你们好,
Nimen hao,
Quando a mulher engravida, ela é alçada a um status diferente dos outros seres humanos. As pessoas passam a nos olhar de uma forma mais terna; oferecem-nos os melhores lugares onde quer que entremos; não precisamos mais encarar filas; nossas barrigas viram domínio público: todo mundo dá uma passadinha de mão.
Reparei que com o câncer acontece algo similar, mas menos fofinho. Ao falarmos a palavra maligna “câncer”, as pessoas também passam a nos olhar de uma forma diferente e também nos são oferecidos os melhores lugares. Mas não por que suscitamos sentimentos alegres por haver um milagre acontecendo dentro de nós. Mas por que acabamos provocando piedade diante dessa “coisa ruim” que tomou conta do nosso corpo.
Ao contrário da gravidez, o câncer não é visível. Até a cirurgia de seio, na maioria das vezes, não deixa sequelas. O câncer só se torna real, palpável, visível e impossível de esconder na hora de raspar a cabeça.
Como é que você chega ao salão de cabelereiro, com as longas madeixas pintadas, escovadas e brilhantes e pede: _ Raspa tudo, por favor?
De duas uma: ou você ficou maluca ou está doente.
E é no momento de assumir o câncer publicamente, que se corre o risco de confundir tratamento com doença. Ficar careca é sinal de que a quimioterapia está cumprindo com o seu papel direitinho, e não de que se está com câncer no cérebro a ponto de perder os cabelos.
Esta semana, mais precisamente no D14, meu cabelo começou a cair. As amigas diziam: _ O meu também cai para caramba!
Não, amigas, vocês não estão entendendo. Eu passo a mão e sai um monte de cabelos. Passo de novo, sai mais e mais e mais. Se eu ficasse um dia inteiro passando a mão nos cabelos, terminaria careca.
No D15, tomei coragem e fui ao salão. Para cumprir a penosa tarefa de cortar meus cabelos bem curtinhos, escolhi uma cabelereira chinesa que conheci logo que cheguei à China, em 2011. Ela é meio andrógina, tem sempre um lado da cabeça raspado e outro pintado de vermelho, enfim, a mente aberta que eu precisava.
Falei em chinês a palavra maligna, depois “quimioterapia” e mostrei os cabelos caindo. Sem nenhuma cara de pena, ela olhou a foto que selecionei na Internet, me sentou na cadeira e passou 40 minutos cortando meu cabelo, a tesoura, com todo o cuidado. Com direito a lavagem e tudo.
A primeira tesourada a gente nunca esquece.
No final das contas, até que não ficou muito ruim. Tirei literalmente um peso dos ombros, comecei a pousar de mulher moderna, autêntica e descolada.
Mas não durou muito. Os fios curtinhos começaram a aparecer no chão do banheiro, nos lençóis, na mesa da sala, no chão da cozinha… e eu varrendo, aspirando, soprando. Cinco dias depois, fui a outro salão mais baratinho para raspar geral.
Selecionei nova foto na Internet e fiquei me imaginando toda linda! Careca como a Britney Spears. Mas a realidade era outra. O cabelo não sai todo com a maquininha. A cor do couro cabeludo é diferente da do rosto. E, mesmo levando tudo na brincadeira, me deu uma vontade enorme de chorar.
Só que esta semana recebi um e-mail de uma leitora que já teve câncer de mama e que me tocou profundamente. Nele havia uma frase que virou meu lema:
“A doença vai ter o tamanho que você permitir!”
Por isso, apesar de eu estar levando o tratamento de forma absolutamente séria, a doença não vai se transformar no centro da minha vida. E, se depender da Família Brasileira na China, ela vai ter que tomar muito Biotônico Fontoura!
Na saúde e na doença, amando, respeitando e fazendo rir!
Amanhã tenho nova sessão de quimio, então, até daqui a 15 dias!
Ah! Já ia me esquecendo: careca em chinês é GuangTou (光头)。
再见
Zaijian
Christianedumont@hotmail.com
Shenzhen Global Business Services (por que eu continuo trabalhando!)
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