Na segunda-feira, enquanto a maioria de nós estava curtindo um feriadão, o Huffington Post publicou mais um texto interessante, uma reportagem de Steve Paulson mostrando que as questões relativas à moralidade podem providenciar uma redefinição das linhas que separam ciência e religião.
Paulson parte de dois lançamentos recentes, o já comentado aqui The grand design, de Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, e The moral landscape, do neurocientista Sam Harris. Ele alega que a moralidade pode ter fundamentos biológicos, e a partir daí Paulson dá outros exemplos de questões que a ciência resolveu tentar responder nos últimos anos.
No fundo, estamos aqui diante de uma crítica ao conceito de Magistérios Não Interferentes (Noma, na sigla em inglês), de Stephen Jay Gould. Só recordando, o conceito foi popularizado pelo livro Pilares do tempo e propõe uma espécie de “cada um no seu quadrado”, como já tive oportunidade de dizer aqui: a ciência cuida do mundo físico, e deixemos as perguntas sobre moralidade para a religião. Assim um não invade o terreno do outro. O trabalho de Harris, diz Paulson, é um exemplo de que o muro criado pelo Noma está desabando.
Quem leu minha resenha sabe que não sou assim um grande fã do Noma. Continuo achando que é um ótimo começo para quem defende a incompatibilidade total entre ciência e fé, mas ainda assim é um conceito incompleto. Na reportagem, alguns entrevistados atribuem o Noma a um certo pragmatismo de Gould, que não queria isolar os religiosos que aceitam a evolução como proposta por Darwin. Paulson mostra que tanto ateus militantes quanto religiosos não se sentem totalmente confortáveis com a ideia dos Magistérios Não Interferentes. Os ateus, porque negam qualquer possibilidade de coexistência entre ciência e fé; os religiosos, entre os quais eu me incluo, acreditam que, em vez de isolamento, pode haver cooperação. E eu vejo a neurociência justamente como um desses campos.
O Tubo de Ensaio se classificou para a segunda fase do prêmio Top Blog, na categoria “Religião”. Nesta nova etapa, a votação popular recomeça do zero. Continuo contando com o voto de vocês!
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