O Pew Research Center divulgou, na semana passada, mais uma pesquisa bem abrangente com a opinião dos norte-americanos sobre uma série de temas científicos, e fez diversos recortes, inclusive aqueles relativos à religião. Uma das conclusões a que o estudo chegou é que a religião está longe de ser o fator que mais se impõe na hora de influenciar as visões das pessoas sobre assuntos de ciência. Confiram o gráfico que aparece nesta página: em apenas dois temas (evolução e controle da população) a religião é um fator muito relevante na hora de “moldar” opiniões. Essa influência é média em sete assuntos (todos eles relativos a temas de bioética e mudanças climáticas) e, nos outros 14 temas, a importância da religião na hora de definir posições pessoais é pequena. Comparem esses números com os demais fatores pesquisados: filiação política e idade, por exemplo, batem de longe a religião como “definidora” de convicções sobre temas científicos. Mas, como nosso tema aqui é ciência e fé, vamos deixar de lado a política e comentar o que nos interessa.
Os resultados são muito curiosos: enquanto 59% dos entrevistados acreditam que, de modo geral, ciência e fé estão sempre em conflito, contra 38% que as consideram compatíveis, a coisa muda radicalmente de figura quando se pergunta se há conflito entre a ciência e as convicções religiosas do entrevistado. Aí, apenas 30% dizem haver conflito, contra 68% que não veem incompatibilidade nenhuma. Ou seja, o problema, pelo jeito, é a religião dos outros…
Algumas das conclusões da pesquisa parecem desafiar o senso comum. Por exemplo, são justamente os que vão a cultos religiosos com mais frequência os que menos veem incompatibilidade entre ciência e fé. A porcentagem dos que dizem haver conflito constante é de 50% entre os que vão a cerimônias religiosas pelo menos uma vez por semana, contra 54% dos que vão uma vez por mês ou por ano, e 73% dos que vão raramente ou nunca frequentam cultos religiosos.
A pesquisa também tem os números de acordo com a denominação dos entrevistados. Os grupos que mais tendem a dizer que ciência e religião, em geral, são compatíveis são os católicos hispânicos (50%) e os evangélicos brancos (49%). Apenas os protestantes negros (31%) e aqueles sem filiação religiosa definida (22%) ficaram abaixo da média nacional de 38%. Quando se trata de analisar as próprias convicções religiosas, há uma inversão considerável: os não afiliados são os que mais dizem não haver conflito entre a ciência e as próprias crenças (81%), seguidos pelos protestantes históricos brancos (78%). Todos os demais grupos ficam abaixo da média nacional de 68%.
Mas aí vem a pergunta: onde está o conflito? Eu costumo dividir o “conflito” em duas categorias. Uma delas é a disputa sobre fatos e descobertas científicas. Nesta categoria podemos incluir as controvérsias sobre evolução, sobre a origem e a idade do universo e da Terra, sobre a origem da vida no planeta. Nessa lista também podemos incluir temas como os milagres e o livre arbítrio. A outra categoria é a da oposição, por razões religiosas, a certas práticas ou técnicas desenvolvidas pela ciência. Aqui, poderíamos incluir a maioria dos temas de bioética (aborto, eutanásia, pesquisa com embriões, clonagem, vacinação etc.), manipulação genética de alimentos e coisas do tipo. E, a julgar pelas respostas da pesquisa, a primeira categoria é a principal fonte de conflito entre a ciência e as próprias crenças, pois 36% dos entrevistados citaram questões ligadas à criação do universo e à evolução. O segundo maior grupo (24%) reúne os que mencionaram temas como milagres, certos dogmas (a Imaculada Conceição foi nominalmente citada), a veracidade da Bíblia, se é Deus ou o homem que está “no controle”… só depois aparecem as controvérsias bioéticas, como aborto e início da vida (11%) ou certas práticas médico-científicas (7%). Nos próximos posts vamos destrinchar um pouco esses números.
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