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DVD Pirata na China? Essa briga não é minha.
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Ni hao,

Quando eu morava no Brasil, eu me considerava uma espécie de cidadã exemplar.
Respeitava todas as leis e ficava absurdamente irritada com todos que as “flexibilizavam” em benefício próprio.

Exemplo: “_ Sei que é proibido parar em fila dupla na porta da escola, mas meu filho vai sair rapidinho e a gente não vai atrapalhar ninguém! É só por um minutinho!”

Mais do que isso, eu reclamava com o motorista do ônibus que parava em cima da faixa de pedestre, reclamava com o banhista cujo cachorro fazia xixi na areia da praia, acreditando que meu discurso poderia modificar o comportamento alheio.

Na China, no entanto, as coisas mudaram.

É claro que eu continuo respeitando sinal de trânsito, não jogando lixo no chão, cedendo o lugar para pessoas idosas no ônibus, pois em minha opinião, mais do que leis, isso são valores. E valores não têm nacionalidade.

O que aconteceu é que, por eu ser uma estrangeira na China, não tenho mais o “dever de lutar pelo desenvolvimento do meu país”. Aliás, pretensão minha já que nunca ninguém me pediu para fazer isso.

Enfim, todo esse discurso bonitinho aí de cima é apenas para tentar amenizar uma confissão que tenho a fazer: amigos, eu compro DVD pirata toda semana!!!!

Eu e todos os expatriados do nosso bairro! Até a Sônia Bridi confessou ter comprado quando morou em Pequim, como ela mesma escreveu no livro Laowai.

O négocio é o seguinte: aqui é muito difícil passar filme estrangeiro. Para se ter uma ideia, esta semana estreou nos cinemas o filme que ganhou o Oscar de melhor ator… do ano passado: O Discurso do Rei!!! Vejam mais detalhes no blog do meu amigo Hera.

Além disso, cinema é um programa caro. Uma entrada pode custar 100 RMB, ou seja, 25 reais. (A regra é: se o preço em remembi convertido em real é o mesmo do Brasil, então é caro!).

Mais do que caro, cinema é um programa que exige muita paciência. Chinês não só não desliga o celular, como atende, conversa e dane-se o resto do mundo!

Em compensação, um DVD dos filmes que concorreram ao Oscar 2012, de ótima qualidade, custa 8 RMB ou R$ 2,00!). Eles são vendidos em diversas barraquinhas espalhadas pelo bairro ou em quartinhos escondidos nos fundos de algumas lojas.

Chris Dumont

A embalagem dos DVDS é super caprichada. Elas vêm com uma capa externa, outra capa interna, uma capa plástica, uma capa para a capa plástica… abrir um desses DVDs é um ritual!

Chris Dumont

A Liu, quando soube que gostávamos de assistir a filmes, nos deu de presente todos os DVDs que o ex-patrão havia lhe dado. Temos filme para todos os gostos!

Chris Dumont
Esses são apenas metade do que temos aqui em casa!

Mas nem tudo é um mar de rosas! Como nosso inglês (desculpe, meu inglês, porque o das crianças já é praticamente de “native speakers”) ainda não é suficiente para entender um filme inteiro, temos que apelar para as legendas em inglês.

Ah, amigos! As legendas são um capítulo à parte.

Primeiro caso e mais comum: a legenda não casa com a locução em hipótese alguma. O ator diz “meu amigo, venha aqui ” e a legenda é “vá lá rapaz!”. Não sei se eles não entendem o inglês e colocam qualquer coisa, se apelam para o Google tradutor e fica tudo ao pé da letra… só sei que é um nonsense completo que tira totalmente a concentração de quem está assistindo.

Segundo caso: a legenda é de outro filme. Começamos a assistir “A casa do Lago” com a Sandra Bullock cuja legenda dizia: “Pai, este é meu namorado Greg Focker”. Foi fácil reconhecer! A legenda era do “Entrado numa fria” com o Ben Stiller, que fazia o papel de genro do Robert De Niro e se chamava Greg.


Terceiro caso
: Assim que o filme começou, entrou a seguinte legenda : “Yes, yes, don’t stop, now, now!” … Ops! Editaram a legenda de um filme pornô no nosso!!! Foi um tal de desliga isso, turn it off!!!

Imagino como não deve ter ficado o outro filme. O casal fazendo “bagulhos nojentos” (como diz o Dudu) e a legenda “seu pai não gostará de saber disso, depois não diga que não avisei…”


Quarto caso
: o filme “O Planeta dos Macacos: a Origem” só tinha locução para cego. Assistimos ao filme inteiro com o locutor narrando todas as cenas: “O chimpanzé olha triste para o homem, sobe na árvore mais alta e avista a ponte onde sinais de fumaça…..”. Para quem ainda está com o inglês enferrujado como o meu, confesso que ficou até interessante!

Essas barraquinhas são mesmo irresistíveis!

Passei lá agora para fotografá-las para vocês e acabei comprando mais dois filmes: Happy Feet 2 e “A invenção de Hugo Cabret”.

Direito autoral na China? Ah, gente, sinceramente, esta briga não é minha!

Corta!

Chris Dumont
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