• Carregando...
Um resumo de Minneapolis
| Foto:

Como comentei no início do mês, entre 8 e 12 de setembro estive em Minneapolis para a conferência anual da Religion Newswriters Association. O programa foi bem abrangente, incluindo mesas-redondas sobre temas como Hinduísmo, música nas igrejas, perfil religioso de imigrantes e movimentos emergentes. O evento superou totalmente minhas expectativas, tanto nos temas tratados quanto na oportunidade de conhecer colegas que trabalham com religião (vários deles exclusivamente) há vários anos. Mas o que nos interessa em especial aqui no Tubo de Ensaio é a pré-conferência, um programa opcional que teve como tema Espiritualidade e Saúde: um workshop para jornalistas para compreender a relação entre fé, cultura e saúde, patrocinado pelo Fetzer Institute e pelo Center on Religion and the Professions. As palestras tomaram a tarde do dia 9 e a manhã do dia 10 de setembro.

Quem abriu a pré-conferência foi a professora Anne Harrington, da universidade de Harvard. Em sua apresentação, “Espiritualidade faz bem para a saúde?”, ela contou que nos Estados Unidos cerca de 70 faculdades de Medicina já adotaram no currículo disciplinas sobre espiritualidade e sua ligação com a saúde. Isso inclui universidades de prestígio como Harvard e Duke. Anne citou uma reportagem do New York Times e outra da Newsweek (que não consegui achar online) sobre a conexão entre budismo e saúde, e em seguida passou a expor diversos estudos mostrando ligação entre uma boa saúde e uma vida espiritual desenvolvida. Quem vai mais à igreja (ou sinagoga, mesquita, templo etc.) com frequência tem menos problemas cardíacos e tem maior expectativa de vida; além disso, a saúde de uma pessoa pode se beneficiar da religião pois ela dá suporte social (coisa que outros grupos, não necessariamente religiosos, também fazem), promove hábitos menos, digamos, “arriscados” e não incentiva certas porralouquices. Anne também lembrou que a meditação reduz os níveis de estresse, mas alertou para o fato de que alguns desses fatos apresentados poderiam ser usados por grupos interessados em promover suas próprias agendas em casos controversos, como a questão sobre a oração com (ou por) médicos, por exemplo antes de uma cirurgia.

Em seguida, tivemos uma ótima palestra com o reverendo David Berg, que falou de sua experiência como capelão de hospitais e professor universitário. Segundo Berg, os dois dias mais importantes da vida de uma pessoa, o do nascimento e o da morte, foram “medicinalizados”, ignorando-se as características e valores essenciais da pessoa, e que os profissionais de saúde por muito tempo perderam a noção dos valores dos pacientes porque só se interessavam pelo aspecto somático. Berg nos contou muitas histórias interessantes sobre tradições indígenas norte-americanas, e como ele vinha lutando para que pudesse haver um maior respeito a essas tradições na prática médica.

Marcio Antonio Campos/Gazeta do Povo
Barbara Greene fechou a pré-conferência falando sobre cuidados no fim da vida.

A apresentação seguinte, de Joan Hellyer e Joel Wu, ambos da Mayo Clinic, foi a única que deixou a desejar, e não por culpa deles. Eles fariam uma introdução à Bioética, mas na minha opinião não tiveram tempo suficiente para elaborar sobre o assunto. Pelo menos pude perceber que vários colegas que cobrem religião ainda não estavam familiarizados com conceitos como os princípios da Bioética. Acho que foi mais proveitoso para eles que para mim. Mas pude conhecer outras histórias curiosas, como a de duas famílias no Nebraska que não deixaram seus filhos passarem pelo teste do pezinho (uma era de cientologistas e outra, de um grupo indígena). Apesar de um dos princípios da Bioética ser o da autonomia, as duas perderam na Justiça, já que também estava em jogo o bem das crianças.

Quem fechou a noite de quarta-feira foi o médico Greg Plotnikoff, diretor médico do Center for Spirituality and Healing, uma experiência médica inovadora em Minneapolis, que conjuga os cuidados médicos com uma forte ênfase nos cuidados espirituais e mentais. Ele apresentou um estudo muito interessante sobre os efeitos da meditação no perfil genético das pessoas. Atualmente estou lendo o PDF e pretendo fazer um post apenas sobre esse assunto mais tarde. Plotnikoff lembrou que, enquanto a maioria das pessoas “quer que o médico as conserte”, existe um chamado “cuidado primário gratuito” que se resume a comer direito, fazer exercício e fazer boas escolhas (e a religião podia ajudar pelo menos nesse último ponto).

A manhã de quinta-feira teve o encerramento da pré-conferência com a participação de Barbara Greene, do Hospice Minnesota, que falou sobre os cuidados no fim da vida. Barbara contou que esse tipo de cuidado poucas vezes leva em consideração as particularidades étnicas e religiosas das pessoas (bem em linha com o que o reverendo Berg tinha dito no dia anterior), e que isso precisava ser mudado. Entre outros assuntos, ela abordou as mudanças na religiosidade entre pessoas que estão em seus últimos dias de vida, e como as equipes de saúde deveriam estar preparadas para lidar com isso. Também foi uma apresentação que infelizmente teve pouco tempo para a profundidade do assunto.

Fazendo uma avaliação geral, considerei essa pré-conferência muito produtiva. Com certeza ela renderá algumas pautas para o Tubo, ou no mínimo novas fontes para consultas futuras sobre vários assuntos. Foi uma tremenda bola dentro da RNA trazer temas de ciência e religião para os jornalistas, já que o assunto é muito rico e, pelo que percebi, não eram todos os presentes que tinham familiaridade com esses temas.

——

Não se esqueçam de acompanhar o Tubo de Ensaio no Twitter!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]