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Um amigo que mora no Rio chamou minha atenção para uma entrevista que o jornal O Globo publicou no sábado passado, com o astrônomo Guy Consolmagno, do Observatório Vaticano. Não sei se por sugestão da própria repórter ou do editor de Ciência do jornal, a entrevista saiu com o título “A secular ciência do Vaticano”, com um duplo sentido interessantíssimo, já que “secular” não apenas faz referência ao fato de a Igreja Católica estar envolvida na pesquisa científica desde muito tempo atrás; o termo também é usado para designar aquilo que, digamos, “está no mundo” (como em “clero secular”, para os padres diocesanos, que trabalham em paróquias, em oposição a “clero regular”, que se afasta do mundo para viver em mosteiros ou outras casas de congregações religiosas), mostrando que a Igreja, ao promover uma ciência que “está no mundo”, dialoga com ele, em vez de se entrincheirar.

O bate-papo serve para desfazer certos preconceitos que as pessoas têm quando o tema é a relação entre a Igreja Católica e a ciência, e Consolmagno (que, até onde eu sei, é irmão leigo jesuíta, e não padre como diz a entrevista) refuta a noção de que a ciência um dia tornará a religião irrelevante ou a substituirá por completo. Nisso ele segue os passos do ex-diretor do Observatório, padre George Coyne, que repetidas vezes (inclusive em uma entrevista ao Tubo) lembra que Deus não é um “Deus de explicação”, mas um Deus de amor que sustenta o universo com Sua vontade. Consolmagno vai retomar esse raciocínio mais para o fim da entrevista, quando é perguntado sobre o “Deus das lacunas”, embora eu tenha ficado com a impressão de que a repórter não entendeu muito bem o “não impacto” que a descoberta do bóson de Higgs tem sobre a crença religiosa.

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Não podiam faltar perguntas sobre Galileu, sobre evolução e sobre alienígenas (até porque Consolmagno já disse coisas bem interessantes sobre a possibilidade de vida inteligente fora da Terra). Só achei que ele poderia ter dado mais detalhes a respeito do caso Galileu, em vez de ter ficado apenas no “é mais complicado que a versão popular”, o que está correto, mas seria interessante que ele tivesse dado exemplos de onde reside essa complicação. E também faltou pesquisa à repórter quando ela afirma que “A posição do Vaticano sobre a teoria da evolução de Darwin mudou ao longo dos tempos”, no que foi prontamente corrigida por Consolmagno, que ainda deu uma boa resposta sobre o tema.

Para encerrar, deixo aqui a última pergunta da entrevista e a resposta do astrônomo jesuíta:

Como o senhor vê o futuro da relação entre ciência e religião?
Nós fazemos ciência porque somos seres humanos com motivações humanas…. cães e gatos não fazem ciência. Essas motivações incluem curiosidade, desejo de saber, vontade de entender e um deleite em participar do Universo. Eu acredito, e acho que muitos cientistas também pensam da mesma forma, que essas motivações são, em última análise, religiosas. Mas pessoas ignorantes sempre vão tentar criar conflitos em nome de seus próprios objetivos pessoais. Pessoas sábias sempre saberão como ignorá-los.

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O Diário de Antonio concorre em “Variedades / blogs pessoais” (vote)

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O Ir e vir de bike concorre em “Variedades / blogs profissionais” (vote)

O Uma família brasileira na China concorre em “Viagens e Turismo / blogs pessoais” (vote)

O CWB Live concorre em “Música / blogs profissionais” (vote)