A Fundação BioLogos botou em seu blog outro vídeo curto e interessante que ajuda a entender as restrições que alguns cristãos têm à teoria da evolução. Quem fala desta vez é Daniel Harrell, pastor de uma igreja em Boston.
Ele explica que para muitos cristãos tanto a teoria da evolução quanto a cosmologia moderna apresentam desafios à autoridade da Bíblia. A pergunta que eles se fazem é “se não posso ler os seis dias de modo literal, então como vou saber o que significa?” (e talvez seja o caso de acrescentar outra pergunta: “se isso não é literal, então como eu sei que outras partes são literais ou alegorias?”). Aqui, me parece que esse é um problema mais comum nas tradições protestantes, já que os católicos, por exemplo, têm uma autoridade central responsável pela interpretação das Escrituras. Mas é um conflito que de forma alguma pode ser descartado.
Harrell sugere algumas soluções. Uma delas é trabalhar com os significados diferentes que as palavras têm no texto sagrado: é o caso de “dia”, segundo o pastor. OK, é uma alternativa, mas eu a considero um tanto limitada porque, de certa forma, continua dependendo de leituras literais: você continua dependendo de haver aquela palavra específica no texto. Em outras ocasiões já comentamos aqui como os relatos da criação foram escritos tendo em mente o conhecimento do seu público-alvo principal, o hebreu de milhares de anos atrás. Então, do modo como vejo as coisas, ainda que o termo usado no Gênesis para “dia” tivesse um único significado (“período de 24 horas”), eu não veria problemas em uma interpretação alegórica porque saberia que aquele texto, com a criação em “dias”, faria todo o sentido para o hebreu iletrado da Antiguidade, enquanto uma descrição mais “cientificamente correta” seria bem pouco didática considerando o conhecimento científico quase zerado daquele povo.
Outra necessidade, segundo Harrell, é separar os dados científicos propriamente ditos e a “interpretação” que se queira fazer deles. Se, por um lado, a ciência não tem nada a dizer sobre o primeiro capítulo do Gênesis, por outro os cristãos se metem em sérios problemas quando se propõem a atacar os dados científicos, em vez de discutir as possíveis implicações que eles têm no trabalho de interpretar um texto sagrado. O que os cristãos precisam entender, diz o pastor, é que, se o mundo é (ainda que “indiretamente”) obra de Deus, os dados científicos sobre o mundo revelam esta obra.
Confiram aí o vídeo:
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