Hoje comemoramos a festa litúrgica de São João Paulo II, e por isso o blog traz as mensagens que o papa dirigiu à Pontifícia Academia de Ciências ao longo do seu pontificado, iniciado exatos 40 anos atrás. Pelo menos uma vez por ano o papa se dirigia aos membros da Academia, normalmente por ocasião das reuniões promovidas nos últimos meses do ano. Nesses quase 30 anos de pontificado, João Paulo II tratou de inúmeros temas, alinhados com os assuntos dos eventos que a Academia realizava. Coloco aqui os links para esses discursos, e um trechinho significativo. Sempre que possível, eles estão em português. Em alguns casos o Vaticano não tem a tradução para nosso idioma; deixo o link para a tradução inglesa ou, quando essa também não está disponível, italiana ou espanhola. Além disso, ainda não consegui encontrar os discursos ou mensagens de 1978, 1991, 1995, 1997, 1999 e 2001. À medida que eu as for achando, coloco o link e os trechos aqui no blog.
1979: “A investigação da verdade é a tarefa fundamental da ciência. O investigador, que se move nesta primeira vertente da ciência, sente toda a fascinação das palavras de Santo Agostinho: ‘Intellectum valde ama‘ (Santo Agostinho, Epist. 120, 3, 13; PL 33, 459), ‘ama muito a inteligência’ e a função que lhe é própria, de conhecer a verdade. A ciência pura é um bem, digno de ser muito amado, porque ela é conhecimento e portanto perfeição do homem na sua inteligência.”
1980: “A energia é um bem universal que a divina Providência pôs ao serviço do homem, de todos os homens, seja qual for a parte do mundo a que pertençam, e precisamos pensar também nos homens de amanhã, porque o Criador confiou a terra e a multiplicação dos seus habitantes à responsabilidade do homem.”
1981: “A cosmogonia e a cosmologia sempre suscitaram grande interesse nos povos e nas religiões. A própria Bíblia nos fala da origem do universo e da sua constituição, não para nos fornecer um tratado científico mas para precisar as justas relações do homem com Deus e com o universo. A Sagrada Escritura quer simplesmente declarar que o mundo foi criado por Deus, e para ensinar esta verdade exprime-se com os termos da cosmologia usados no tempo de quem escreveu.”
1982: “Não tenho razão para ficar apreensivo com as experimentações em biologia realizadas por cientistas que, como vós, têm profundo respeito pela pessoa humana, pois estou certo que elas contribuirão para o bem-estar integral do homem. Por outro lado, condeno, do modo mais explicito e formal, as manipulações experimentais sobre o embrião humano, porque o ser humano, desde a concepção até à morte, não pode ser explorado, qualquer que seja o fim.”
1983: “O Universo oculta no seu seio a verdade de todos os seres, das suas formas e das suas leis, e aspira a que a sua verdade seja revelada graças à inteligência humana. Vós, senhores cientistas, que tendes o mundo nas vossas mentes, que o analisais nos vossos laboratórios, perscrutando-o nos seus mais íntimos meandros com os vossos laboriosos esforços, que outra coisa procurais senão a verdade? Tende a coragem e a audácia da razão que procura incansavelmente o que é verdadeiro, e encontrareis na Igreja, e especialmente da parte desta Sé Apostólica os vossos mais convictos aliados.”
1984: “Space belongs to the whole of humanity, that it is something for the benefit of all. Just as the earth is for the benefit of all, and private property must be distributed in such a way that every human being is given a proper share in the goods of the earth, in the same way the occupation of space by satellites and other instruments must be regulated by just agreements and international pacts that will enable the whole human family to enjoy and use it.”
1985: “Scientists and physicians are called to place their skill and energy at the service of life. They can never, for any reason or in any case, suppress it. For all who have a keen sense of the supreme value of the human person, believers and non-believers alike, euthanasia is a crime in which one must in no way cooperate or even consent to. Scientists and physicians must not regard themselves as the lords of life, but as its skilled and generous servants.”
1986: “I cristiani sono stati invitati a rileggere la Bibbia senza cercare in essa un sistema cosmologico scientifico. E gli scienziati stessi sono stati invitati a restare aperti all’assoluto di Dio e al senso della creazione. Ogni aspetto può essere scientificamente sondato proprio perché esso rispetta l’essere umano; sono piuttosto le metodologie che costringono gli scienziati ad alcune astrazioni e delimitazioni.”
1987: “Many people have contributed to the effort to protect the environment, but the skill and good will of individual experts and scientists are not capable of solving the complex problem. Profound worldwide economic and moral changes must be dealt with at the level of groups of communities and governments, which must include interregional and international exchanges and agreements. Fundamental to this action is educating people about the environment and creating an attitude of understanding, respect, and genuine mutual goodwill.”
1988: “Con termini antropomorfici, l’antico racconto della creazione evoca bene l’intimo legale tra l’organismo e lo spirito dell’uomo. Era quindi giusto che gli scienziati confrontassero i risultati delle loro ricerche sperimentali con la riflessione dei filosofi e dei teologi sul rapporto tra il cervello e lo spirito. Niels Stensen, nel suo Trattato sull’anatomia del cervello, aveva già detto che il cervello era ‘il più bel capolavoro della natura’.”
