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O Gênesis tem pistas sobre a verdadeira idade do universo?
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O físico Gerald Schroeder, do College of Jewish Studies em Jerusalém, está dizendo que sim. E não estamos falando dos 6 mil e poucos anos: ele diz que podemos deduzir, pelo relato do Gênesis, que o universo tem os 13 a 15 bilhões de anos atestados pela ciência! E tudo graças a Einstein, ele avisa.

Reprodução
O físico Gerald Schroeder diz ter encontrado na Bíblia pistas para uma “datação” correta do Big Bang.

O mais incrível é que Schroeder diz não apenas conciliar o Gênesis com a idade do universo cientificamente calculada, como também consegue conciliar os 15 bilhões de anos com seis dias literais da criação! Tudo isso usando a noção einsteiniana de que o tempo é relativo, de acordo com a velocidade de quem (ou do que) se desloca. O astrônomo Alexandre Zabot, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul, me deu uma ajuda com os conceitos. “Se eu andar muito rápido em relação a você, você vê o tempo passando mais devagar no meu refencial. Quanto mais próximo da velocidade da luz, mais devagar ele passa. Se eu pudesse atingir a velocidade da luz (não posso porque tenho massa), o tempo iria parar”, explica. O que fica subentendido da argumentação de Schroeder é que Deus (que, como a luz, também não tem massa) estaria se movendo em relação ao universo numa velocidade tal que, enquanto no universo teriam se passado 15 bilhões de anos, para Deus teriam se passado… uns poucos dias.

Carlos Ruas / www.umsabadoqualquer.com / Reprodução autorizada
Mais uma prova de que o tempo é relativo. Entenderam?

Zabot diz que, do ponto de vista puramente físico, não haveria problema com uma teoria destas. Mas só do ponto de vista físico. O próprio Zabot já começa os questionamentos do ponto de vista teológico. “Então Deus ficou se movendo como um louco quase à velocidade da luz até o primeiro homem ser criado e depois parou. O que os tomistas achariam deste comportamento divino?”, pergunta. Só que as coisas não param por aí: Schroeder alega que, após a criação do homem, o tempo “de Deus” e o tempo “do universo” estariam correndo na mesma, digamos, “velocidade”, mas ao longo dos seis dias bíblicos Deus interage com a criação, e especialmente com o homem. No quinto dia, por exemplo, Deus teria criado os animais marinhos e as aves. No sexto dia, antes de criar o homem, cria os animais terrestres. Tudo isso enquanto se move a velocidades insanas? Além disso, a própria ideia de “tempo passando para Deus” me parece um pouco nonsense, porque até onde eu sei Deus está fora do tempo. Sem falar que a ideia de Schroeder parece reconciliar a Física com o relato da criação de Gênesis 1, mas e o relato de Gênesis 2, em que o homem é criado antes dos animais?

A mesma reportagem da Fox News traz a contestação de Pete Enns e Karl Giberson à teoria de Schroeder. A argumentação deles é de outra ordem, e eu também concordo com eles: a Bíblia não tem esse tipo de informação científica, nem pretendia ter. Vamos lembrar o vídeo que publiquei aqui semana passada: o objetivo do relato da criação não é explicar como o universo foi feito, mas por quem e para quê, que eram as duas coisas que realmente interessavam ao hebreu de milênios atrás. Enns e Giberson ressaltam que conciliar religião e ciência não signfica que precisamos conciliar a literalidade do texto bíblico com a ciência.

Curiosamente, os criacionistas também não gostaram da teoria de Schroeder. Ken Ham, do Answers in Genesis, não está nem um pouco interessado em Einstein. Para Ham, seis dias são seis dias, 144 horas, e ponto final. Ele basicamente acusa Schroeder de ter caído na lorota científica/secular de um universo com bilhões de anos e tentar encaixar o Gênesis nessa noção. Nem preciso dizer que acho lamentável ver uma posição totalmente fundamentalista levando à rejeição da ciência.

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