Espero que muitos de vocês já tenham visto, na versão impressa (ou na on-line mesmo) da Gazeta do Povo de hoje, a entrevista que fiz com o padre Celso Nogueira, dos Legionários de Cristo. Ele ajudou a montar a exposição “Quem é o Homem do Sudário”, que está no Shopping Palladium. Como contei outro dia aqui no Tubo, visitei a mostra no fim de semana passado e gostei bastante, recomendo mesmo a quem acha que o Sudário é uma farsa medieval – aliás, a exposição explica justamente por que o carbono-14 feito em 1988 não pode ser levado em conta na datação do pano. Na entrevista, o padre Celso deu uma pincelada no assunto, mas os dados na mostra são mais aprofundados.
Eu pretendia publicar, neste domingo, um post extenso sobre o Sudário, apresentando conclusões científicas e características incomuns do pano, mas infelizmente o presidente do Centro Sindonológico do Brasil, dr. José Humberto Resende, ainda não teve tempo de responder uma série de perguntas que enviei por e-mail. Quando ele me enviar as respostas, escreverei mais. Por isso, neste domingo vou me limitar a contar o que vi na mostra do Palladium.
O principal de “Quem é o Homem do Sudário” é a série de cerca de 30 painéis que descrevem vários aspectos referentes ao pano e estão dispostos em uma ordem que vai levando o visitante a compreender as características e controvérsias que envolvem o Sudário. Esses painéis são divididos por temas, e as partes mais importantes da exposição, para nós aqui, são duas sequências. A primeira tem a análise científica do pano; a segunda traz uma análise médico-forense que expõe características do homem que teria sido envolto pelo Sudário: ficamos sabendo, por exemplo, sua altura estimada; usando uma proporção chamada índice tibiofemural, foi possível determinar que o homem era da etnia semítica; e, pela análise dos ferimentos e outras marcas deixadas no pano, pode-se tirar algumas conclusões sobre a maneira como o Homem do Sudário morreu. Os organizadores da mostra ainda trouxeram uma estátua, feita por um escultor italiano, mostrando um Cristo morto na posição em que teria sido envolto; um fac-símile do Sudário feito na Itália (o Sudário original, nunca é demais lembrar, está sendo exposto na catedral de Turim até 23 de maio); e reproduções de instrumentos de tortura romanos, da coroa de espinhos (que na verdade seria mais um capacete) e dos cravos usados para pregar Cristo na cruz.
Igualmente interessante, embora não diga respeito às ciências naturais, é a pesquisa histórica envolvendo o Sudário. A exposição adota a teoria do jornalista Ian Wilson, para quem o Sudário e o Mandylion (um pano venerado em Edessa, na Ásia, que trazia impresso o rosto de Cristo) são a mesma peça – como o Sudário estava dobrado em quatro, só se via o rosto. Caso essa hipótese se confirme, isso também derrubaria a datação do carbono-14. Aliás, é muito curioso ver como o aparecimento do Mandylion, por volta do ano 600, alterou radicalmente a maneira como Cristo era retratado. Até então, ele costumava ser representado como um homem de rosto limpo; só após o Mandylion o Cristo de barba, como conhecemos hoje, se tornou o padrão iconográfico.
Mesmo quem não acredita na autenticidade do Sudário vai concordar comigo que este é um dos temas mais interessantes relacionando ciência e fé. Afinal, estamos diante de um objeto que foi estudado de muitas maneiras, e ainda assim parecemos estar longe de uma conclusão definitiva sobre a natureza do pano. Como disse o padre Celso na entrevista, para discutir o Sudário é preciso compreender as pesquisas feitas no pano, e para isso a mostra do Palladium é extremamente útil.
Só lembrando: a exposição fica no piso L3 do shopping até o dia 30 de junho. Está aberta todo dia, mas fique atento aos horários no site da exposição. O preço é R$ 5, com possibilidade de meia-entrada.
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