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Ser burro ou ser herege: é preciso escolher?
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Post interessante hoje no blog Intersections, dos escritores Chris Mooney e Sheril Kirshenbaum, coautores de Unscientific America, livro que está na minha lista de coisas que lerei em breve. O texto é dirigido principalmente a quem gosta de dizer em altos brados que religião e ciência são totalmente incompatíveis. O que Mooney diz é: se você quer que as pessoas deem valor à ciência, deveria ter mais cuidado com o que diz.

Os Estados Unidos estão coalhados de entidades científicas; no Brasil, parece que o mais próximo que temos disso é a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Mooney se pergunta que posição essas entidades deveriam tomar no debate sobre a relação entre ciência e fé. Os ateístas militantes dizem que essas organizações deveriam silenciar completamente, afinal ciência e religião não se misturam, e uma organização científica não tem nada a dizer sobre religião.

Mas Mooney diz que essa posição é contraproducente. No longo prazo, ela inclusive fará mal à ciência. O blogueiro explica o porquê: inevitavelmente, cientistas e professores de ciências terão de lidar, mais cedo ou mais tarde, com pessoas religiosas. E essas pessoas religiosas provavelmente já ouviram, em alguma ocasião, os Dawkins da vida dizerem, por exemplo, que a teoria da evolução é incompatível com a fé religiosa, ou que a ciência em geral leva ao ateísmo.

Essa atitude força uma polarização: ou você está com a ciência, ou você está com a religião. Só que a experiência comprova uma coisa: entre ser burro ou ser herege, qualquer um que tenha uma religião preferirá ser burro. Se forem forçadas a escolher entre as descobertas da ciência e o que diz a sua fé, sem possibilidade de conciliação entre ambas, as pessoas tendem a ficar com o que diz a sua fé. “E daí se todo mundo ri de mim quando eu digo que a Terra tem 6 mil anos? Pelo menos eu não vou pro inferno”, pensa o camarada. Agora, imaginem milhões de pessoas fazendo isso: é um golpe mortal na comunidade científica. Então, um primeiro conselho aos cientistas ateus seria evitar a polarização: inevitavelmente a ciência sairá perdendo. Ninguém devia ser forçado a escolher entre ser burro ou ser herege.

Joel Mozart
A existência de cientistas e religiosos que conciliam ciência e fé é um fato e não deveria ser ignorado.

O que fazer, então? Mooney apresenta uma saída. Você pode até acreditar em tese que ciência e religião sejam incompatíveis; mas não pode negar que existem muitas pessoas, tanto no campo da ciência quanto da religião, que defendem essa compatibilidade. Isso é fato. Então é o que as organizações de cientistas devem fazer: em vez de não falar nada sobre o assunto, podem simplesmente mostrar que sim, há pessoas que conseguem aceitar a evolução e ser bons cristãos; que vão à igreja e pesquisam o Big Bang; e por aí vai. Só isso já bastaria para remover um bloqueio que impede pessoas religiosas de abraçar as descobertas científicas.

É uma posição pragmática? Sim, é. A maioria dos ateus militantes prefere ser, digamos, “autêntica”, partindo para o confronto aberto e estimulando a polarização. Mas essas pessoas deviam se perguntar o que, afinal, vem em primeiro lugar: promover a ciência ou destruir a religião? Quem prioriza o avanço da ciência deveria, segundo Mooney, botar a agressividade de lado e adotar esse pragmatismo que, no longo prazo, será altamente benéfico para a ciência.

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