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“Você sente que está certo disso?”
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Dois textos publicados recentemente, um no blog 13.7, da National Public Radio norte-americana; e outro no Huffington Post, lidam com as razões pelas quais as pessoas não conseguem aceitar a teoria da evolução. O brasileiro Marcelo Gleiser, um dos colaboradores do 13.7, ressuscita uma pesquisa do Gallup segundo a qual o nível de educação e a religiosidade da pessoa são fatores que influenciam sua aceitação das ideias de Darwin. Mas uma pesquisa da Ohio State University revela que não basta ter um nível educacional mais alto para que seja mais fácil aceitar a evolução.

O que Brandon Withrow explica no Post é que mesmo se o indivíduo tiver um nível educacional avançado, e for apresentado aos fatos relativos à evolução, ele não vai aceitar a teoria se, de alguma forma, não “sentir” que ela é verdadeira, não admitir sua verossimilhança. O estudo não nega a influência da educação ou da religiosidade, mas acrescenta um novo fator à resposta para a pergunta de Gleiser (confiram o PDF da pesquisa e o gráfico que está na página 6). A dificuldade, admitem os pesquisadores mais pro fim do artigo, é como trabalhar esse “sentimento de certeza” em sala de aula.

Gleiser tem sua hipótese para tanta rejeição à evolução: “Por trás dessa forte resistência à evolução há uma profunda antipatia em relação a um entendimento científico de como a natureza trabalha. O problema parece relacionado à velha agenda do ‘Deus das lacunas’, segundo a qual quanto mais entendemos sobre o mundo, menos espaço existe para um Deus criador. Isso é má teologia, ao ligar crença ao desenvolvimento da ciência.” Acho ótimo ver um cientista não crente (não sei se Gleiser é ateu ou agnóstico) criticar o “Deus das lacunas”; quem acompanha os debates sobre ciência e religião sabe que é muito comum entre os ateus militantes o uso indiscriminado do argumento de que as descobertas da ciência deixam menos espaço para aceitar a existência de Deus.

Um longo PS: Uma discussão interessante no começo do artigo dos pesquisadores de Ohio trata do uso do termo “acreditar”, referindo-se à evolução. Você “acredita” na teoria da evolução? Em um outro post, mais recente, no 13.7, Gleiser aborda esse assunto de passagem, mencionando o leitor que disse não ver tanta diferença em acreditar num Deus abstrado ou na afirmação de que o universo tem quase 14 bilhões de anos. “E no entanto, essas duas [afirmações] não podiam ser mais diferentes!”, diz Gleiser. Não no sentido de que sejam incompatíveis, mas no sentido de que a atitude intelectual exigida diante das duas afirmações é diferente. Eu não “acredito” na evolução, ou num universo de 13,7 bilhões de anos, como acredito em Deus. Quando se trata de teorias científicas, prefiro usar o verbo “aceitar” para indicar minha adesão intelectual, justamente para não misturar as coisas. A fé também é uma adesão intelectual, acho que também envolve o “sentimento de certeza” analisado pelos pesquisadores de Ohio, mas que não depende de prova laboratorial.

E, já que estamos falando de evolução e hoje é sexta, mais uma tirinha do Carlos Ruas:

Reprodução autorizada / www.umsabadoqualquer.com

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