Ni Hao,
A China, definitivamente, não é para amadores. Uma simples ida ao supermercado pode virar um grande programa de índio se a gente não tiver muito jogo de cintura e bom humor. Olhem só que divertido:
Às 4 da tarde, saí de casa para ir ao Walmart comprar ingredientes para o jantar, passando antes pelo Si Hai Parque onde o Dudu ficaria andando de skate.
Fácil não? Não. Embaixo do condomínio onde moro, há diversos taxistas piratas que, ao me avistarem com meu carrinho de compras, começaram a gritar: Taxi? Taxi? Taxi? Como para pegar um taxi regular velho e mal cheirosos a gente tem que andar uns 500 metros debaixo de um sol escaldante, impossível não aceitar a oferta.
Escolhi um dos taxistas (ou ele me escolheu) e deu-se início à negociação. Eu disse em chinês “uoremá shiú” (*)(traduzindo, Walmart 15 rmb). O cara disse em inglês “nou, tuenti” (não, 20 rmb). Afrontada com a sensação de calor menos de 5 minutos fora de casa, topei e entrei no piratão de luxo com música ambiente e ar condicionado.
Finalizada a negociação financeira, tive que começar um novo interlóquio para explicar que o Dudu iria ficar no Si Hai Parque. Eu disse “Si Hai Gongyuan” pelo menos umas trezentas vezes para, na trecentésima primeira, ele responder: “Ooooou”. Deduzi que tinha entendido.
Quando começamos a nos aproximar do parque, o cara desandou a falar sem parar e terminou a frase com um “ma”, o que, em chinês, equivale a um ponto de interrogação. Ou seja, apesar de achar que estava falando do calor, do trânsito ou algo parecido, na verdade ele estava ME perguntando alguma coisa.
Meio sem graça, meio raivosa (acho que pela minha incompetência de ainda não conseguir entender chinês), mandei um “tinbudon”(não entendo). Sabe o que ele respondeu? “Ooooou”. “Ooooou” de novo? Como assim? Que raio de interjeição é esta que eles usam o tempo todo?
Enfim, o Dudu ficou no parque e eu segui para o Walmart. Chegando lá, o taxista perguntou se eu queria que ele me esperasse. Eu entendi (acho que telepaticamente), disse que não precisava, mas por via das dúvidas, fiquei com o telefone do sujeito.
Entrei no Walmart, que possui o maior índice de consumidor por metro quadrado, comprei uma mesinha para o teclado e fui para o andar térreo onde fica a seção de carnes e hortifrúti. O cheiro da durian estava mais forte e nauseante do que nunca!
Circulei por um misto de zoológico e necrotério, com peixes vivos e partes não identificadas de animais mortos, e chegue finalmente ao hortifrúti. Depois de escolher minhas frutinhas e legumes, me preparei para encarar a pior parte de todas: a hora da pesagem.
Caraca!!!! Que dificuldade é esta que este povo tem de fazer fila! Todo mundo estava com os carrinhos enfiados à frente das balanças disponíveis e, quando um saía, havia sempre dois ou três que se enfiavam à minha frente. Isso sem falar dos “sem carrinho” que não esperam nem você acabar de pesar as suas compras. Entre as laranjas e maçãs que comprei, apareceu uma berinjela que um chinês jogou na balança antes que eu pudesse colocar o outro saco. Um exercício de paciência sobrenatural!
Mas isso não é tudo. Chegou a hora de pagar. Imagino que para forçar a galera a fazer fila, os caixas são colados uns nos outros. Você fica ombro a ombro com o seu vizinho do caixa ao lado, fora as pessoas que resolvem entrar ou sair do supermercado por ali.
Quando chegou minha vez, passei tudo correndo porque o chinês atrás de mim parecia louco para furar minha frente. Ou talvez eu já tenha desenvolvido uma mania de perseguição e não saiba. Paguei, enfiei tudo de qualquer jeito no carrinho e fui para o ponto de taxi.
E o que encontrei lá? Um monte de gente amontoada disputando para ver quem entrava primeiro no taxi. Fora os espertinhos que iam para o fim do ponto pegar o taxi antes dele chegar até nós.
Conclusão: ou entrava no joguinho deles ou não voltava para casa naquele dia. Ou….. sim!!!! Ligava para o motorista do taxi pirata!!!
Que excelente ideia. Pensei: vou ligar para ele e dizer algo mais ou menos, considerando meu vocabulário escasso, assim:
“Eu ser aquela mulher você ir Walmart. Você poder ir Walmart agora? Eu esperar você.”
Será que o cara vai entender? Esperar onde? E se ele responder alguma coisa terminada com “ma”? Melhor ligar para o Luiz para pedir para um colega do trabalho ligar para o taxista e explicar tudo.
Funcionou! Fui para o lugar combinado com meu carrinho de compras, a mesinha de uns 3 quilos e a sacola de frutas e esperei…. mas, por quem mesmo eu estava esperando? Não havia gravado nem o carro, nem a placa, muito menos a cara do taxista. Meu Deus, como é que eu vou reconhecê-lo quando ele chegar?
Que calor dos infernos!!!! Essa mesinha não era tão pesada assim quando eu a tirei da prateleira!
Até que vi um carro com uma coroa dourada giratório colada no painel e tive um déjà-vu. Aliás, eu realmente já tinha visto aquela coroa no carro… do meu taxista! Que, por sua vez, também já tinha reconhecido a gringa e veio me encontrar.
Entrei no taxi geladinho, livre do carrinho, da mesinha e da sacola de frutas que o taxista empenhadamente, gentilmente e piedosamente guardou para mim e, quando comecei a relaxar, ele mandou logo um “ma”. Vocês já são capazes de deduzir sozinhos qual deve ter sido o teor do meu diálogo com ele, se é que isso pode ser chamado de diálogo.
Bom, cheguei em casa às 7:30 da noite, paguei o dobro do que pagaria por um taxi normal pois ele, mais do que merecidamente, me cobrou “forti”, mas extremamente feliz por estar de volta sã e salva. Melhor. Por estar começando a sentir uma orgulhosa sensação de “viver a China.”
Acho que já não sou mais uma amadora.
(*)Para quem fala chinês, as palavras não estão escritas em pinyin de propósito para facilitar o entendimento.
EM TEMPO
Queria agradecer todos os comentários super positivos que recebi por conta da “polêmica” dos dois últimos posts. Confesso que fiquei surpresa com tanto carinho! Adorei!!! Valeu!
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