NiHao,
Quem aí se lembra de um filme chamado Horizonte Perdido de 1973? Acredito que a maioria de vocês não devia nem ser nascida!
Não me perguntem por que, mas eu assisti a este filme quando tinha 8 anos e fiquei totalmente apaixonada a ponto de me lembrar dele até hoje!
Assistindo a alguns trechos no Youtube, achei tudo muito chatinho e não entendo o que foi que me cativou tanto, a não ser, talvez, a música do Burt Bacharach.
Pois bem, 40 anos após ter me encantando com Shangri-la, conheci uma pessoa de carne e osso que esteve lá! Sim, leitores, o Hera é este cara que abriu uma porta para o meu passado e fez eu me tocar de que Shangri-la existe de verdade e, acima de tudo, fica na China!
O Hera é mais uma dessas pessoas especiais que conheci por conta deste blog. Ele me leu na Gazeta, entrou em contato comigo e ficamos amigos desde então. Eu já sabia que o Hera era uma pessoa especial desde a primeira vez em que o encontrei no Starbucks do Sea World,mas só agora, depois de entrevistá-lo, é que me dei conta de que ele é a pessoa que eu gostaria de ter sido se tivesse, se tivesse… sei lá, ou mais coragem, ou nascido homem, ou… deixa para lá.
O Hera se formou na primeira turma de Turismo do Unicenp (Centro Universitário Positivo, hoje UP – Universidade Positivo), em Curitiba, em 2002. A partir dai, começou a se aventurar fora do Brasil, visitando Bolívia, Peru e Chile durante as férias escolares de julho 2001; a Europa por seis meses em 2004 e a Ásia por quatro meses em 2007.
Também trabalhou como segurança de um hotel-cassino em SouthLake Tahoe nos invernos de 2002, 2003, 2004 e 2005 num programa de intercâmbio de trabalho e, de novembro de 2005 a abril de 2007, como recepcionista, supervisor de recepção e capitão-porteiro num programa de estágio de hotelaria.
No Chile acabou conseguindo um emprego como anfitrião dos hóspedes que falavam português e inglês, graças a uma palestra sobre a promoção do Centro de Esqui de Valle Nevado que havia assistido dois anos antes na faculdade. E com muita sorte, acabou sendo selecionado na loteria dos voluntários para trabalhar na Abertura e Encerramento das Olimpíadas de Atenas, em 2004.
Certa vez, na biblioteca de South Lake Tahoe, Hera se deparou com um livro sobre a China que o fascinou, sendo que duas fotos o marcaram em especial: Tai Shan, uma das cinco montanhas sagradas da China, e a cidade de Lijiang. Hera pensou: “Um dia, ainda vou lá!”.
Na realidade, Hera decidiu que viria à China, não para conhecer os pontos turísticos tradicionais como Pequim ou Xangai, mas para ver os Patrimônios Culturais da Humanidade da UNESCO na China. Mal sabia ele que ia acabar, na realidade, conhecendo o maior patrimônio da sua própria vida, a Fu Ling, sua esposa chinesa (aff!,minha versão piegas se manifestando de novo… )
Mas como essa história começou? Em 2007, com o dinheiro que economizou nos Estados Unidos, Hera foi para Tailândia. Junto com um amigo, acabou conhecendo duas brasileiras mochileiras no meio do caminho e, juntos, foram para o Camboja e Vietnã.
De lá seguiu sozinho para a China e, após 18 horas de trem entre Hanoi e Guilin, , entrou na China com ajuda do livro Lonely Planet.
De Guilin, Hera foi para Shenzhen visitar um amigo espanhol que conhecera na Turquia em 2004 e se encantou com Shenzhen. Depois, seguiu para Lijiang, onde vive a maior parte das minorias étnicas da China com suas danças e vestimentas características.
De Lijiang, viajou para Shangri-la onde conheceu a Fu Ling e viveram felizes para sempre….brincadeirinha…. onde conheceu um italiano que colocou uma sementinha na sua cabeça: “Se você é branco e fala bem inglês, pode conseguir um emprego de professor facilmente aqui na China”.
Hera continuou sua peregrinação, desta vez acompanhado de três taiwanesas, com as quais foi à Montanha Mei Li,onde fizeram três dias de trilha, a quatro mil metros de altitude.
Lá, se meteu numa encrenca danada, pois as taiwanesas resolveram não pagar o motorista que os havia conduzido até o pé da trilha, por conta do preço abusivo que ele havia cobrado pelo transporte. No entanto, não foi nada difícil para o motorista reconhecer o estrangeiro branco, que jantava na cidade com três taiwaneses, e o barraco foi armado! Ou seria o pagode?
Outra dessas encrencas foi quando Hera comprou um ticket de trem que custava 150 RMB por apenas 60, em pleno Ano Novo Chinês. Na realidade, era um Standing Ticket com o qual você tem o direito de entrar no trem, mas viajar de pé. De pé, 17 horas num trem chinês, dá para imaginar? Hera acabou se habituando e, no mesmo ano, fez mais três viagens como esta.
Ao chegar a Pequim, Hera se sentou num cyber café e mandou mais de 100 e-mails procurando emprego, inclusive como voluntário nas Olimpíadas de 2008.Conseguiu um emprego de professor numa escola pública em Xinjiang, uma cidade de 30.000 habitantes.
Aproveitei para perguntar as condições de uma escola pública do interior da China e Hera disse que eram um pouco melhores do que no Brasi: “Os alunos moram na escola e têm computador com retroprojetor na sala”. Pouco melhores, Hera? Pouco melhores?
Ganhando melhorzinho, Hera se matriculou numa academia e começou a ter aulas de dança latina, sendo o único homem entre 30 chinesas. Uma delas, que ria muito da sua performance nada latina, acabou virando sua esposa em julho de 2008, apenas três meses após terem se conhecido. Ai, que lindo né?
Mas quem acha que o Hera tem boa via, que só viaja, que isso é coisa de filhinho de papai rico, está muito enganado! A rotina de trabalho do Hera é pesadíssima e eu não consigo encontrá-lo quase nunca! Olhem só:
Sábados, de 11:00 às 16:30 ele dá aulas particulares. Domingos, de 9:00 às 17:20 ele dá aulas de inglês na escola de línguas. Ah, e ainda escreve o blog Hera na Índia e China quando dá tempo!
Bom, este era para ter sido um blog sobre um brasileiro morando na China, mas ficou mais com cara de blog de turismo. No entanto, como separar o Hera da sua sede de conhecer o mundo? Como não se sentir uma pessoa acomodada, confinada em Shenzhen, ao ver uma vida tão rica vivida por um cara que não chegou nem na casa dos 30? Ou será que ele descobriu o segredo da eterna juventude emocional em Shangri-la?
É minha gente, espero que essa tenha sido mais uma história de vida a inspirar as nossas! E, não se esqueçam, sempre dá tempo! Eu ainda não usei o Lonely Planet, mas se vocês resolverem se aventurar pela China, podem contar comigo!
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