A socióloga Elaine Ecklund, da Rice University, ficou famosa no círculo dos que acompanham o debate sobre ciência e fé quando publicou um estudo com vários cientistas norte-americanos a respeito de sua espiritualidade e de como eles viam esse diálogo. O blog já comentou essa pesquisa aqui e aqui (e também mencionou outros dois artigos dela aqui). Quando estava em Cambridge, tive a chance de levar pra casa seu livro Science vs Religion: what scientists really think, mas acabei enchendo a mala com outras obras.
Agora Elaine vai levar sua pesquisa para outros países. Ela recebeu uma bolsa de US$ 2 milhões da Fundação John Templeton para aprimorar seu estudo: desta vez serão entrevistados cerca de 10 mil físicos e biólogos de seis países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, Turquia e China, em diferentes estágios da carreira acadêmica e pertencentes às universidades de ponta em seus países. Escrevi à dra. Ecklund perguntando como foi feita a escolha dos países. “Eles têm tipos diferentes de relação entre o Estado e comunidades religiosas, diferentes níveis de infraestrutura em Biologia e Física, e todos são, de uma forma ou de outra, relevantes no cenário científico global. Também existe muita diversidade neste conjunto de países, que vai de nações católicas a protestantes, muçulmanas e seculares”, ela respondeu, acrescentando que muitos outros países, inclusive o Brasil, seriam de interesse para a pesquisa, mas o limite de fundos obrigou a uma escolha. No entanto, Elaine acrescentou, à medida que o estudo for sendo realizado, mais países podem ser incluídos.
Desse grupo inicial de 10 mil cientistas, 600 serão novamente entrevistados, de forma mais aprofundada. Um dos objetivos é descobrir semelhanças e diferenças na percepção do debate sobre ciência e fé de acordo com o país ou a região. “Esperamos, por exemplo, que a pesquisa nos mostre se os debates na Europa, por exemplo, são mais ou menos polarizados que nos Estados Unidos, e quem são as vozes relevantes nesse debate em cada país”, disse a socióloga no e-mail que me enviou. Parte dessas diferenças eu já pude perceber quando estive no México para o VI Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião: enquanto no mundo anglo-saxão a polêmica mais intensa se refere às origens do universo e do homem, na América Latina os temas mais quentes são os de bioética.
Assim como na primeira pesquisa, feita apenas nos EUA, este novo projeto também vai render um livro. A dra. Ecklund afirmou que a coleta de dados terminará em 2014, e a publicação deve sair em um intervalo de até dois anos após o fim das entrevistas. “Fiquei honrada com a recepção positiva que meu livro teve entre especialistas e o público geral nos Estados Unidos, e até no Reino Unido. Esse foi um dos fatores que motivou nossa equipe a ir além das fronteiras dos EUA e estudar a relação entre ciência e fé em outros países”, comentou, lembrando que seu time ainda conta com outros dois pesquisadores, Kirstin Matthews e Steve Lewis.
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