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Tina, esta conta não fecha!
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Ni hao,

Vai fazer quase 1 ano que estou aprendendo a falar mandarim. Nos primeiros meses, tudo era novidade. Para cada palavra nova, eu abria, a fórceps, um espaço no cérebro e a colava com litros de cola Bonder. Dois dias depois, se eu ainda soubesse o significado da palavra, me sentia a rainha da cocada preta.

Com o passar do tempo, fui percebendo que a mesma palavra podiam ter diversos significados, o que me obrigou a ir construindo umas prateleiras mentais para ir acomodando as palavrinhas. Por exemplo, tang (e seus diferentes tons) pode significar sopa, açúcar, mentira ou fervendo.

Para piorar um pouco as coisas, as pronúncias também me pareciam muito similares.

Certa vez, a Liu estava enumerando o que havia colocado numa carne deliciosa que havia cozinhado: “yi diein jiein, yi diein miein, yi dien tiein (*)”… no terceiro temperinho, o Nando falou: “Chris, coloca um só que vai dar na mesma! É tudo igual!”

A cada aula, a cada palavra nova eu dizia: “Tina, todas as palavras que você me ensina são iguais a todas as outras que já aprendi!” Ela, com seu jeitinho habitual de “soldado mongol”, contra atacava dizendo: “Inglês é a mesma coisa. Get in, get out, get off são iguais e querem dizer coisas diferentes”.

Ok, ok… há algo errado aí, mas ainda não sei identificar o que é.

Mas, na aula passada ela foi obrigada a, finalmente, abrir o jogo! Eu perguntei: “ Como se fala “quarto de dormir” em chinês? Ela respondeu: “wo shi”.

Opa! Para tudo!

Wo shi” todo mundo sabe que é Eu sou. Esta é a primeira frase que aprendemos ao chegar na China. Wo = eu (promome), Shi = ser (verbo). Como é que “wo shi” pode ser quarto???

Foi aí que ela me revelou:

“O chinês carece de sons. Nós temos mais de 50.000 ideogramas e apenas 400 sons. Ou melhor, 400 sons que podem ser pronunciados em 5 tons diferentes, o que totalizam 2000 sons.”

Caraca!!!!

Como eu não estou aprendendo ideograma, mas apenas o som das palavras, eu me sinto naquele filme “O dia da marmota” onde o Bill Murray acorda todos os dias no mesmo dia, encontra as mesmas pessoas, lê o mesmo jornal, come a mesma comida, fala as mesmas coisas… socorro!!!

Ok, calma, relaxa… “Mas, como vocês fazem para se entender se os sons são sempre os mesmos?”

“Ah, só dá para saber realmente o que a pessoa está querendo dizer quando ela termina a frase”. E acrescentou, cheia de orgulho: “Isso faz de nós excelentes ouvintes”.

É, Tina, e isso faz de nós gringos a beira de um ataque de nervos!

Ainda bem que semana que vem viajo de férias para o Brasil. Amigos, aí vou eu!

Chris Dumont

(*) Para aqueles que sabem ler pinyin, escrevi errado de propósito para facilitar o entendimento.

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