1989: “Development has thus given rise to very serious problems which the Church could hardly fail to address. These problems are not only of the political and economic order; they likewise involve the moral order. In effect, what is at stake is man himself.”
1990: “Ad un primo stadio, la cultura scientifica si sviluppa attraverso la somma di vari e diversi studi. Poco a poco, si viene a formare un mosaico del sapere in un determinato settore. Questo mosaico deve essere interpretato e analizzato, in modo da poter rispondere alle nuove esigenze di legittimazione razionale che ogni disciplina costituita pone. Non è forse manifestazione di maturità da parte di una scienza, l’interrogarsi su se stessa e sui suoi rapporti con l’ordine più generale della conoscenza?”
1992: “Galileo, che ha praticamente inventato il metodo sperimentale, aveva compreso, grazie alla sua intuizione di fisico geniale e appoggiandosi a diversi argomenti, perché mai soltanto il sole potesse avere funzione di centro del mondo, così come allora era conosciuto, cioè come sistema planetario. L’errore dei teologi del tempo, nel sostenere la centralità della terra, fu quello di pensare che la nostra conoscenza della struttura del mondo fisico fosse, in certo qual modo, imposta dal senso letterale della S. Scrittura.”
1993: “The human family is at a crossroads in its relationship to the natural environment. Not only is it necessary to increase efforts to educate in a keen awareness of solidarity and interdependence among the world’s peoples. It is also necessary to insist on the interdependence of the various ecosystems and on the importance of the balance of these systems for human survival and well-being.”
1994: “Alcune persone saranno forse tentate di cercare una spiegazione unicamente scientifica della libertà umana e di considerarla sufficiente. Una tale spiegazione giungerà a negare ciò che pretende di spiegare; essa si scontrerà con la prova intima e irrefutabile che il nostro io profondo non si riduce ai condizionamenti a cui è sottoposto, ma resta in definitiva il solo autore delle proprie decisioni.”
1996: “Hoy, casi medio siglo después de la publicación de la encíclica [Humani Generis], nuevos conocimientos llevan a pensar que la teoría de la evolución es más que una hipótesis. En efecto, es notable que esta teoría se haya impuesto paulatinamente al espíritu de los investigadores, a causa de una serie de descubrimientos hechos en diversas disciplinas del saber. La convergencia, de ningún modo buscada o provocada, de los resultados de trabajos realizados independientemente unos de otros, constituye de suyo un argumento significativo en favor de esta teoría.”
1998: “Devido à sua razão e às diferentes operações intelectivas, que são próprias da natureza do homem considerado como tal (cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theológica, I-II, q. 71, a. 2), o homem é ‘por sua natureza capaz de chegar ao Criador’ (Fides et ratio, 8) ao contemplar a obra da criação, porque o Criador dá-Se a conhecer através da grandeza da Sua obra. A sua beleza e a interdependência das realidades criadas estimulam os sábios à admiração e ao respeito dos princípios próprios da criação.”
2000: “As responsabilidades éticas e morais unidas à investigação científica podem ser cultivadas, por isso, como uma exigência interna à ciência enquanto atividade plenamente humana, não como um controle, ou, pior, uma imposição, que chega a partir de fora. O homem de ciência sabe perfeitamente, do ponto de vista dos seus conhecimentos, que a verdade não pode ser negociada, obscurecida ou abandonada às livres convenções ou aos acordos entre os grupos de poder, as sociedades ou os Estados.”
2002: “Protegendo a sua autonomia legítima contra as pressões econômicas e políticas, resistindo às forças do consenso e da procura do lucro, comprometendo-se na investigação altruísta em ordem à promoção da verdade e do bem comum, a comunidade científica consegue ajudar os povos do mundo inteiro e servi-los como nenhuma outra estrutura.”
2003: “Os próprios cientistas descobrem, no estudo da mente humana, o mistério de uma dimensão espiritual que transcende a fisiologia cerebral e parece orientar todas as nossas actividades como seres livres e autônomos, capazes de responsabilidade e de amor, e dotados de dignidade.”
2004: “Os cientistas aproximam-se da natureza com a convicção de que estão a confrontar-se com uma realidade que eles não criaram, mas que receberam, uma realidade que se revela gradualmente à sua paciente investigação. Eles sentem muitas vezes apenas explicitamente que a natureza contém um Logos que convida ao diálogo. O cientista procura apresentar as justas interrogações acerca da natureza mantendo, ao mesmo tempo, uma atitude de receptividade humilde e até mesmo de contemplação no que se lhe refere.”
Pequeno merchan
Além de editor e blogueiro na Gazeta do Povo, também sou colunista de ciência e fé na revista católica O Mensageiro de Santo Antônio desde 2010. A editora vinculada à revista lançou o livro Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, uma compilação que reúne boa parte das colunas escritas por mim e por meus colegas Alexandre Zabot, Daniel Marques e Luan Galani ao longo de seis anos, tratando de temas como evolução, história, bioética, física e astronomia. O livro está disponível na loja on-line do Mensageiro.