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"Será que traduziram aquele do Mariano Artigas?"
"Será que traduziram aquele do Mariano Artigas?"| Foto:

Como vimos semanas atrás, acabei de publicar, na revisa on-line Quaerentibus, os resultados de uma sondagem feita com quase 150 seminaristas em dez estados brasileiros e no Distrito Federal, perguntando o que eles sabem e pensam sobre ciência e religião. Alguns dos próximos posts do blog serão dedicados a destrinchar um pouco alguns aspectos específicos dos dados colhidos nessa sondagem. Hoje, queria tratar um pouco das fontes que os seminaristas usam para se informar sobre ciência, e também sobre a relação entre ciência e religião.

Eu perguntei aos seminaristas com que frequências eles liam sobre ciência. O resultado, convenhamos, já era de se esperar, pois estamos falando de seminaristas, e não de estudantes universitários de ciências exatas. Eles têm outras coisas com que se preocupar. Mesmo assim, quase metade dos entrevistados disseram ler “às vezes” sobre ciência, o que já está de bom tamanho. Além disso, a soma dos grupos que responderam “com uma certa frequência” ou “muito frequentemente” é maior que a soma dos grupos “nunca” e “quase nunca”.

Como era de se esperar, a leitura sobre ciência não chega a ser tão frequente entre os seminaristas; afinal, seu interesse principal está voltado a outras questões. (Imagem: Elaboração própria)

Em uma questão anterior, procurei saber se os seminaristas tinham algum curso superior concluído, em andamento ou deixado pelo meio. Eram poucos os que tinham formação universitária, ainda que incompleta, em ciências exatas. Um seminarista disse ser formado em Biomedicina (lê sobre ciências “muito frequentemente”); um outro fez Biotecnologia (“às vezes”); há um formado em Educação Física (“quase nunca”) e outro que não terminou o curso (“às vezes”), um que fez Enfermagem (“Quase nunca”), um graduado em Estatística (“às vezes”), e um que fez Física (“às vezes”).

Também pedi aos seminaristas que assinalaram qualquer opção diferente de “nunca” para apontar onde eles buscavam informação sobre ciência. Podiam citar nomes de autores ou publicações, ou responder de modo mais genérico. No gráfico abaixo incluí todas as fontes mencionadas por pelo menos dois entrevistados (os números correspondem à quantidade de menções; por exemplo, 57 seminaristas citaram alguma revista em específico, ou responderam algo como “leio revistas”, ou “leio revistas de ciência”).

Os seminaristas buscam informação sobre ciência nas mais variadas fontes. (Imagem: Elaboração própria)

Aqui começamos a ver um paradoxo. A maioria dessas fontes, quando se trata especificamente da relação entre ciência e fé, costuma adotar o paradigma do conflito. Quando há alguma reportagem sobre o tema, normalmente se faz questão de destacar um suposto antagonismo entre ciência e religião. Apesar disso, quando, mais adiante no questionário, os seminaristas foram colocados diante de cinco frases, e pedi que eles apontassem qual delas refletia melhor sua visão sobre a relação entre ciência e fé, 90% escolheram “Ciência e religião se completam e podem cooperar em vários temas”. Será possível que os seminaristas confiem nessas fontes para obter informação especificamente sobre ciência, mas ignorem sua abordagem e o viés “conflitista” quando elas falam de ciência e religião? É uma possibilidade, mas as respostas ao questionário não são suficientes para afirmar isso com certeza absoluta.

