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O japonês Shinya Yamanaka e o britânico John Gurdon receberam o Prêmio Nobel de Medicina deste ano por suas pesquisas com células-tronco. Uma das descobertas de Yamanaka, por exemplo, foi como criar células-tronco pluripotentes induzidas a partir de células comuns, já especializadas. A Gazeta do Povo usou o texto da AFP; vocês podem conferir outras reportagens sobre o tema na Economist, no Estadão, no UOL, na Science e na Nature. Acho que dá para ter uma boa ideia sobre no que consistem as pesquisas, certo?

Se em 2010 o Vaticano criticou a decisão do comitê do prêmio, esse ano o cardeal Elio Sgreccia, presidente emérito da Pontifícia Academia para a Vida, não cabe em si de contentamento, segundo o site Vatican Insider, do jornal italiano La Stampa. E não tinha como ser diferente; afinal, a pesquisa com essas células-tronco mostra que não é necessário destruir embriões para conseguir avanços significativos em terapia regenerativa. Na mesma reportagem do Vatican Insider, o professor Lucio Romano, presidente da Associação Italiana Ciência e Vida, lembra que a Igreja Católica sempre apoiou a pesquisa com células-tronco adultas.

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Aqui é preciso ressaltar um ponto importante. É tentador usar também o argumento do “células-tronco embrionárias até o momento não deram em nada, enquanto as células-tronco adultas já estão curando doenças”; ele pode servir para uma série de coisas, inclusive para decidir financiamentos, mas ele não serve na nossa reflexão sobre ciência e fé. Afinal, mais cedo ou mais tarde as pesquisas com embriões podem, sim, dar resultados. Só que nem por isso elas serão eticamente menos controversas ou menos condenáveis. A objeção a esse tipo de pesquisa decorre da necessidade de destruir seres humanos no processo, e não da existência ou ausência de resultados práticos.

Um detalhe interessante é que a Mayana Zatz, queridinha da imprensa brasileira quando o assunto é o uso de células-tronco, fez pouco caso dessa pesquisa em 2008, enquanto fazia chantagem emocional para conseguir a aprovação da pesquisa com embriões no Supremo Tribunal Federal. Até a publicação deste post, ela não tinha se manifestado a respeito do Nobel no Twitter, até porque está em viagem.

Atualizado em 10/10: Mayana Zatz se limitou ontem a dizer “Muito merecido o premio Nobel a Yamanaka pela descoberta das céls-tronco (sic) reprogramadas IPS.” Só para lembrar o que ela falou da mesma pesquisa em 2008 (está no link acima): “Todos se lembram que dois grupos de pesquisadores, do Japão e dos Estados Unidos, reportaram recentemente que células adultas – da pele, por exemplo – poderiam ser reprogramadas para se comportarem como as embrionárias. Para isso seria necessário inserir um vírus com quatro genes específicos e teoricamente essas células iriam adquirir as mesmas características das embrionárias. Sabemos que isso não é verdade.” (o destaque é meu)

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