Ni Hao,
A família da Elen, que mora em Changchun (pronuncia-se “tchan-tchu-an” – os mais velhos devem ter se lembrado da propaganda da Gilette “a primeira faz tchan, a segunda faz tchun), vocês já conheceram no post anterior. Ficou faltando contar sobre minhas aventuras turísticas por aquelas bandas.
Changchun, de apenas 200 anos, é a capital da província de Jiling e a segunda maior cidade do nordeste da China. Os expatriados que moram por lá trabalham, em sua maioria, na indústria automobilística. Assim como Shenzhen e todas as outras (poucas) cidades chinesas que já conheci, Changchun é um canteiro de obras. A paisagem é totalmente permeada pelos conhecidos guindastes gigantescos que vemos, a cada esquina, também por aqui.
Ainda em nível da comparação, Shenzhen está cheia de edifícios enormes e chineses pequenos. Changchun, por sua vez, não tem nenhum prédio muito suntuoso (a não ser a torre de TV), mas, em compensação, possui os maiores chineses que eu já vi: altos, fortes e gordos. É, minha gente, mais do que gordos, obesos mesmo!
Três fatos, em minha opinião, explicam tais características: a proximidade da Mongólia (segunda a Tina, eles são maiores porque comem mais carne), os 7 meses trancafiados em casa por conta do inverno e, como não poderia deixar de ser, a profusão de McDonald’s e KFC’s pela cidade (aliás, bendito KFC e seu café bem quentinho!).
Fora os lindos parques que no inverno devem ser maravilhosos quando cheios de neve, o que mais me impressionou em Changchun foi o museu japonês. Quando o Japão invadiu a China em 1931, a cidade foi escolhida como base para o imperador. Visitamos o palácio onde ele se aboletou com o apoio dos traidores chineses e vimos imagens de arrepiar. Com certeza, este foi “o holocausto chinês” que deixou sequelas profundas nos moradores da cidade. Quando aconteceu a Tsunami no Japão em 2011, os “changchuenses” comemoraram, tipo: “eles tiveram o que mereciam”.
Outra coisa impressionante que vi em Changchun foi o meu quarto de hotel. A Elen se esmerou para encontrar um hotel que coubesse na categoria “bom, bonito, barato e bem perto da casa dela”. O hotel mais pertinho de sua casa declarou não ter licença para receber estrangeiros. Hein? Como assim? Arrisquei: dever ser porque ninguém fala inglês. Elen riu e esclareceu que ninguém fala inglês em Changchun, nem neste hotel e nem em nenhum outro.
O hotel em que fiquei, que aceitava estrangeiros, era bem simpático e até me deram um quarto todo decoradinho. Porém, decoradinho a la chinesa! O grafiteiro ou pintor ou designer que concebeu a decoração encheu-o de flores marrons usando aquela técnica de esponja. Só que ele exagerou na dose e o quarto ficou todo preto parecendo o do filme Água Negra do Walter Salles. No filme, a vizinha do andar de cima tinha matado a filha afogada na caixa d’água do prédio e, de noite, a fantasminha fazia vazar água para o apartamento debaixo deixando-o cheio daquelas marcas nojentas de infiltração. Passei duas noites com medo de uma chinesinha assassinada aparecer deitada ao meu lado na cama.
Como se não bastasse, no dia seguinte levantei 4:30 da matina para ir à Haerbin e, ao passar pela recepção em plena madrugada, flagrei o dono do hotel dormindo sobre uma mesa, de barriga para cima, coberto até o pescoço, igualzinho a um velório. Na noite seguinte, me mudei para a casa da Elen.
Meu último jantar em Changchun foi num restaurante temático. Só que o tema era um tanto quanto inusitado: o partido comunista. O restaurante reproduz uma cidadezinha rural e seus ícones comunistas e serve uma comida deliciosa!
O engraçado foi que, lá pelas tantas, a “maitre do partido” começou uma reunião com os “camaradas garçons” e desceu o verbo à la capitalista: nosso concorrente está melhor do que nós etc, etc, etc (tradução da querida Lia!)
Chega de Changchun. No próximo post falarei sobre nossas aventuras em Haerbin.
Zai jian
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