你们好
Nimen hao,
Primeiramente, queria agradecer muito, muito, muito por todo carinho que recebi de vocês pelo Facebook e pelos e-mails que estão me dando a maior força para seguir confiante no meu tratamento. Galera, muito obrigada de coração!!!
Valeu!!!
Em segundo lugar, criei uma analogia meio mambembe sobre o câncer que apareceu no meu corpo, mas que acho que ajuda a entender e clarear um pouco os pensamentos e sentimentos de todos. Como diria Arnaldo César Coelho: “A regra é clara!” E a regra é: alto astral leva a sistema imunológico funcionando a todo vapor que leva à doença perdendo a força. Então vamos à analogia. O que aconteceu comigo foi mais ou menos assim.
Uma barata entrou na cozinha da minha casa (cozinha = comida; seio = amamentação) e eu dei de cara com ela, assim numa daquelas noites em que você vai sozinha buscar um copo d’agua. Gritei e pedi ajuda. Matamos a barata e a levamos para ser estudada: sim, ela era do tipo de barata que colocava ovos. Buscamos por ovos: sim, havia unzinho pequenininho escondido perto da cozinha. Vasculhamos a casa toda: não, nenhum outro ovo à vista. Mas, como seguro morreu de velho, vamos dedetizar tudo para ter certeza de que não há nem haverá nenhum outro ovinho escondido por aí e muito menos um filhote de barata querendo se criar neste lar sino-brasileiro.
Então, leitores, esta é a hora de dedetizar a casa! Tirar a comida da geladeira, cobrir a louça e os móveis, separar as gatinhas e as plantinhas… Ih, as plantinhas (cabelos), essas não têm jeito, vão morrer mesmo. Mas, daqui a 6 meses, tudo renascerá de novo e aí é só ir fazendo as manutenções.
E por que surgiu uma barata cascuda logo na cozinha da minha casa? Eu achava que ela era tão limpinha, tão bem cuidada…Que papo é esse de que eu é que fui responsável por ela aparecer? Bom, aí a gente começa a entrar numa outra área que vai da medicina ao esoterismo e vamos fugir por completo da China. Portanto, leitores, vamos ao que interessa: a dedetização.
Socorro!!!
Esta é a sala onde fiz a primeira sessão de quimioterapia e farei as próximas cinco. São no máximo 3 pacientes por vez, sendo que eu inaugurei o tratamento ao estilo VIP: só eu! Aliás, eu, o Luiz que se “fundiu” comigo depois que soubemos da barata, as “Três Enfermeiras”, meu livro e minha TV particular.
Ah! se nossas viagens de Hong Kong para o Rio fossem neste conforto todo!
As “Três Enfermeiras” são uma história a parte. Parecem umas fadinhas elétricas, tipo “Salagadula” da Cinderela tirando minha pressão, me pesando, me cobrindo. Cada uma delas faz uma rechecagem do que a outra está fazendo, então, por exemplo, eu fui perguntada se havia tomado os remédios preparatórios pelo menos umas 6 vezes: duas vezes de cada uma. O problema é que, de vez em quando, elas se juntam para confabular sobre sei lá o que, e a gente fica imaginando se elas estão falando do meu tratamento, da novela da TV ou da altura do Luiz.
Em Hong Kong, o dialeto é o Cantonês, então não adianta ficar prestando atenção para ver se pescamos alguma coisa.
Uma das enfermeiras acabou criando mais intimidade conosco. Ela tem 3 filhos, sendo 2 na universidade: um cursando ciência e outro gastronomia. Como nasceu e estudou quando Hong Kong ainda era colônia inglesa, ela fala inglês fluente e mandarim pior do que o meu, segundo ela.
Quando a sessão acabou, ela me deu vários conselhos sobre alimentação e disse que queria me ver mais cheinha da próxima vez. Ai que saudades da minha mãe!
Tive que fazer charminho brasileiro para ela tirar uma foto sem máscara comigo.
O Dr. Law é uma peça rara. Apareceu no meio da quimio para ver se estava tudo rolando direitinho. Ele parece um cientista maluco, careca em cima e cabeludo dos lados, e não faz rodeio sobre nada. Só que tudo sem perder o bom humor. Eu perguntei:
_ Dr. Law, tenho um cliente que quer eu o acompanhe à Feira do Cantão.
– Feira do que?
_ Feira do Cantão! Aquela feira que acontece há mais de 100 anos na China e reúne empresários e comerciantes do mundo inteiro!
_Ah, sei! Empresários, comerciantes e germes do mundo inteiro! Muito bom!
_Ok, Dr. Law, já entendi!
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Leitores, hoje é o quarto dia depois da primeira dedetização e preciso confessar: uma jamanta chinesa passou por cima de mim. Ou o mosquito da dengue apareceu por essas bandas. Virei uma geleca humana, me arrastando pela casa e parando nos cantinhos para dormir. Pensando bem, nada muito diferente da rotina das minhas gatinhas. Hoje, pelo menos, consegui sentar o rabo aqui e terminar de escrever este post.
Zai Jian
christianedumont@hotmail.com
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