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Ni Hao,

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Dia 8 de março foi o Dia Internacional da Mulher. Aqui na China, nada de diferente aconteceu, a não ser eu ter aprendido como se fala “Feliz Dia da Mulher” em chinês. Na academia onde faço yoga, até vi algumas flores no balcão, mas ficou por isso mesmo.

Na realidade, tenho dúvidas se deveria haver um Dia da Mulher pelo mesmo motivo que o Morgan Freeman acha que não deveria haver o Dia da Consciência Negra. Vocês chegaram a ver este vídeo?

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Enfim, para que o Dia da Mulher não passe totalmente despercebido, no meu post de hoje vou falar sobre as mulheres com as quais convivo em Shenzhen. Mas o que isso tem a ver com a China? Acho que muito. Tenho a sensação de que em pouquíssimos países do mundo as mulheres expatriadas ficam tão limitadas quanto aqui.

A maioria dessas mulheres, e eu me incluo entre elas, veio para Shenzhen para acompanhar seus maridos em suas missões profissionais. Essas mulheres abriram mão das suas ocupações em seus países, seja carreira profissional, trabalho social, esportes, o que for, para se aventurar numa cultura totalmente diferente da ocidental.

Mais do que isso, num país cuja língua é considerada a mais difícil do mundo! Ou seja, sem poder trabalhar, sem conseguir fazer amigos chineses e sem motivação suficiente para aprender uma língua tão complicada, essas mulheres acabam ficando ociosas, (como diria o ditado: “o ócio é a oficina do diabo”) e precisam segurar a barra uma das outras.

O SWIC, Shekou Women’s International Club é um exemplo disso. O SWIC é uma instituição que reúne expatriadas de todas as nacionalidades e idades em torno de atividades como um bate-papo semanal no Starbucks, almoço mensal, excursões culturais, clube do livro, tênis, jogos, festas e um classificados on line através do qual ficamos sabemos quem está vendendo o que, quem precisa de empregada, quem pode “babysitting” seu filho e coisas do gênero. Metade da mobília da minha casa foi comprada assim.

O SWIC, façamos ou não parte dele (e eu faço), nos faz sentir mais à vontade com nossos sentimentos de desamparo e solidão. Tipo assim, um AA.

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Além do SWIC, nós expatriadas acabamos formando nossos próprios grupinhos particulares, normalmente entre mulheres que falam a mesma língua. Eu costumo chamar o nosso bairro de Big Brother. Olhem só se não tenho razão.

Estamos todas confinadas numa pequena comunidade, onde todos sabem da vida de todos. Nossas amigas não foram aquelas escolhidas por nós, mas sim as que estão na “casa” conosco. Vamos a festas, bebemos, nos divertimos e comentamos umas com as outras o que aconteceu na noite anterior. Acabamos nos aproximando daquelas com quem desenvolvemos mais “afinidade” e, como todo bom BBB, julgamos as vidas alheias como se fôssemos superiores às demais mulheres.

Às vezes, uma de nós vai para o paredão. Outras pedem para sair do jogo. Outras vão simplesmente embora do país. Em qualquer um dos casos, “choramos” pela partida de mais uma companheira e ficamos felizes por vê-las voltar para seus parentes e amigos ou, simplesmente, por irem morar em algum lugar menos inóspito.

Para vocês entenderem melhor do que estou falando, recentemente, um amiguinho americano do Dudu, muito querido, voltou para os Estados Unidos. A mãe dele, que acabou ficando minha amiga também, postou no FB mais ou menos o seguinte:

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“Sou grata por pequenas coisas: por não ter que usar um VPN para acessar o Facebook ou Youtube, por ter o meu carro de volta, por eu ter entendido tudo que todos falaram para mim hoje, pela minha cerveja gelada, pelo sanduíche de frango da Wendy’s , por eu poder ligar qualquer das minhas coisas sem ter que procurar por um transformador de voltagem…”

Tudo isso são pequenas coisinhas que, juntas, fazem dos nossos dias uma “Prova de Resistência do Líder”.

Lembro-me desta amiga dirigindo sua bicicleta com a filhinha de 1 ano na cadeirinha da frente, o filhinho de 4 no banco de trás, um bebê na barriga e duas outras crianças ficando na escola para voltar no segundo turno do transporte. Nenhum Dia Internacional da Mulher estará à altura de uma mulher como esta.

O fato é que nós, mulheres de Shenzhen, independente do nível de afinidade que possuímos umas com as outras, somos acima de tudo cúmplices. Já tive provas de sobra que, na hora que a barra pesa como no acidente da Mariana ou num prosaico caso de piolho na família, não faltam Kwell, pílulas de arnica ou receitas caseiras de chá de limão com gengibre para aplainar a nossa dor.

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E são com essas mulheres que estou aprendendo a sair do meu pedestal de “executiva bem remunerada” para o de mãe de família, que cozinha, faz dever de casa, que tem tempo para rezar um Evangelho todas as segundas, fazer yoga no fim do dia e até tomar um café à tarde, quando a Universidade permite.

Estou aprendendo a conviver e a gostar de mulheres que, no Brasil, por conta do meu estilo de vida, jamais teria tido a possiblidade de conhecer. Estou aprendendo a lidar com a minha própria auto cobrança por uma vida mais “produtiva” e com a cobrança dos filhos.

Outro dia, mandei o Dudu fazer o dever de casa e ele mandou de volta: “estou muito cansado, pois trabalhei o dia inteiro na escola enquanto você tomava café com as amiguinhas”. Mari e Marcos também já ensaiaram um recadinho do tipo “esse dinheiro não é seu, é do papai”.

Mas o que é mesmo ser “produtiva”? Seria trabalhar 10 horas por dia num escritório, chegar em casa estourada, engolir em seco e encarar mais 3 ou 4 horas educando os filhotes, como fiz durante mais de 20 anos da minha vida?

Enfim, amigos, tenho plena consciência de que meu aprendizado na China transcende e muito o aprendizado do mandarim e de uma nova cultura. Acho que eu vim para China para aprender, finalmente, a ser mais Mulher!

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Abusei da pieguice, né? Deve ser meu lado mulherzinha aflorando…

在见
Zai Jian