Quando escrevi sobre a encíclica ambiental do papa Francisco, a Laudato Si’, fiz dois comentários. No post sobre a expectativa em relação à divulgação do texto final, e como os cientistas estavam ansiosos por ver uma avaliação moral sobre a questão climática, comentei:
“Parece que agora a mesma comunidade científica que não dá a mínima para considerações morais quando se trata de destruir embriões, por exemplo, vai jogar confete no papa, mas quando ele voltar a falar da dignidade da pessoa humana desde a concepção até a morte natural, veremos muito cientista olhando para o lado e fingindo que não tem nada a ver com isso.”
Depois, no dia do lançamento do texto papal, já comentando o texto, lembrei:
“É por causa desse papel especial do ser humano dentro da criação que Francisco faz questão de apontar a hipocrisia daqueles que se dizem defensores do meio ambiente, mas tratam o ser humano como criatura de segunda categoria (91), favorecendo o antinatalismo (50), o aborto (120, 123) e a pesquisa com embriões humanos (117, 136). Lembram do que eu escrevi ontem aqui no blog, sobre a animação dos cientistas por ter uma ‘aprovação moral’ do papa para os alertas ambientais? Pois bem, vejamos se essa parte será recebida da mesma maneira por esses mesmos cientistas…”
Bom, parece que acertei na mosca. Lawrence Krauss, nosso velho conhecido aqui, o homem que não sabe o que é o “nada” (ou talvez saiba muito bem) e por isso teve de subverter o conceito para fazê-lo caber em sua ideologia, escreveu como blogueiro convidado no site da Scientific American. Primeiro, elogia a disposição do papa em usar dados científicos para fazer suas considerações sobre a necessidade de proteger o meio ambiente, mas depois passa a criticar Francisco exatamente pelos pontos que citei acima: a crítica do papa ao antinatalismo e à defesa do aborto. Para Krauss, a pregação doutrinal do papa pode comprometer toda a “parte boa” da encíclica por causa de “sua adesão a doutrinas que são baseadas em revelação, e não em ciência”. Ainda mais quando se trata de “doutrinas que emperram o verdadeiro progresso”. E Krauss usa isso para ressuscitar a velha tese de que ciência e religião são naturalmente adversárias, etc. etc. etc.
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