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Ni hao,

CARREGANDO :)

Um dia, estava tomando café com uma amiga na varanda do Starbucks, jogando conversa fora e aproveitando para treinar o inglês, quando uma chinesa bonita e bem vestida chegou com seu cachorro (um Collie pequeno) sem coleira.

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Quando a chinesa abriu a porta para entrar na cafeteria com o cachorro, minha amiga se levantou apavorada e disse em inglês, de forma rude, que ela não podia fazer isso.

Pela reação da minha amiga, entendi logo que ela tinha cinofobia (fobia a cães).

A chinesa, surpresa, fingiu que não entendeu e continuou entrando. Minha amiga, ainda mais alterada, gritou que era proibido andar pelas ruas com cachorro sem coleira. Mesmo que o cachorro fosse manso, ninguém poderia prever o comportamento de um animal selvagem. E se o cachorro, eventualmente, atacasse alguém, a culpa não seria do animal, e sim do dono que o levava solto.

A chinesa, meio intimidada, meio irritada, respondeu em inglês perfeito: “isso aqui é a China e, na China, é assim que se faz!

Minha amiga venceu o medo, passou pelo cachorro, entrou no Starbucks e reclamou com o gerente que, para resolver o problema, ficou tomando conta do Collie do lado de fora da loja, enquanto a chinesa comprava seu café.

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Quando os ânimos se acalmaram, eu falei para minha amiga que esta era a primeira vez em que tinha sentido um comportamento agressivo de um chinês contra um estrangeiro.

No livro Laowai, da Sônia Bridi, ela relata vários casos de agressão física contra estrangeiros, inclusive contra ela, quando morava em Beijing. O livro explica esse comportamento através da repressão política, da agressividade estimulada durante a revolução cultural e de outras análises que valem a pena ser lidas.

O que eu, da minha vivência por aqui já entendi, é que os chineses respeitam os estrangeiros e nos tratam muito bem porque somos, supostamente, mais ricos do que eles. E na China, o mais pobre respeita o mais rico, independente de sua nacionalidade.

Quando morei na França, onde estrangeiro normalmente é a parte mais fraca da relação, eu vivia com medo de estar fazendo algo errado, de estar desrespeitando alguma lei desconhecida e, por diversas vezes, fui advertida de forma rude (bem à la francaise) para não fazer algo. Como dizia minha mãe, me sentia eternamente na casa do vizinho, onde você não fica dando palpite sobre a decoração da casa e nem abrindo a geladeira sem pedir permissão.

E é isto que vivo repetindo para o Luiz e para as crianças: este país não é o seu. Esta casa não é a sua. Pense várias vezes antes de reclamar do carro parado na faixa de pedestre, do sujeito que escarra na rua, do mau humor do porteiro do condomínio ou da pessoa que fura, descaradamente, sua frente na fila (essa é dura de engolir!), para não ter que entubar um “a porta da rua é serventia da casa”.

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Nós, brasileiros, também tratamos os estrangeiros muito bem! A gente se vira para falar inglês, quer dar conselhos, oferecer comidas, contar piadas, exatamente como os chineses fazem conosco. Mas, pense no que você faria se um americano, morando no Brasil, advertisse um brasileiro de que não é correto fazer algo. Ruim, né?

Minha crença é de que somos muito bem-vindos à China porque o Luiz está num processo de transferência de know-how no trabalho. Assim que tudo que ele veio ensinar tiver sido aprendido, não seremos mais tão bem-vindos assim. Num país de mais de 1 bilhão de habitantes, esse papo de “onde comem 2, comem 3” não cola.

O que aconteceu no Starbucks, em minha opinião, é que a chinesa, pela forma de se vestir, por falar um inglês perfeito, pelo fato de frequentar o bairro de Shekou e o Starbucks (onde o café mais barato pode custar mais do que uma refeição em alguns restaurantes), também era “rica”. Igualadas as armas e sob pressão, ela apenas extravasou o que se passava em seu inconsciente.

Resta saber se, apenas em seu inconsciente, ou no inconsciente coletivo dos chineses!

ENQUETE – Se você quiser, coloque sua opinião no post.

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Nós, brasileiros, tratamos bem os estrangeiros porque eles são supostamente mais ricos ou porque somos um povo solidário? Nós tratamos os norte-americanos e europeus da mesma forma que tratamos os argentinos, uruguaios e paraguaios?

Mingtian jian.