Essa foi a pergunta que o site Science and Religion Today fez a Steve Paulson e Karl Giberson (acredito que deva repeti-la para mais pessoas nos próximos dias), e as respostas foram bem diferentes.
Paulson, produtor de um programa de rádio nos EUA, afirma estar cansado da proeminência que os debates sobre criação e evolução continuam a ter atualmente. Para ele, o tema já deu o que tinha que dar no campo intelectual; só continua a ser um assunto genuinamente quente do ponto de vista político (basta acompanhar as primárias republicanas) e educacional, com as repetidas tentativas de alterar o currículo das escolas norte-americanas.
O jornalista menciona, em seu ensaio, dois assuntos que ele considera bem mais interessantes. O primeiro tem a ver com o impacto das descobertas da neurociência. A discussão sobre a natureza da consciência, a relação entre cérebro e mente, é a nova fronteira do debate entre ciência e fé, segundo Paulson, que menciona algumas abordagens possíveis, como a possibilidade de a consciência ir além das conexões neurais do cérebro de alguém, ou se a neurociência será capaz, algum dia, de explicar como a mente funciona.
O segundo assunto citado por Paulson é a tentativa, por parte de cientistas e filósofos não crentes, de encontrar uma “sacralidade” baseada na ciência moderna. Este senso do sagrado, pelo que entendi, estaria fundamentado talvez na admiração despertada pela contemplação de tudo que a ciência vem mostrando sobre a natureza: Paulson lembra que Stuart Kauffman quer “redefinir Deus para não crentes”; para ele, a “incessante criatividade” da natureza seria o substituto para a divindade pessoal. Em resumo, seria um esforço de descartar o sobrenatural, mas sem cair no extremo oposto, que seria o naturalismo cientificista (e raso, acrescento eu) de um Richard Dawkins.
E, falando em Dawkins, um episódio envolvendo o biólogo inglês é mencionado por Karl Giberson (lembram dele?) em seu ensaio. A crítica de Giberson não tem tanto a ver com os temas em si, mas com a maneira como o debate vem sendo conduzido, e é aí que Dawkins entra. Naquele debate com o anglicano Rowan Willians, Dawkins disse não estar 100% certo da inexistência de Deus, e a afirmação foi trombeteada por aí como se o biólogo estivesse passando por uma crise de fé (ou crise da falta de fé, como quiserem). Eu mesmo vi vários amigos no Facebook com afirmações do tipo “e agora, ateus?”, o que realmente me pareceu um despropósito sem tamanho. Assim como a morte de Mark Twain, achei os rumores sobre a conversão de Dawkins grosseiramente exagerados. Giberson também achou.
Para o autor de Saving Darwin e The language of science and faith, boa parte da discussão hoje se preocupa mais com a aniquilação e a humilhação do “outro lado” que com a verdade das coisas (e Dawkins, embora tenha sido vítima no caso do debate, também colabora com esse tipo de atitude; confiram a opinião de Barbara King, ela mesma uma ateia). Não importa o que alguém diga, as palavras são tiradas de contexto, hiperbolizadas e usadas não para debater, mas apenas para agredir. Giberson, que defende a harmonia entre ciência e fé, conta situações semelhantes em que afirmações suas foram distorcidas tanto por cristãos criacionistas quanto por ateus militantes. Em outras palavras, a fábrica de espantalhos segue batendo recordes de produção, o que pode beneficiar um ou outro exaltado, conseguir espaço nos jornais, mas não ajuda em nada a busca pela verdade.
E este blogueiro? Acho que nunca parei para pensar em termos de “intrigante” ou “surpreendente”. Algo que me intriga um pouco é a aparente falta de interesse das pessoas religiosas no assunto. Julgando até pela participação dos comentaristas do Tubo, minha impressão é de que ateus e agnósticos se importam muito mais com esse debate que as pessoas com alguma fé religiosa. Por que isso acontece? Não tenho a menor ideia. O que sei é que existem alguns motivos de otimismo. Há pouco menos de dois anos, por exemplo, a revista Mensageiro de Santo Antônio, dos franciscanos, iniciou uma seção de ciência e fé, da qual sou colaborador. E no congresso de que participei ano passado, na Cidade do México, descobri outras iniciativas de ciência e religião no Brasil, embora me pareça que mesmo dentro da América Latina estamos comendo poeira na comparação com os vizinhos.
E os leitores do blog, como responderiam à pergunta do título deste post?
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Não tem nada a ver com o tema de hoje, mas, como já tratamos do assunto aqui, recomendo a leitura desta resenha de A universe from nothing (o novo livro de Lawrence Krauss) publicada no New York Times.
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