Quanto a autores, nenhum teve grande destaque. O mais citado deles, Stephen Hawking, foi lembrado por apenas três seminaristas. Dois entrevistados citaram Carl Sagan, Charles Darwin, Karl Popper, Mariano Artigas e santo Tomás de Aquino. E, lembrados apenas uma vez, uma enorme lista: Albert Einstein, Antonino Zichichi, Antônio Feitosa, Aurélio Fernandez, Bertrand Russell, Christopher Hitchens, Felipe Aquino, Francis Collins, Galileu Galilei, Hans Küng, Hans-Georg Gadamer, Immanuel Kant, Isaac Newton, Johannes Kepler, John Couch Adams, Jürgen Habermas, Karl Marx, Leo Pessini, Libânio, Márcio Bolda da Silva, Mircea Eliade, Nicolau Copérnico, Pierre Duhem, Richard Dawkins, Rudolf Otto, Sam Harris, Teilhard de Chardin, Thomas Kuhn e Timothy Ferris. Ninguém citou certos nomes bem conhecidos no diálogo entre ciência e religião como Alvin Plantinga, Ian Barbour, John Polkinghorne, Karl Giberson, Kenneth Miller, Marcelo Gleiser, Michael Behe, Ronald Numbers e Stephen Jay Gould. A omissão de pelo menos alguns deles me pareceu bem curiosa.

Uma pergunta feita logo no início do questionário também serviu para mostrar como é importante ter boas fontes sobre ciência e religião em português: 41% dos seminaristas que participaram da sondagem não leem em nenhum outro idioma! Dos 59% restantes, apenas um terço sabe inglês, como vemos no gráfico abaixo (as porcentagens se referem ao grupo que disse ler pelo menos um idioma estrangeiro. Por exemplo, os que leem em italiano são 45% dos seminaristas que entendem outros idiomas, e não 45% de todos os seminaristas entrevistados). A pergunta deixava claro que se tratava apenas da capacidade de leitura em uma língua estrangeira, pois há quem leia, mas não escreva, ou não fale (eu mesmo compreendo bem o espanhol, mas não me peçam para escrever…).

Os seminaristas que leem em um segundo idioma são minoria; e o inglês é compreendido por apenas um terço dos que entendem outras línguas. (Imagem: Elaboração própria)

Moral da história: as melhores fontes sobre ciência e religião (seja sites, livros, eventos, vídeos etc.) estão em inglês, mas só 20% dos seminaristas entendem o idioma. Isso mostra a necessidade urgente de boas traduções. Já disse aqui em outras ocasiões que o mercado editorial parece muito mais interessado nos autores que defendem a tese do conflito que nos autores que defendem a tese da conciliação. Basta ver quem tem mais obras traduzidas para o português: Richard Dawkins ou John Polkinghorne?

“Será que traduziram aquele do Mariano Artigas?” (Foto: Herman Brinkman/stock.xchng)

Felizmente existe uma certa produção nacional, como a do professor Felipe Aquino, ou aquele livro do Marcelo Gleiser e do Frei Betto. Mas é triste perceber que há uma enorme riqueza disponível em inglês, e que a barreira linguística torna inacessível a quatro de cada cinco seminaristas entrevistados.

DivulgaçãoFalando em livros: lançamento em Curitiba!

Anotem nas suas agendas. O bispo Robson Rodovalho, fundador da igreja Sara Nossa Terra, estará em Curitiba nesta segunda-feira, dia 8, para lançar seu livro Ciência e fé: o reencontro pela física quântica. Rodovalho é físico de formação, e foi professor na Universidade Federal de Goiás antes de se tornar líder religioso.

O lançamento ocorre na loja das Livrarias Curitiba no Shopping Estação, das 19 horas às 21h30. Não sei se haverá apenas uma sessão de autógrafos, ou se Rodovalho dará alguma palestra.

Atualização dos trabalhos no blog

Todos os posts de novembro de 2012 até agora estão devidamente classificados em categorias, com tags e com os links direcionando para uma nova janela. Minha meta é que até o fim de julho todos os posts de 2012 já estejam organizados.

Pelo que me contaram, finalmente terminou a migração de todos os blogs da Gazeta para o WordPress. Agora a equipe está trabalhando para consertar os erros de migração, e a prioridade é recuperar todos os comentários feitos antes da mudança. Parece que os do Tubo já voltaram, ainda bem! Só depois vão mexer na questão do posicionamento das imagens e das legendas das fotos.

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