Ni hao
你好
Luiz foi convidado para o casamento de um colega da IBM. Quando soube, pensei logo no presente e na minha roupa. O presente saiu de uma vaquinha no trabalho exatamente como fazemos no Brasil.
Minha roupa foi uma mistura do melhor vestidinho que eu tinha trazido na mala (nada da mudança até então) e de alguns acessórios emprestados da minha vizinha. A única recomendação era “não ficar mais bonita do que a noiva”. Luiz se recusou a colocar terno e acabei indo para o casório, irritada com ele e com a sensação de que íamos pagar mico como o casal ocidental mais mal arrumado da festa. A noiva, certamente, não tinha com o que se preocupar.
Depois de quase 1 hora no metrô com nossa amiga chinesa, Clair, chegamos ao hotel e nos deparamos com um cartaz onde havia o sobrenome dos noivos, o ideograma para ‘felicidade’ escrito duas vezes (só para garantir) , o ideograma para “casamento” e, claro, o número do salão da festa.
O casamento mesmo já havia acontecido ao longo do dia. Os noivos foram de manhã na casa dos pais da noiva, tomaram chá; o noivo pediu a mão da noiva e prometeu cuidar dos sogros na velhice. Depois rumaram para a casa dos pais da noiva e o mesmo ritual aconteceu. Lá pelas cinco horas, o casal foi se arrumar para a festa.
Logo na entrada, os noivos esperavam os convidados para a foto, assim como os padrinhos e madrinhas. Estranhei os quilinhos a mais da noiva, raríssimos aqui na China, mas que lhe davam um ar super saudável.
Ao lado dos noivos, havia a mesa do Lucky Money na qual os convidados entregavam o seu presente em dinheiro, como bem diz o nome. Ou seja, o conceito de dar objetos como presente não existe por aqui. Até mesmo os pais dos noivos fazem doação em dinheiro ou em joias (reparem no braço da noiva). A doação em dinheiro deve ser feita sempre com o número 9 (tipo, 9.999 RMB) porque o som dos caracteres “9” e “longo” são similares.
Acabado o ritual das fotos e do presente, entramos no salão. A decoração, em rosa e vermelho (cores da sorte na China) e usando e abusando das bexigas de gás, me lembrou a das festas infantis para meninas no Brasil. Havia também um telão mostrando foto dos noivos…. já casados! Será que chegamos atrasados?
Como fomos uns dos primeiros, fiquei assistindo à entrada dos outros convidados me escondendo atrás da mesa para não dar vexame com minha roupinha simplesinha.
Para minha surpresa, parecia que todo mundo tinha vindo direto do trabalho para o casamento. Calça jeans, T-Shirt, vestidinhos de algodão e até chinelo de dedo não combinavam, no nosso modo ocidental de ver, com a importância da ocasião. Ou seja, continuei me escondendo atrás da mesa, mas agora pelo motivo oposto: para não parecer a ocidental extravagante que veio tentar ser mais bonita que a noiva. E o pior é que ainda tive que aturar o Luiz dizendo a noite inteira “viu, como não era para eu vir de terno”.
Em cima da mesa, havia alguns itens para entreter os convidados enquanto o casório não começava: cigarros, amendoins, semente de abobóra e balinhas. Depois chegaram as bebidas: chá, é claro, leite de coco, Coca (kêla) e Seven-up (cujo nome lembra a fonética do ideograma para “felicidade”). Bebida alcóolica, nem pensar.
Como a cerimônia começou a demorar demais, o pessoal da mesa de atrás não se intimidou: afastou os acepipes e partiu para o carteado!
E aí, finalmente, as luzes se apagaram e os noivos entraram de mãos dadas desfilando, triunfantes, pelo meio dos padrinhos que jogavam papéis coloridos com aquelas pistolinhas de ar. A trilha sonora era, obviamente, a Marcha Nupcial! Tananan!Tananan!Tananan!
Os noivos, então, subiram ao palco e o show começou! Uma apresentadora de terninho e microfone em punho, de dar inveja ao Gugu Liberato, conduziu a apresentação. Ela perguntava “a noiva é bonita ou não é” e a plateia respondia: ÉÉÉÉÉÉ! Só faltava mesmo a claque.
Em seguida, ela foi dando as ordens e todo o ritual de casamento, como nós conhecemos, foi acontecendo em sequência, em cima do palco, e não levou mais do que 15 minutos: os noivos encheram a pirâmide de taças com champanhe, fizeram o brinde com os braços entrelaçados, trocaram alianças, cortaram o bolo e jogaram o buque para mulheres e homens (sim, homens!) ansiosos para serem os próximos.
Shasha, nossa amiga, pegou o buque. Era ela quem estava usando chinelos tipo Havainas com plataforma.
Só, então amigos, a festa realmente começou, ou seja, o jantar foi servido! Lendo sobre a tradição chinesa, descobri que cada prato tinha um significado especial. Pela tradição, deveriam ser 9, mas foram muito mais!
Vamos lá:
Porco assado = Virgindade
O porquinho chegou carregado dentro de uma bandeja coberta, desfilou pelo salão e veio parar em nossas mesas com luzinhas piscantes vermelhas nos olhos. Não acreditam? Assistam ao filminho abaixo.
Lagosta – Felicidade, por conta da cor avermelhada. Aliás, estava uma delícia!
Sopa de barbatana de peixe – Riqueza, porque o ingrediente é muito caro. Tem gosto de alga amanhecida sob o sol.
Pepino do mar – Generosidade, porque o ideograma lembra o de “bom coração”, o que aliás, precisei de muito para ter coragem de provar!
Peixe – Plenitude porque, de novo, os sons são parecidos.
Pés de galinha (escondidos embaixo de um prato de cogumelos) = Lembra a “fenghuang”, um pássaro mitológico chinês também conhecido como a Fenix chinesa. Isso significava que, após o banquete, teríamos que “renascer das cinzas”?
Macarrão – Longevidade, além de “finalmente algo inofensivo para comer!”
Feijão doce = Vida doce e durante muito tempo. Quando vi o potinho, dei logo uma colherada para matar as saudades da sopinha de feijão da minha vó. Mas quando o cérebro pensa uma coisa e a língua sente outra…
Pombo – Paz, por causa da carne tenra. Aliás, acabei de descobrir que comi pombo achando que era galinha.
A esta altura do campeonato, eu já não sabia mais onde colocar a comida. Meu potinho já estava cheio do resto de tudo que peguei só para provar e, até dentro do copinho de chá, eu já tinha colocado algum pedaço de peixe por engano.
Mas a comida não parava mais de chegar e a garçonete ia colocando um prato em cima do outro. O que para nós é sinal de mesa bagunçada, aqui simboliza fartura e bons tratos com os convidados.
Lá pelas tantas, colocaram um envelopinho na nossa frente com 10 RMB ofertados pelos noivos como agradecimento por termos participado da festa. Simpático, né?
Em seguida, os noivos vestindo outra roupa passaram pelas mesas para brindar e o casório acabou. Nada de música ou dança… só comida! E como!
Saímos pelo arco de corações que, segundo a Clair, trazia sorte para o casal, e fomos tirar nova foto com os noivos que já estavam na terceira roupa! Parecia até o Mistério de Irma Vap.
E, enquanto os noivos foram para a noite de núpcias junto aos amigos, numa espécie de despedida de solteiro, nós fomos tomar um cervejinha bem gelada para fechar, à brasileira, nosso primeiro casamento chinês.
Até a semana que vem.
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