Está confirmadíssimo: Buenos Aires, a capital argentina, será a sede do VIII Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião, que ocorrerá entre 20 e 22 de outubro. A informação é do padre Lucio Florio, presidente do conselho de administração da Fundação Diálogo entre Ciencia y Religión (DeCyR). É a terceira vez que o evento ocorre na Argentina, e a segunda em Buenos Aires (o Brasil foi sede do VII Congresso, em 2012, no Rio).
O tema deste ano será “A sacralidade da vida em uma terra habitável para todos” e, além da DeCyR, participam da organização do evento a Universidade Popular Autônoma do Estado de Puebla (Upaep), no México (que também tem um instituto de ciência e fé, o Cecir), e o Instituto Elie Wiesel, do Seminário Rabínico Latino-americano Marshall T. Meyer — o congresso ocorrerá exatamente neste seminário.
De acordo com o material prévio a que tive acesso, o objetivo principal do evento é discutir a questão da convivência e da condição humana em uma época no qual o progresso científico e tecnológico proporciona diversas melhorias ao ser humano, mas também torna possível a destruição do próprio ambiente em que vivemos. “O dom da vida engloba uma pluralidade assombrosa de seres dos quais nos sentimos interdependentes e guardiões (cf. Salmo 8); de modo particular, compreende o próximo”, diz o texto introdutório. “A alta complexidade destes desafios exige necessariamente uma abordagem interdisciplinar e um intercâmbio entre os diversos campos da pesquisa. Ao mesmo tempo, esta tarefa de diálogo precisa de outros estratos do conhecimento não exclusivamente científicos ou tecnológicos (…) as disciplinas vinculadas ao pensamento filosófico e religioso parecem ser convocadas quando questões bioéticas e ecológicas se transformam em algo urgente, que escapa aos próprios limites impostos pelo método particular e modificam abertamente as bases da vida de cada indivíduo e do planeta, colocando em risco o próprio futuro da humanidade”, diz, ainda, o texto.
Ainda não há uma programação definida, mas sabe-se que o congresso terá palestras, apresentações individuais, pôsteres, painéis, criações artísticas e vídeos. Em breve teremos os detalhes para os interessados em participar, mas já temos os assuntos das sessões, agrupadas no tema “criação e finitude: a natureza e o lugar do ser humano”. A sessão 1 tratará de “biodiversidade e meio ambiente”; a sessão 2, de “vida humana”; a sessão 3 será sobre “imaginando a sustentabilidade do lar comum para as gerações futuras”; e a sessão 4 tem como tópico a “história da vida”.
Como católico, não posso deixar de ver na escolha do tema um reflexo da pregação do papa Francisco, que tratou com muita ênfase do tema da sustentabilidade (mas também vejo ecos de Bento XVI, que alertava contra uma preocupação ambiental que não levasse em conta a prioridade do ser humano). E não é à toa que uma das pessoas mais entusiasmadas com o congresso, segundo o padre Florio, seja o rabino Abraham Skorka, um grande amigo do pontífice. Skorka, aliás, tem doutorado em Química pela Universidade de Buenos Aires e tem artigos publicados nessa área. No livro Sobre o céu e a terra (lançado no Brasil assim que Jorge Bergoglio foi eleito papa), Skorka e o então arcebispo de Buenos Aires dedicaram um capítulo à ciência, e também falaram um pouco do tema em Razão e fé, um livrinho pertencente a uma série de conversas que também incluiu o presbiteriano Marcelo Figueroa. Comentei ambos em junho do ano passado.
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