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Quando o tema é ciência e religião, um dos livros que tem causado mais debates nos Estados Unidos atualmente é Signature in the cell, de Stephen Meyer, um defensor do Design Inteligente. O livro foi mencionado de passagem por Karl Giberson na entrevista que ele deu ao Tubo em novembro do ano passado.

Desde o seu lançamento, houve uma série de resenhas, que por sua vez levaram a réplicas e tréplicas, tanto do autor como dos autores das resenhas e das pessoas citadas no livro ou nos textos que se seguiram. Uma resposta em particular, publicada em 12 de janeiro no blog da Fundação BioLogos, me chamou a atenção. Nela, o prêmio Nobel de Medicina de 2009, Jack Szostak, fala da busca pelas respostas sobre a origem da vida. Esse é um dos temas em que se costuma apelar para o “Deus das lacunas”, aquela divindade que aparece para preencher os espaços quando a ciência ainda não consegue dar uma explicação convincente para certo processo natural. Confiram um trecho do seu texto, em tradução livre minha:

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O fato é que existem muitas etapas que anda não entendemos no caminho que vai dos elementos químicos até o surgimento da vida. Para mim, e acredito que também para você, essas etapas devem ser reveladas por questões científicas que devem ser respondidas usando o método científico. É difícil para mim entender como se usam lacunas na nossa compreensão para servir de base ou apoio para qualquer tipo de crença religiosa. À medida que essas lacunas vão sendo preenchidas, a base daquela crença desapareceria. Por que alguém basearia suas convicções religiosas em uma base tão frágil?

À medida que a ciência avança e nosso entendimento cresce, as religiões devem ou se adaptar à mudança ou entrar em uma espiral de negação, como fazem os criacionistas de Terra jovem ou os movimentos de Design Inteligente. Concordo com você que esse tipo de negação é perigoso; negar a realidade é extremamente ruim para o futuro de nosso país (e do mundo). O fato de muitas pessoas buscarem liderança moral em pessoas que deliberadamente negam a realidade é assustador.

Embora Szostak não acredite na compatibilidade entre ciência e fé, o biólogo não podia ter sido mais feliz na sua avaliação sobre o “Deus das lacunas”: ele não só é perigoso para a ciência, como também é perigoso para a própria fé. Perigoso para a ciência porque desestimula as pessoas a buscar a verdadeira resposta às questões sobre o universo em que vivemos; perigoso para a religião porque não se pode basear uma fé nesse tipo de ignorância. Afinal, o processo é exatamente o descrito por Szostak: se as pessoas têm um Deus que só “entra em ação” quando a ciência não tem resposta para algo, esse Deus desaparece à medida que as respostas científicas aparecerem. Em resumo, a busca por Deus é totalmente legítima e meritória; só não é nos buracos que vamos encontrá-Lo.

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Aproveito para lembrar que amanhã este blogueiro estará no programa Escola da Fé, da TV Canção Nova, falando sobre ciência e religião, cobertura da Igreja Católica na imprensa e outros assuntos. Ao vivo, às 20h30.

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