Que o ateísmo histriônico do biólogo Richard Dawkins é contraproducente para a ciência é algo que os próprios cientistas já vêm afirmando há muitos anos. Ao associar a Teoria da Evolução ao ateísmo, ele conseguiu elevar a adesão dos britânicos ao criacionismo e ao Design Inteligente; ao defender a incompatibilidade entre a fé religiosa e a aceitação dos fatos científicos, forçando as pessoas a escolher entre uma e outra, ele estimula muita gente a rejeitar a ciência como um todo. Mas quem poderia imaginar que Dawkins e sua mais famosa apologia do ateísmo, Deus, um delírio, também estariam ajudando gente a (re)encontrar a fé e se tornar cristã?
O também biólogo Denis Alexander (diretor emérito do Instituto Faraday para Ciência e Religião, da Universidade de Cambridge) e o teólogo e biofísico Alister McGrath (provavelmente o principal nome da atualidade no diálogo entre ciência e fé) compilaram 12 histórias dessas em Coming to faith through Dawkins. Trata-se de um grupo bastante diverso em termos de origem geográfica e formação acadêmica – há cientistas, mas também pessoas das humanidades e do mundo das artes. As jornadas pessoais também são diferentes: há os que cresceram em lares profundamente cristãos, mas um dos autores chegou até a frequentar “colônias de férias comunistas” quando criança (mandado pelos pais).
Também a falta de fé veio por vários caminhos: herdada de casa, resultado de inquietação intelectual, motivada por uma tragédia familiar, pela rebeldia adolescente ou pelo desejo hedonista de viver como se Deus não existisse. O que todos têm em comum é o fato de o Novo Ateísmo, movimento iniciado no começo do milênio, ter contribuído para despertar ou intensificar, em algum momento, essa ausência de fé religiosa – mas, em um segundo momento, esse mesmo Novo Ateísmo, e tudo o que ele proclama, acabou disparando uma busca mais profunda pela verdade que, para todos os 12 autores, terminou com a conversão ao cristianismo.
Quem poderia imaginar que Dawkins e sua mais famosa apologia do ateísmo, “Deus, um delírio”, também estariam ajudando gente a (re)encontrar a fé e se tornar cristã?
Essa busca assumiu várias facetas. Houve casos em que a primeira suspeita de que havia algo errado veio pelo tom excessivamente agressivo e de profundo desprezo em relação a qualquer pessoa com fé – alguns fizeram questão de diferenciar o brilhante “Dawkins cientista” do tosco “Dawkins militante ateu”. Outros coautores se incomodaram com a fake history propagada pelos expoentes do Novo Ateísmo em seus livros. Para alguns, a visão de mundo ateísta começou a ruir diante da superficialidade das afirmações sobre moralidade – e aqui eu destaco especialmente um relato, o da historiadora australiana Sarah Irving-Stonebraker, para quem o clique veio após uma palestra do filósofo e bioeticista Peter Singer (que eu, particularmente, considero uma das mentes mais diabólicas das últimas décadas), que lhe mostrou até onde a ausência de parâmetros morais objetivos poderia levar.
Uma vez que as evidentes fragilidades do Novo Ateísmo deixaram os coautores com a pulga atrás da orelha, cada um deles trilhou o próprio caminho em sua busca pela transcendência, seja de forma bastante relutante, seja com mais confiança; para alguns, a rota até um cristianismo convicto foi quase uma linha reta, mas para outros foi bastante sinuosa, com passagens pela espiritualidade oriental e até mesmo pelos alucinógenos. Mas, no fim, o ponto de chegada foi o mesmo para todos eles, muitos dos quais contaram com a ajuda de valiosos companheiros de jornada, como Joseph Ratzinger (com sua indispensável trilogia Jesus de Nazaré) e os mais frequentemente citados C.S. Lewis (para surpresa de ninguém) e William Lane Craig. Um dos coautores, Peter Byron, chegou a viralizar na internet quando teve a chance de perguntar a Richard Dawkins por que ele não aceitava debater com Craig; a resposta evasiva do biólogo, é claro, chacoalhou ainda mais a falta de fé de Byrom.
O título do livro esconde uma metonímia. Nem todos os 12 coautores tiveram seu ateísmo reforçado e depois desafiado por causa de Richard Dawkins ou, mais especificamente, de Deus, um delírio – um deles mal cita o biólogo britânico, lembrando que seu “herói ateísta” era Christopher Hitchens. O “Dawkins” do título está mais para um sinônimo de “ateísmo militante”, mas todos haveremos de perdoar Alexander e McGrath por querer chamar a atenção do leitor recorrendo ao mais famoso dos ateus modernos, e que nem nos seus piores pesadelos gostaria de ver seu trabalho levando ao menos algumas pessoas não a perder sua fé, mas a encontrá-la ou recuperá-la. Quem sabe um dia não chegue a sua vez.
Pesquisador brasileiro recebe principal prêmio do mundo em psiquiatria e espiritualidade
Esqueçam a Fernanda Torres e Ainda estou aqui; o Brasil acaba de ganhar o Oskar, com K. No caso, o Prêmio Oskar Pfister, concedido pela Associação Americana de Psiquatria (APA, na sigla em inglês) a pessoas que oferecem contribuições relevantes na relação entre psiquiatria e espiritualidade. Os ganhadores de anos anteriores incluem personalidades que transcenderam completamente o campo, tornando-se mundialmente conhecidas, como Oliver Sacks e Viktor Frankl. E quem se junta a esse grupo é alguém cujo trabalho o leitor do Tubo de Ensaio conhece bem: o psiquiatra brasileiro Alexander Moreira-Almeida, diretor do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Para mim é uma honra enorme, não só por se tratar do principal prêmio do mundo neste campo, mas especialmente porque pessoas fundamentais nesta área, pessoas que me inspiraram, como Viktor Frankl, Robert Cloninger, Harold Koenig e Ken Pargament, também já receberam o Oskar Pfister”, disse Moreira-Almeida ao Tubo de Ensaio. A carta comunicando o pesquisador brasileiro sobre a premiação não menciona nenhum trabalho específico, mas Moreira-Almeida arrisca algumas possibilidades. “De certo, só sei que fui indicado pelo professor Francis Lu, da Universidade da Califórnia. Talvez tenha tido a ver com a carreira como um todo, especialmente com nosso trabalho à frente da Seção de Espiritualidade, Religiosidade e Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria por dois mandatos, quando nós publicamos uma diretriz sobre integração de espiritualidade na prática psiquiátrica, na pesquisa e no ensino. Mas a premiação também pode ter considerado as nossas pesquisas feitas sobre o entendimento das experiências espirituais como um todo”, afirmou.
Moreira-Almeida ainda lembrou “as centenas de colaboradores, alunos e pesquisadores” que trabalharam e trabalham com ele, dentro e fora do Nupes, e disse que a escolha de seu nome é também uma demonstração do protagonismo do Brasil neste campo. “Somos hoje o quinto país no mundo que mais produz na área de espiritualidade e saúde, e o prêmio, concedido pela primeira vez a um latino-americano, é um reconhecimento do trabalho que vem sendo feito aqui”, disse. Ele receberá o prêmio no encontro anual da APA, em maio deste ano, em Los Angeles.
Falando nisso, você já fez sua inscrição no CoNupes deste ano? Ainda dá tempo!
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