Os entrevistados foram perguntados se: 1. eles percebem conflito entre ciência e religião em geral e 2. se existe conflito entre a ciência e a religião que eles professam. Curiosamente, quanto maior a frequência religiosa do entrevistado, menos ele vê possibilidade de conflito em geral (minha impressão é que os mais laicizados são mais vulneráveis às pregações de um Dawkins da vida, e tendem a perpetuar a tese do conflito). E todos os grupos costumam ver mais conflito em geral do que conflito entre a ciência e a própria fé.
Mas eu gostaria de destacar o que considero ser um pequeno buraco na maneira como isso foi formulado: é diferente dizer que as descobertas científicas contrariam minha religião, e dizer que certas práticas científicas contrariam minha religião. No meu caso particular, não sei de nenhuma descoberta científica que contrarie o catolicismo, mas há, sim, práticas, como a pesquisa com embriões humanos, às quais a Igreja se opõe. É uma nuance, mas é importante, e acho até que já comentei isso em outra ocasião.
A seguir, vemos a opinião dos norte-americanos sobre a evolução, confiram a seguir. A barra marrom é a de quem defende a evolução por processos puramente naturais; essa cor meio bege, meio amarronzada, é a dos que defendem a evolução guiada por um ser supremo; o pessoal da barra verde aceita a evolução, mas não sabe dizer como ela ocorreu; a barra azul é a de quem defende que o homem e outros seres vivos foram criados do jeito que são hoje.
Bom, quando eu vi o tamanho dessas barras azuis eu pensei “ai, meu Deus”. Eu acharia interessante que os leitores protestantes do blog oferecessem sua opinião sobre a importância que esse assunto tem em suas denominações. Do ponto de vista católico, o que posso dizer é que, doutrinalmente falando, tanto faz acreditar na evolução segundo Darwin, em Design Inteligente ou em criação literal – isso pode fazer da pessoa mais ou menos letrada cientificamente, mas não um herege ou coisa parecida. E também não é um assunto frequente em homilias de missa. Claro que eu queria ver barras azuis menores, mas pelo menos entre os católicos ninguém terá seu destino eterno alterado por causa disso.
Igualmente interessante é o capítulo dedicado às crenças dos cientistas. Sim, eles acreditam em Deus numa proporção bem menor que a população em geral. Mas o dado que eu gostaria de destacar está na tabela abaixo: os cientistas mais jovens tendem a acreditar mais em Deus.
Para isso temos a interpretação otimista e a pessimista. Na otimista, vemos o surgimento de uma geração de cientistas que consegue estabelecer a paz entre ciência e crenças religiosas. A pessimista usa o efeito Orloff: os jovens cientistas são mais “crentes” porque são jovens. À medida que forem envelhecendo (e pesquisando mais), abandonarão a crença. Vocês sabem que eu prefiro a primeira opção, mas não tenho condição de dizer se ela é verdadeira.
Enfim, recomendo aos leitores que façam um passeio pelo material trazido pelo Pew Forum (nem tudo é de hoje: há textos de maio desse ano, como transcrições de eventos sobre neurociência e um outro com a participação de Francis Collins). E encerro com essa magnífica linha do tempo da relação entre ciência e fé:
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Se você ainda não segue o Tubo de Ensaio no Twitter, isso tem conserto.
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