Semana passada comentamos sobre as reações da Igreja Católica à entrega do Nobel de Medicina ao britânico Robert Edwards. Pois bem, no domingo passado o Boston Globe publicou uma reportagem de Naomi Riley sobre como os protestantes norte-americanos encaram a fertilização in vitro. Logo de cara, já ficamos sabendo que, entre os cristãos evangélicos dos Estados Unidos, a técnica costuma ser aceita, com mais ou menos nuances. Mas começam a surgir vozes pedindo por uma posição bem mais restritiva.
(antes de continuarmos, uma breve questão de nomenclatura: o que nós aqui costumamos identificar como “evangélicos” é chamado pelos americanos de “pentecostal”. O “evangelical” norte-americano é mais tradicional, sem tanta ênfase em manifestações visíveis do Espírito Santo, por exemplo)
Jennifer Lahl é diretora do Center for Bioethics and Culture Network, na Califórnia, e diz que, se os evangélicos são contra a manipulação de embriões para a obtenção de células-tronco, por uma questão de coerência também deveriam recusar a fecundação in vitro. Ambos os processos, ela argumenta, implicam na criação e destruição de vidas humanas. Na FIV, ainda por cima, o diagnóstico pré-implantação poderia ser visto como uma espécie de eugenia, ao determinar que embriões “viáveis” serão implantados e quais serão descartados.
A reportagem traz vários exemplos de como os cristãos evangélicos norte-americanos se posicionam em relação à FIV: entre a posição de Jennifer Lahl e a daqueles que aceitam todas as possibilidades que a medicina oferece, existem grupos com visões discordantes em relação a pontos como o uso de gametas de uma terceira pessoa, o diagnóstico pré-implantação ou o congelamento dos embriões excedentes. A falta de uma autoridade central ajuda a diversificar o panorama.
O que está em jogo, segundo Lahl, é a noção de que, se um filho é um presente de Deus, então qualquer meio que ajude nisso pode e deve ser empregado. Embora ninguém questione a primeira parte da sentença, a conclusão é controversa. Ao “noticiar” o Nobel de Edwards, o humorístico americano The Onion definiu a FIV como “a tecnologia que permite a casais inférteis não apenas ter um filho, mas também escolher o sexo e a cor dos olhos, em vez de, por exemplo, adotar uma das milhares de crianças deixadas órfãs por tsumanis e que precisam de um lar”. O que Lahl pede é uma moratória nos procedimentos de fertilização in vitro para que a técnica seja re-examinada, pesando seus prós e contras.
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