Ni hao!!!!!
Pronto! Estamos de volta à China. Acabou a vida fácil! Os expatriados que estão aqui há mais tempo sempre falam que, pelo menos uma vez por ano, é preciso sair da China para recarregar as baterias ou regular o termostato. Agora vejo que eles têm toda razão.
E o que seria regular o termostato? Conhecem a expressão em inglês “take for granted”? O significado seria algo como só dar valor a alguma coisa quando a perdemos. Então, regular o termostato seria uma espécie de resgate do valor de quase todos os momentos do nosso cotidiano.
Como assim? Vejam só alguns exemplos.
. Pedir informação na rua e entender a resposta, independente se o dialeto do interlocutor é motorista-de-ônibus-carioca, porteiro-nordestino ou adolescente-se-encontrando-depois-de-muito-tempo-sem-se-ver. A gente pode até perder uma coisa ou outra, mas consegue pelo menos entender o contexto. Já na China….
. Ligar a TV e compreender as notícias, os comerciais e as piadas. Já na China…
. Conseguir ler tudo que está escrito nas embalagens dos produtos que se compra e não ter medo de levar gato por lebre, literalmente. Já na China, além de não dar para ler nada mesmo, as medidas ainda são diferentes. Ontem, fui comprar um chocolate e quase desmaiei ao ver que ele tinha 2.136 calorias. Só mais tarde descobri que aqui eles usam kilojoule.
. Entrar nos banheiros públicos e não precisar encarar um buracão no chão. Ai gente, desculpem, mas para este quesito eu preciso confessar que o buracão no chão pelo menos permite que você mantenha o xixi dos outros longe das suas pernas. Ponto para China.
. Ficar dando palpite no trajeto que o taxista escolheu, ou melhor, poder conversar com ele sobre política, sobre o tempo e todas as outras irrelevâncias da vida; ou melhor ainda, entrar no taxi e não sentir cheiro de cigarro, alho ou outros odores menos nobres. Já na China…
. Tomar chopp e comer uma empada no botequim pé sujo da esquina da sua casa sem se preocupar se o recheio da empada é de cachorro ou outro animal não identificado. Já na China…
. Ficar esperando na fila, irritado por haver tantas filas no Brasil – vide meu post “Uma questão de Tempo”, mas não precisar montar um esquema especial de proteção contra furadores profissionais. Acreditam que na imigração entre Hong Kong e China o sujeito furou a fila na frente de todos os guardas hongkongneses? Acabou dando azar, pois ficou atrás de uma família grande e complicada de imigrantes e teria andado mais rápido se tivesse entrado na fila como todo o ser humano normal. Ao ver aquela cena, eu e Marquinhos, no auge do prazer da vingança, nos olhamos e nem precisamos dizer o que pensamos: “bem feito, se f…”!
. Bom, e para as mulherzinhas de plantão, sentir seu cabelo mais liso e mais sedoso (a água na China e a umidade transformam nossas madeixas em espigas de milho), fazer depilação (só nós mulheres sabemos o valor de uma depilação bem feita) e poder dizer para manicure “não tira os cantinhos, lixa redondo, cuidado que a unha está encravada”.
O mais interessante de tudo é que, desta vez, decidimos parar por 2 dias em Dubai para conhecer uma das cidades mais famosas do Oriente Médio. E, apesar de todas as diferenças culturais que nos separam, lá me senti menos extraterrestre do que me sinto normalmente na China.
Antes de viajar, tivemos uma briguinha básica com a Mariana sobre o código de vestimenta. Segundo lemos na Internet, mulheres não deveriam usar ombro de fora, joelho de fora e roupas justas. Ou seja, não sobrou nada no guarda-roupa da Mari que pudesse ser usado. Só que, ao chegarmos lá, vimos uma grande diversidade de vestimentas. Das tradicionais burcas a shortinhos com pernocas de fora. Quando a primeira hóspede do hotel passou por nós desfilando seu decote bronzeado, a Mari mandou logo um “Viu?!?!?!?!?!?!?!”
O povo é altamente diversificado. Há pretos, brancos, árabes, chineses. Enfim, um grande Brasil! A língua também é estranhamente parecida com a nossa. Não sei se a entonação, a pronúncia, sabe lá. Só sei que volta e meia achávamos que alguém estava falando português atrás de nós. O importante, no entanto, é que todos, eu disse todos falam inglês!
E a comida, minha gente! Que delícia! O café da manhã do hotel oferecia pão árabe feito em sua terra natal (igualzinho o nosso), coalhada, pasta de grão de bico, damascos, ameixas com canela, doce de maçã,… aff!
À tardinha, fomos a um safari no deserto com direito a jantar num oásis. Tinha tudo para ser aquela comida de carregação que se serve para turista, mas não foi! Arroz de açafrão, kafta, feijão com especiarias… tudo, tudo, simplesmente delicioso!
Até as mulheres árabes, pelo menos a que fez a dança do ventre para nós, certamente deixaria enlouquecidos os pedreiros de obra brasileiros. E, por falar em ficar enlouquecido por alguém, Luiz conquistou o coração de uma camela que fez questão de pousar para a foto do iPhone.
Faltou falar do calor, né? Apesar de não haver termômetros na rua, deu para ver no do taxi que estava fazendo 42oC quando chegamos a uma hora da madrugada. Só que lá é super seco o que não causa, pelo menos para mim, tanto desconforto quanto na úmida Shenzhen. Vamos resumir assim: Dubai é uma sauna seca e Shenzhen a vapor. Cada um com sua preferência.
Bom, eu teria muito mais para contar sobre Dubai, mas este é um blog sobre a China e, tirando as saudades dos nossos pais e amigos, até que fiquei feliz de voltar para minha casinha em Shenzhen. Melhor do que isso, receber um abraço bem brasileiro da nossa chinesinha preferida: a Liu!
再见
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