你们好
Nimen hao,
Eu sei que este título parece uma daquelas estratégias para chamar audiência para os blogs. Algo típico de Téo (tenho assistido a todos os capítulos de Império, minha grande companhia nesses dias turbulentos). Mas foi exatamente assim que me senti antes de ontem, dia 11 de setembro. O dia da queda das minhas torres gêmeas.
Preciso começar explicando que o calendário das pessoas em processo de quimioterapia muda um pouco. Em vez de segunda, terça, quarta e assim por diante, nós passamos a ter D1, D2, D3, D4, sendo o D1 o dia em que você recebe a dedetização.
Bom, meu D1, como vocês sabem, foi na quarta-feira, dia 3 de setembro. O D2 e D3 foram maravilhosos! Recados lindos no Facebook, e-mails cheios de carinho, orações por todos os lados foram suficientes para eu ter certeza de que “comigo vai ser diferente”.
Até que comecei a tomar umas injeções para aumentar as células brancas e combater o pior efeito colateral da quimioterapia que é jogar sua imunidade na privada e dar descarga. Só que, o que eu não previa, é que os efeitos colaterais dessas injeçõezinhas seriam simplesmente insuportáveis para mim.
Sabe, lembro de uma amiga (Fabíola, essa história é sua) que tinha um Doberman super querido, daqueles de lamber a sua cara e tirar a comida da sua boca sem encostar em você. Um dia, o cachorro enlouqueceu, furou a cerca da casa do vizinho e atacou sua cadela que estava grávida, mastigando e atirando ao ar todos os embriões de cachorrinhos. E por quê? Dizem que os Dobermans possuem a caixa craniana pequena demais e que, de vez em quando, o cérebro fica muito apertado lá dentro e o cão enlouquece.
Verdade ou mentira, foi assim que me senti no D5,D6,D7, D8 e D9. Uma Doberman enlouquecida dentro de um avião despressurizado em queda livre!
Uma dor de cabeça absurda, pressão nos dois ouvidos, dor nas costas… agora eu não era só uma geleca. Era uma geleca doendo.
No D8, fui fazer o exame de sangue para saber a quantas andavam minhas células brancas e saber se poderia parar de tomar as injeções malévolas. Mais uma vez, a invencível e super poderosa Christiane caiu do cavalo. Minha contagem de neutrófilos (se você pretende continuar a ler este blog, melhor ir se acostumando à nova terminologia) apareceu estupidamente abaixo do mínimo aceitável o que queria dizer que eu teria que continuar tomando as injeções de “explode-crânio”.
Resignada, engoli em seco e entreguei minha barriguinha para o Luiz me espetar mais uma noite. Ontem, D9, me arrastei até o hospital andando bem devagarinho para que o contato do pé no chão não repercutisse no meu cérebro apertado e fiz mais uma contagem de células brancas. E foi aí, leitores, que o resultado apareceu:
O sublinhado em vermelho está embaixo dos neutrófilos. O certo é estar entre 2.01 – 7.42. No exame do D8 deu 0,57 e no D9 traço! Morri!
Pronto! Ferrou de vez! Não tenho mais neutrófilos! E eu aqui no meio de um hospital, cheio de crianças doentes, pessoas tossindo, pacientes passeando pelos corredores e meu médico láááááááá em Hong Kong. E além de tudo com o band-aid do exame vazando sangue, o que nunca havia acontecido antes! D9 ou 11 de setembro, o dia em que um avião me derrubou. Um não, dois!
O Luiz, infinitamente mais calmo do que eu, falou:
_ Esta conta não está batendo. Tem que fechar 100%.
_ Luiz, você é engenheiro e não médico! Quem disse que a conta tem que fechar? Vamos procurar um oncologista aqui mesmo neste hospital!
Luiz, para quem não existe missão impossível, conseguiu marcar uma consulta para meia hora depois e, por vias dúvidas, pediu nova cópia do exame de sangue. Levamos tudo para o oncologista chinês que leu uma cartinha de recomendação do Dr. Law em voz alta, em chinglês, bem de-va-ga-ri-nho (lê logo essa droga!) e depois analisou o exame de sangue.
_A senhora está ótima! Sua contagem está perfeita! Por que vocês estão aqui? Como posso ajudar?
_ Meu ouvido está explodindo como seu eu estivesse num avião aterrissando muito rapidamente!
_Da próxima vez, a senhora não vem de avião, pega o ferry.
O que? Ele não entendeu que era uma analogia? Ou entendeu? Eu sabia, eu sabia que não dava para contar com médico chinês. O cara não sabe nem ler contagem de neutro… ops, como assim? A contagem do novo exame é outra? Estou viva? Viva! Muito viva! Mais do que viva! Minhas células brancas quintuplicaram de um dia para o outro!!!!!
5,33! Vivinha da silva. E o WBC (células brancas) foi de 2 para 22! Voltei a ser uma super mulher!
Bom, leitores, como há males que vem para o bem (este é meu lema depois que a barata apareceu na cozinha), descobri que o Centro Oncológico do Hong Kong University Shenzhen Hospital é excelente! O supervisor do médico que nos atendeu falava inglês fluente e leu a cartinha do Dr. Law bem mais rápido. Além disso, saí de lá com dois remédios tarja preta para dor de cabeça e para dormir. Ah, eu amo esses dois médicos! E isso tudo por isso por menos de R$ 100.00! Ah, eu também adoro o comunismo!
Enfim, resolvi transferir meu tratamento de Hong Kong para cá e morder a língua toda vez que falar mal da medicina chinesa, como fiz no primeiro post da série “Barata na Cozinha”.
Ficou faltando apresentar meu novo hospital, também conhecido aqui em casa como Zumbilândia.
Explico. O hospital é de primeiríssimo mundo! Amplo e arejado, parece um shopping center ultra moderno.
Adoro esta foto!
Só que, a partir das 10 da manhã, ele é invadido pelos pacientes que saem para passear pelos corredores com seus pijaminhas listrados. Alguns sozinhos, outros acompanhados e alguns deles aproveitam para dar uma passadinha na loja de conveniência e comprar uma guloseima. O mais engraçado é ver paciente de pijaminha listrado, sapato de salto alto e bolsa Louis Vuitton indo às compras. Uma verdadeira Zumbilândia.!
No mais, continuo esperando meu cabelo cair. Sabe adolescente com medo de estar grávida e que vai ao banheiro toda hora para checar se as regras desceram? Parece eu penteando os cabelos de dois em dois minutos.
Eu esperando o resultado do exame de sangue na Zumbilândia. Os cabelos estão intactos! Mas, que mão é essa? Pelo visto, meu cérebro estava mais exprimido do que eu imaginava!
Zai Jian ou melhor até o D17!
Agradecimentos Especiais da Semana (tirando obviamente o Luiz, as crianças, meu pai e minha mãe e meu sogro e sogra):
Andrea e Dr. Túlio Malburg, meus consultores para assuntos oncológicos no Brasil. Melhor enfermeira, melhor médico e melhores amigos do mundo!
Dra. Ângela Moser, minha tia, ginecologista e consultora para qualquer assunto médico, sempre do meu lado desde o início.
Cleide dos Santos, minha amiga e aplicadora em domicílio de Reike.
christianedumont@hotmai.com
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