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Concepção artística do Kepler 452b: jornalistas foram atrás da opinião "do Vaticano" sobre vida extraterrestre, mais uma vez. (Imagem: Nasa Ames/JPL-Caltech/T. Pyle)
Concepção artística do Kepler 452b: jornalistas foram atrás da opinião "do Vaticano" sobre vida extraterrestre, mais uma vez. (Imagem: Nasa Ames/JPL-Caltech/T. Pyle)| Foto:

A comunidade astronômica ficou animada com a descoberta do Kepler 452b, um planeta com características semelhantes às da Terra, especialmente no sentido de reunir algumas das condições para a existência de alguma forma de vida. Aparentemente, alguns veículos de imprensa resolveram procurar o Vaticano para falar a respeito. E, nesse caso, o caminho certo é procurar os jesuítas do Observatório Vaticano, especialmente seu diretor, o padre José Funes, ou o irmão Guy Consolmagno (que geralmente fala mais à mídia de língua inglesa).

Concepção artística do Kepler 452b

Concepção artística do Kepler 452b: jornalistas foram atrás da opinião “do Vaticano” sobre vida extraterrestre, mais uma vez. (Imagem: Nasa Ames/JPL-Caltech/T. Pyle)

Ao Tg2000, jornal televisivo italiano, Funes afirmou não acreditar que encontraremos vida “em ato”. “É possível que encontremos planetas que reúnam as condições nas quais se possa desenvolver vida, planetas onde talvez esteja em curso um processo de desenvolvimento de vida. Mais que isso não podemos dizer, o único caso de um planeta que abriga vida é o nosso”. À agência France Presse, Funes explicou um pouco mais, embora pareça se contradizer em relação ao que disse na televisão italiana: nas palavras do diretor do Observatório, pode até ser que haja vida, e vida inteligente, mas jamais saberemos, por causa das grandes distâncias que nos separam de Kepler 452b.

O que realmente me incomoda nessa última reportagem não são as declarações de Funes, mas o título “Vaticano diz…”, como se houvesse alguma autoridade doutrinal nas palavras do diretor do Observatório Vaticano. Essa é a avaliação dele como especialista científico, não carrega nenhum peso moral ou de doutrina. Suspeito que tenha sido coisa da AFP, que já cometeu erros muito piores na cobertura da Igreja Católica; surpreende-me é que a Rádio Vaticana tenha usado esse palavreado.

É claro que, quando vão atrás do Vaticano para algo assim, o que os jornalistas realmente querem saber é se existe alguma implicação teológica caso um dia encontremos vida (especialmente vida inteligente) fora do nosso planeta. A esse respeito, Ruth Bancewicz publicou recentemente em seu blog um texto sobre a palestra de David Wilkinson no curso de verão do Instituto Faraday deste ano, em Cambridge. Wilkinson listou vários teólogos cristãos e suas visões sobre o tema, que passam por aspectos como a onipotência divina e o papel especial do homem na criação. O site do Faraday não tem o vídeo da palestra deste ano, mas no curso do ano passado ele falou sobre o mesmo tema. Não há link direto: para ver ou ouvir, clique aqui e ou vá até a página 54, ou digite “Wilkinson” na ferramenta de busca.

Além disso, em 2009, quando escrevi no blog sobre o multiverso, também tratei um pouco das possíveis implicações teológicas da existência de vida fora da Terra. E o Alexandre Zabot, que é da área, também tem um ótimo texto sobre vida fora da Terra cuja leitura eu recomendo muito.

(Aviso: o Instituto Faraday, citado neste post, deu ao blogueiro uma bolsa para participar de um curso na Universidade de Cambridge, em 2011)

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