Nimen Hao,
你们好,
Como já falei antes, minha vida caminha atualmente de 3 em 3 semanas, que são os intervalos entre as quimioterapias. Desses 21 dias, tenho passado uns 14 me recuperando dos efeitos colaterais e 7 correndo atrás do prejuízo: compras, leituras, escritos, etc.
Ontem, em um desses 7 dias, fui à festa de aniversário da minha querida amiga Gabriela, uma mineirinha daquelas que fala “uai” e ”trem”, sobre quem já escrevi. Na festa, acabei encontrando leitores do blog que eu não conhecia, mas que se já sentiam super íntimos da “Família Brasileira na China”.
Minha gente, o que é isso? Fiquei famosa? Logo agora que estou careca e com olheiras? Mas o ponto não é este, por que de famosa eu não tenho nada. O ponto é que percebi que, ao divulgar o câncer no blog, estou deixando muita gente preocupada quando não escrevo por muito tempo. As pessoas acham que estou “perdendo a luta” e outras fantasias do gênero.
Leitores, não se preocupem por que a luta já está 70% ganha. Agora só faltam 2 sessões de químio e mais a radioterapia e estarei pronta para voltar à vida normal.
Vou aproveitar, então, este último domingo antes da quinta sessão para escrever sobre os eventos que marcaram nosso último mês em Shenzhen e mostrar mais um pouco da nossa querida China.
Rapidinha 1 – Tem Chinês no Samba
A festa da Gabi foi o maior sucesso! Ela fechou um barzinho ao lado da churrascaria Gaúcho, cujo dono é chinês e que vai ter que dançar um dobrado depois que a mega concorrente Latina abrir no Sea World. Ela pediu ao seu amigo inglês, que é DJ, para só tocar música brasileira e emprestou um USB de samba, axé e pagode. Muito engraçado ver o inglesinho todo mauricinho balançando os ombros ao som de “Ai, que bom você chegou, bem-vindo a Salvador, coração do Brasil!”.
Os convidados eram de todos os lugares do planeta fazendo da pista de dança uma grande torre de Babel: inglês, escocês, croata, espanhol, polonês, georgiano, português, libanês e, obviamente, chinês. Dá para imaginar que rolou samba no pé, mas também na mão, na cabeça, no ombro… o importante era se divertir! Gabi, amiga, zhu ni sheng ri kuai le! 祝你生日快乐!
Na foto abaixo, minhas amigas Luciana, Gabriela e seu namorado Cadu, que liam o blog antes de vir morar na China; eu, na fantasia de sempre, e Luiz que nunca cabe nas fotos.
Rapidinha 2 – Os gêmeos
Ontem, antes da festa da Gabi, Luiz foi a um jantar em comemoração dos 100 dias dos bebês de uma colega de trabalho, o que me deu a chance de apontar três diferenças culturais entre brasileiros e chineses:
1. Eu não fui convidada.
2. Na China é costume fazer uma festa quando o bebê completa 100 dias
3. Num país sob a política do filho único, que sorte ter filhos gêmeos, hein?
Olhem a diferença de tamanho entre a menina e o menino!!!!
Nossa, acabei de perceber que eu também estou comemorando 100 dias de tratamento. Vai ver que é por isso que os gêmeos se parecem comigo: carequinhas!
Rapidinha 3 – Remédios na China
Mariana ainda está tratando dos dentes por conta do acidente de 2 anos atrás. Hoje, ela voltou de uma cirurgia com uma bolsinha cheia de remédios. Na hora de dar o analgésico, começou a confusão. Qual era mesmo o analgésico? O jeito foi mandar uma foto numerada para a dentista e pedir Socorro!
Socorro!
Rapidinha 4 – Christiane White está de volta
Existe um seriado americano chamado Breaking Bad que conta a história de um professor de química que, ao descobrir que estava com câncer de pulmão, virou o maior produtor de cristais de metanfetamina do Novo México, para sustentar a família. Além de “virar do mal”, o Mr. White também ficou careca por causa da químio.
Semana passada, minha colega de universidade e amiga iraniana, Sara, me trouxe de presente do Irã amêndoas e cristais de açúcar que ajudam na cura do câncer, segundo a cultura do país. Não deu outra. Cada um que abriu a geladeira esta semana me perguntou a mesmíssima coisa:
_ O que é isso? Metanfetamina?
Deve ser tão bom ser “do mal” vez em quando!
Rapidinha 5 – Milagre de Natal
Dudu cismou de comprar uma bicicleta nova. Para comprar a nova bike, tivemos que ampliar nosso vocabulário em mandarim e acrescentar palavrinhas como alumínio e ferro as quais, obviamente, já não tenho mais a menor ideia de como se fala. O chinesinho da Baixaria, que sempre nos atende com o maior carinho, vendia uma bicicleta igual a da Decathlon, pela metade do preço. Depois de muita discussão com o Dudu para tentar convencê-lo a economizar seu próprio dinheiro, ele concordou em comprar a bicicleta do chinês e abrir mão da marca Decathlon.
Ontem Dudu me ligou da porta do mercadinho dizendo que entrou para comprar uma bebida e roubaram a bike novinha dele. Quase chorei de pena. Felizmente, 5 minutos depois, Dudu ligou de novo, desta vez para dizer que um chinês voltou para devolver a bicicleta que foi pega por engano! Considero isso um verdadeiro milagre por que, apesar da violência em Shenzhen ser mínima, é comum o roubo de bicicletas.
Nossas bicicletas ficam estacionadas na porta de casa por que já roubaram uma delas na garagem.
Rapidinha 6 – Por do Sol
E para terminar este post em astral, deixo vocês com o por do sol do outono de Shenzhen, visto da varanda aqui de casa, para inspirar, iluminar e abençoar nossas próximas 3 semanas!
Todas as tardes somos premiados com esta vista.
再见
Zai Jian
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