Ni Hao,
Depois que nos mudamos para China, já fui logo avisando ao maridão: presente, agora, só viagem! Além de todas as cidades chinesas que ainda temos para conhecer, existem vários outros países aqui em volta esperando por nós! Então, qual o sentido de ganhar roupinhas novas com um mundo totalmente diferente à nossa volta?
Por conta disso, meu presente de aniversário este ano foi uma viagem a Macau!
Macau! Que legal! Todo mundo vai para Macau, não é mesmo? Mas tem que levar passaporte? Precisa de visto? Macau é um país? Que língua se fala por lá? Português ou chinês? Onde fica mesmo?
Macau ou Amen, como se fala em mandarim, é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. As Regiões Administrativas funcionam no esquema de “um país, dois sistemas”, ou seja, possuem governos independentes do da China (moeda, leis, política, etc) ,mas encontram-se sob sua legislação no que diz respeito à política externa e defesa nacional.
Macau e Hong Kong são as duas RAEs da China e, sim, precisa de passaporte para poder entrar.
Já ouvimos falar de muita gente que veio visitar a China com visto de “única entrada”, resolveu dar um pulinho em Hong Kong ou Macau e não conseguiu mais voltar! Já imaginaram?!
Gente, Macau é uma loucura! Ou, para ser menos superficial, eu diria que Macau inaugurou o termo “globalização” há 500 anos.
Toda a sinalização da cidade está escrita em cantonês (que é diferente do mandarim que falamos aqui em Shenzhen) e português! Agora, sabem quantas pessoas falam português em Macau? Três mil de uma população de 560 mil. Sabem qual o sistema de trânsito que rola por lá? O inglês: mão invertida. Sabem qual a carinha das pessoas andando pelas ruas? Aquelas de olhinhos puxados.
Cara, que maluquice é esta? Por que está tudo escrito em português se ninguém fala esta língua por lá? Imaginem se no Brasil as fachadas das lojas, as placas de trânsito, os avisos nos banheiros fossem todos escritos em português e chinês?
Para entender isso tudo, tem que conhecer um pouquinho da história deste país, ou melhor, desta Região Administrativa Especial da China.
Pescadores e fazendeiros da província de Guandong foram os primeiros habitantes de Macau, também conhecida como A Ma Gao (lugar de A Ma), deusa dos homens do mar.
Em 1550, os portugueses chegaram a A Ma Gao e adotaram este nome que, gradualmente, foi mudando para Macau. Com a autorização dos mandarins, os portugueses foram desenvolvendo a cidade que, em pouco tempo, se transformou no maior entreposto comercial entre China, Japão, Índia e Europa.
A Igreja Católica Romana, obviamente, mandou missionários para Macau e construiu colégios, igrejas e fortalezas que dão uma cara de Europa para esta cidade asiática.
Quando os ingleses e holandeses dominaram o comércio Leste-Oeste, os chineses preferiram continuar a fazer negócios com os portugueses. No entanto, depois da Guerra do Opium em 1841, , Hong Kong foi oficializada pelos ingleses e a maioria dos mercadores abandonou Macau. O país virou, então, um local pitoresco e parada obrigatória para escritores e artistas internacionais que vinham aproveitar os lazeres multiculturais.
E isso acontece até hoje! Olhem o que Macau, cuja economia atual está voltada para o turismo, ainda oferece aos turistas!
Em 20 de dezembro de 1999, Macau deixou de ser administrada por Portugal e passou a ser a tal Região Administrativa Especial chinesa. Nesta data, todas as placas de rua foram refeitas para que os dizeres em chinês viessem antes dos em português. Os chineses tomaram cuidado para que os tradicionais azulejos portugueses fossem perfeitamente copiados.
Até 2049, quando a administração de Macau passar definitivamente para a China, tudo deve estar escrito em português e todas as repartições públicas precisam ter pelo menos uma pessoa que fale esta língua. Por isso, a grande maioria dos portugueses que ainda vive em Macau é de advogados que ajudam a interpretar as leis escritas em português.
A comida também é globalizada e por isso pudemos matar as saudades de casa. Comemos bacalhau ao Braz, bacalhau na nata, bolinho de bacalhau, dobradinha, pastéis de Santa Clara, serradura… tudo isso sem nenhum filho para pedir: “dá para tirar o bacalhau do meu bolinho que eu não gostei?”
Mas se quiséssemos permanecer na comida asiática, sem problemas! Em todas as “pastelarias” havia doces portugueses, doces macauenses (crepe de massa doce com alga e farofa de amendoim) e as famosas carnes secas temperadas. Confesso que não provamos nem um pedacinho da carne, embora todas as pastelarias oferecessem amostras pelas ruas.
Além de ser uma cidade globalizada por natureza (muito antes da Internet existir), Macau é absolutamente civilizada, principalmente se comparada à China. Em todas as esquinas, há placas lembrando que a multa por infrações como escarrar no chão (recadinho explícito para chinesada) custa 600 patacas, ou 490 RMB ou 120 reais.
Em resumo, adoramos Macau!
Mas, ficou faltando explicar o porquê das ruas e dos carros terem direção inglesa. Mortos de curiosidade, buscando explicação histórica para o fato, perguntamos ao português que gerenciava nosso hotel. Ele respondeu com seu sotaque característico:
“Muito simples. Porque Macau importa seus carros de Hong Kong!”
Ah, tá!