O blog sobre meio ambiente e energia do New York Times publicou ontem um post sobre um protesto ocorrido em Washington. Segundo o texto, “ciência e religião se deram as mãos na terça-feira quando líderes dos dois mundos se reuniram diante da Casa Branca para reclamar do que descreveram como falta de ação governamental a respeito das mudanças climáticas”. Mas quem ler o post inteiro perceberá que só foram entrevistados líderes religiosos; nenhum cientista é mencionado no texto. A única referência à ciência vem da frase de Bob Coleman, da Riverside Church nova-iorquina, sobre o evento ser um “reconhecimento de que a ciência é parte de nós, parte de nosso dia a dia”.
A manifestação teve a participação de líderes religiosos judeus, muçulmanos, cristãos, budistas, hinduístas, sikhs e de grupos indígenas norte-americanos. Enfim, um ótimo exemplo de cooperação inter-religiosa. Mas o post do NYT dá uma leve escorregada ao afirmar que a preocupação ambiental e a conscientização sobre o “papel dos seres humanos como guardiões do planeta” são temas populares entre congregações progressistas. O discurso sobre a preservação do meio ambiente já está faz tempo na boca também de gente que ninguém descreveria como “progressista”, como os papas João Paulo II e Bento XVI.
Aqui no Tubo já citamos vários exemplos não apenas de discursos, mas de ações voltadas à preservação do planeta lideradas por grupos das mais variadas religiões. E, apesar de o evento de Washington pedir mais ação governamental, parece-me que os grupos religiosos poderiam aproveitar ainda mais um princípio cujo desenvolvimento teve participação decisiva da Doutrina Social da Igreja: o da subsidiariedade, que enfatiza a ação local, e deixando que as esferas superiores de organização social só intervenham quando as esferas inferiores forem incapazes de solucionar determinado problema. Assim, incentivos a práticas ambientalmente responsáveis serão mais eficazes se vierem das lideranças religiosas e comunitárias locais. A causa da preservação ambiental é, definitivamente, um campo em que cientistas e religiosos podem e devem cooperar.
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