Hoje, dia 15 de março, o Brasil combinou de ir às ruas para se manifestar contra o governo Dilma. O movimento, que ganhou força nas redes sociais ao longo da semana, atingiu parte da comunidade brasileira aqui de Shenzhen. Às três da tarde de domingo, quatro da manhã no Brasil, um grupo de expatriados se reuniu num gesto de apoio aos brasileiros que estão saindo, neste momento, em protesto nas principais capitais do país.
A comunidade brasileira de Shenzhen é formada por famílias que decidiram deixar o país em busca de mais qualidade de vida, assim como de profissionais que não conseguiam mais se recolocar no Brasil. Diversos pilotos das falidas Varig, Rio Sul, Transbrasil e Vasp trabalham, hoje, por salários muito melhores para as companhias aéreas chinesas como a Shenzhen Airlines.
Pouco importa se a vinda para China foi voluntária ou forçada. Todos, ao chegarem aqui, foram impactados pela mesma sensação de que a qualidade de vida no Brasil é muito ruim. “Quando se vive no Brasil, a gente não se toca de que as coisas estão tão problemáticas. A gente simplesmente se acostuma e segue em frente”, diz um dos participantes. “No entanto, ao chegar numa cidade como Shenzhen, com transporte público de qualidade, bons hospitais a preços acessíveis e, principalmente, muito seguro é que entendemos como o Brasil parou no tempo”.
Quem, aqui da China, faz negócios com o Brasil reclama dos impostos de importação altíssimos e do esquema de corrupção que acaba financiando a roubalheira generalizada.
Uma brasileira que morava nos Estados Unidos, mas está há 10 anos na China a trabalho, diz que para ser político naquele país é preciso estudar muito. No Brasil, palhaço se elege deputado e presidente se vangloria por ter chegado até onde chegou, sem precisar completar nem o ginasial.
Esta observação me fez lembrar a antiga China de Mao, onde os professores e intelectuais foram eliminados e os camponeses, sem instrução, eleitos os donos da nação. E o motivo é rigorosamente o mesmo: assim fica muito mais fácil governar.
“Os brasileiros estão mais unidos, mas não sabem muito bem o motivo. Nas redes sociais, se encontra todos os tipos de protesto, do preço do tomate ao impeachment da Dilma”, diz um profissional de trade que participou do evento.
Mas será mesmo que os brasileiros estão mais unidos? Tirando aqui por Shenzhen, o que se vê é um grupo de pessoas mais velhas que já perderam as esperanças, e outro de jovens que estão na China, mas querem muito voltar para o Brasil.
Independente dos sentimentos de revolta, decepção ou frustração que cada um de nós possa ter, a verdade é que somos todos brasileiros e que algo maior nos une: a vontade de ver o Brasil deixar de ser somente o país do carnaval, samba e futebol.