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Promover o conflito entre ciência e fé prejudica a economia?
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Manifestantes do Ocupe Wall Street entram em confronto com a polícia em 2011. Filósofo vê ligação entre a insistência no conflito entre ciência e fé e o fraco desempenho econômico americano recente. (Foto: Mike Segar/Reuters)

A pergunta parece meio nonsense, mas o libertário Kevin Vallier, professor de Filosofia na Bowling Green State University, em Ohio, acredita que a resposta é “sim”, a julgar pelo que escreveu no blog Bleeding Heart Libertarians.

Vallier combinou dois livros: The great stagnation, de Tyler Cowen, e Where the conflict really lies: science, religion and naturalism, de Alvin Plantinga (que eu tenho, mas ainda não li) para elaborar sua hipótese. A coisa funciona mais ou menos assim, explica Vallier: Cowen sugere que a maneira de tirar os Estados Unidos da “grande estagnação” é elevar o status social dos cientistas. Parece uma ótima ideia; afinal, se os cientistas não são prestigiados, menos gente talentosa seguirá a carreira científica, o que traz menos inovação (aliás, sobre esse tema, confiram uma ótima reportagem da Economist, debatendo se estamos mesmo numa entressafra ou se os grandes saltos já foram todos dados e agora só temos como incrementar o que já existe) e menos crescimento.

O diagnóstico leva à seguinte pergunta: o que fez os cientistas perderem status social? É aqui que entra Plantinga. Ele defende que não existe contradição entre a religião e a ciência, mas existe, sim, um conflito entre a religião e o naturalismo, definido por Plantinga como “a noção de que não há Deus ou algo parecido”, na descrição de Vallier. Ele mesmo dá uma outra definição de naturalismo que muito parecida com o que chamamos de cientificismo: a crença de que tudo o que existe pode ser descrito pela ciência.

Toda a controvérsia em torno da evolução ao longo do século 20 nos Estados Unidos levou a uma certa antipatia em relação à teoria de Darwin porque muitos de seus defensores associavam a evolução ao naturalismo, explica Vallier. Essa antipatia se estendeu à ciência como um todo (reparem que entre os céticos do aquecimento global existem muitos que atacam a evolução). Nas palavras de Plantinga, essa associação levou a “uma consequente erosão do apoio à ciência”. À medida que o ateísmo militante insiste na tese de que evolução e religião não são compatíveis, ou que é preciso escolher entre Darwin e Deus (ou, de forma mais ampla, entre ciência e religião), Dawkins e companhia afastam gente religiosa da ciência. Afinal, coloque-se no lugar de alguém com uma fé profunda: se fosse obrigado a escolher, você preferiria ser herege (e arriscar sua salvação eterna) ou ser burro (sendo ridicularizado nessa vida, mas provavelmente recompensado depois)?

Pois então: essa dicotomia ilusória (porque é possível, sim, abraçar a ciência e a fé, por mais que Dawkins e companhia digam que você não pode fazer isso) afasta os religiosos da ciência; eles passarão essa desconfiança para seus filhos e seu círculo de influência. Com isso, muita gente inteligente e talentosa, e que também tem fé religiosa, vai rejeitar a possibilidade de uma carreira nas ciências. Mesmo que o Little John Doe nunca chegasse um dia a ser um Lemaître, um Francis Collins ou um Jerôme Lejeune, pelo menos poderia dar sua contribuição ao avanço científico e tecnológico. Mas não; como algum ateu militante enfiou na cabeça dele ou dos seus pais que a ciência leva ao ateísmo, o Little John Doe vai acabar como a velhinha que morreu sem saber que era uma das maiores violinistas do planeta, como diz a matéria do humorístico The Onion.

Vallier e Plantinga, no entanto, atacam apenas uma parte do problema. Não é apenas a insistência no discurso de conflito entre ciência e fé que abalou o status social dos cientistas. Em Unscientific America, Chris Mooney e Sheril Kirshenbaum fizeram um diagnóstico mais completo, que inclui também aspectos políticos e culturais, além de uma certa autofagia dos próprios cientistas.

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