O blog andou parado: duas semanas de molho após uma cirurgia e a fisioterapia diária tiraram um bocado do tempo do blogueiro, mas vamos retomando os trabalhos lentamente. Amanhã teremos uma entrevista muito interessante com William Carroll, da Faculdade de Teologia da Universidade de Oxford: vocês poderão ler uma versão editada na edição impressa da Gazeta do Povo que circula neste sábado, e a íntegra aqui mesmo, no Tubo.
Mas o post de hoje trata de uma pesquisa bem curiosa feita por Elaine Ecklund, Christopher Scheitle e David Johnson, e que Tania Lombrozo conta no blog 13.7, da National Public Radio americana. A julgar pelo resumo do artigo publicado pelo trio, a pesquisa buscava mapear quem as pessoas buscam para se informar sobre ciência. Lombrozo destacou um recorte do trabalho: a influência de cientistas famosos na construção das visões pessoais sobre a narrativa envolvendo ciência e fé.
Os pesquisadores entrevistaram 10,2 mil pessoas sobre como elas viam a relação entre ciência e religião. Havia quatro opções possíveis: colaboração, independência (na linha dos Magistérios Não Interferentes, de Stephen Jay Gould) ou conflito – neste caso, o entrevistado tinha de dizer se estava do lado da ciência ou da religião. Acontece que, enquanto uma parte dos entrevistados apenas dizia de que lado estava, outra parte recebia dois textos curtos, um sobre o geneticista Francis Collins e outro sobre o biólogo Richard Dawkins. Os textos descreviam as credenciais científicas de ambos e informavam que Collins era um cristão devoto que defendia a compatibilidade entre a ciência e a fé, e que Dawkins era um ateu militante para quem ciência e religião estão em conflito.
Em ambos os grupos, a narrativa da colaboração foi a mais votada, com a independência em segundo lugar e, por fim, o conflito (neste caso, com mais pessoas se colocando do lado da religião que da ciência). Mas houve uma diferença significativa: no grupo exposto às posições de Collins e Dawkins, a colaboração venceu com 49,8% das respostas, contra 35,3% no “grupo de controle”. E o mesmo fenômeno ocorreu na outra ponta, ainda que atenuado, pois, enquanto no grupo de controle a narrativa do conflito em favor da ciência teve 10,7%, no caso dos entrevistados que foram expostos a Collins e Dawkins a porcentagem subiu para 12,4%. Ou seja, as “celebridades” tiveram impacto sobre os entrevistados – muito mais para o bem que para o mal, felizmente. Lombrozo aponta alguns fatores que merecem melhor análise e poderiam explicar alguns resultados, mas não parece negar o ponto principal envolvido aqui: cientistas de renome podem, sim, ajudar a moldar o debate sobre ciência e religião.
Fiquei aqui imaginando quem poderia exercer esse papel no Brasil. Temos, felizmente, o Marcelo Gleiser, que tem proposto de forma bastante positiva o diálogo entre ciência, filosofia e religião. Temos também o Miguel Nicolelis, que é membro da Pontifícia Academia de Ciências, mas ao mesmo tempo tem umas posições bem controversas e já disse que Jesus, Abraão e Maomé eram esquizofrênicos. Acho que ele estaria mais para um Dawkins nessa. E não sei como esse pessoal novo que está com bons canais de ciência no YouTube se posiciona na questão. Na verdade, só de quebrar a cabeça tentando achar os nossos “cientistas-celebridades” percebi como a ciência por aqui é pouco reconhecida…
Pequeno merchan
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