Provavelmente muita gente já deve ter dito que o que Carl Sagan foi para a astronomia, Oliver Sacks foi para a neurociência, tornando a ciência popular, explicando-a para nós, que não somos especialistas no assunto. Sacks morreu ontem, em Nova York. Em fevereiro deste ano, ele tinha anunciado que estava com câncer terminal, em um artigo no New York Times.
Sacks era ateu, mas isso não o impediu de fazer, em alguns de seus livros, algumas reflexões sobre a alma humana, pelo menos em O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, Alucinações musicais e O olhar da mente, os livros dele que li. Parece que A mente assombrada, seu penúltimo livro (que tenho, mas ainda não li), inclui alguns casos de experiências que poderíamos descrever como místicas. Sacks cresceu em uma família de judeus ortodoxos, mas se afastou da religião principalmente devido à atitude de seus pais (incluindo sua mãe, que foi a primeira a despertar nele o gosto pela ciência) em relação à sua sexualidade. Sacks nunca se descreveu como um ateu militante ao estilo de Richard Dawkins, mas fez críticas públicas ao ensino do criacionismo nas escolas.
Por mais que tenha mantido suas convicções até o fim da vida, em seu último artigo para o New York Times, Sacks conta como o contato com alguns membros da família (especialmente seu primo Robert John Aumann, prêmio Nobel de Economia) o levou a pensar um pouco mais sobre algumas práticas judaicas, especialmente a do shabat. É com o parágrafo final deste artigo que encerro o post.
E agora, fraco, sem fôlego, meus outrora firmes músculos derretidos pelo câncer, me vejo pensando cada vez mais não no sobrenatural ou no espiritual, mas no que significa viver uma vida boa, que tenha valido a pena — atingir um sentimento de paz consigo mesmo. Vejo meus pensamentos se dirigindo ao shabat, o dia do descanso, o sétimo da semana, e talvez também o sétimo dia da vida de uma pessoa também, quando se pode sentir que o trabalho está terminado e se pode, com a consciência tranquila, descansar.
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