Escrevo no calor, ou melhor, na geladeira em que o Brasil se encontra após a derrota de 7×1 para Alemanha. Escrevo porque acredito que o segredo da vida é enxergar aprendizado em tudo.
Meu ponto é apenas um: nós viemos para o Brasil em junho, como fazemos todos os anos, para visitar nossos pais e amigos. A copa do mundo era apenas um adendo. O Brasil com tantos problemas, com candidatos inacreditáveis para o governo do Rio, com as eternas notícias sobre corrupção e violência não nos inspirava, ainda na China, nenhum tipo de celebração.
Ao chegarmos aqui e sermos expostos a tantos comerciais ufanistas, “Isso muda o jogo, Brasil”; ao andar pela Avenida Atlântica em Copacabana e ver torcedores do mundo inteiro celebrando o esporte; ao ver os bares cheios, uma roda de samba a cada esquina, o clima de solidariedade e confraternização; tudo isso criou a ilusão de que nossa alegria e hospitalidade são suficientes para superar todos os nossos problemas.
A seleção jogou muito aquém do esperado em todas as partidas. Mas os comerciais dos patrocinadores, a idolatria ao Neymar transformado em Roque Santeiro e os Galvões Buenos das principais emissoras de TV nos contavam uma história diferente. Vamos lá, Brasil!
A derrota para Alemanha, ou melhor, a derrota de 7×1 para Alemanha, é para mim uma grandessíssima metáfora. O Brasil vai mal das pernas.
Mas eu acredito que nossa decepção com a seleção brasileira e principalmente nossa indignação com a goleada de 7×1 sejam capazes de mudar a realidade do nosso povo. A realidade da empregada da minha sogra cujo sobrinho morreu, antes de ontem, atropelado por mais um motorista que fugiu. Da família do rapaz que levou, semana passada, um tiro na cabeça na lagoa Rodrigo de Freitas por reagir a um assalto. Da menininha que ficou mendigando um dinheirinho ontem à noite enquanto eu e Luiz engolíamos um sushi regado a complexo de culpa.
Eu acredito que quando o Brasil se indignar com o que realmente conta, aí sim o comercial do Itaú fara sentido: “Quando o brasileiro entra em campo, ele muda o jogo”.