Ni Hao,
Vocês já devem ter reparado que em quase todos os meus posts menciono a Tina, minha professora de chinês. Mais do que minha professora, ela é minha consultora para assuntos sobre a China e, posso até dizer, minha amiga.
Nossa história começou assim. Um dia, no Starbuks (sempre lá!), uma amiga me apresentou sua professora de chinês: uma moça de cabelos puxados para trás num rabo de cavalo, saia comprida e olhar baixo. Falei muito rapidamente com ela sobre o preço das aulas e fui embora.
Duas semanas mais tarde, quando decidi aprender chinês para valer, voltamos a nos encontrar. Só que, desta vez, me apareceu uma chinesa de cabelos compridos cor de fogo, shorts minúsculos, muitas bijuterias e forte personalidade.
Pode parecer preconceituoso o que vou dizer, mas às vezes é muito difícil distinguir um chinês do outro. E foi o que aconteceu naquele dia. A chinesinha tímida que eu havia conhecido era professora da filha da minha amiga, e não a Tina. Mas até eu me tocar disso, passei algum tempo imaginando o que havia acontecido com aquela mulher que mudara de Regina Duarte para Lady Gaga em tão pouco tempo!
Abre parênteses: quando comentei sobre não ter conseguido distingui-la da outra professora, ela me disse que o mesmo acontecia com ela quando começou a dar aulas para ocidentais. Os alunos acenavam-lhe pelas ruas, mas era muito difícil saber quem era quem é. Aliás, até hoje, ela confunde os artistas quando assiste a um filme ocidental! Fecha parênteses.
Chega de papo e vamos à apresentação formal. Está é a Tina:
Tina, ou melhor, Zhao zhi hui ,tem 32 anos e é do signo de leão (dá para dizer pelos cabelos cor de fogo!). Tina nasceu na Mongólia Interior que, para quem não sabe (como eu não sabia até pouco tempo), é uma região autônoma da República Popular da China com uma área de 1,18 milhão km2 e que faz fronteira com a Rússia e a Mongólia.
Minha fantasia infantil sobre os mongóis corresponde à descrição que encontrei na Internet, “guerreiros impetuosos que lutavam entre si e atacavam civilizações desenvolvidas”, o que também corresponde à minha percepção sobre a Tina.
Uma mulher de garra, que estudou Letras (Inglês/Chinês), migrou de sua região e da segurança da família para ganhar a vida no sul da China e conseguiu! Seu maior orgulho foi o de ter comprado uma casa para os pais com o que recebeu dando aulas.
Já vi a agenda da Tina e posso garantir que ela dá aulas todos os dias em todos os horários: sábado, domingo, Chinese New Year, 7 da manhã, 11 da noite, pessoalmente, pelo Skype… Para ela, trabalhar não é um problema!
Já convidei- para visitar o Brasil. Ela fez rapidamente as contas e disse: prefiro mandar este dinheiro todo para meus pais!
Tina circula tão bem no mundo ocidental, dando aula para pessoas de todas as partes do mundo, literalmente, que às vezes é difícil acreditar que ela é uma chinesa verdadeira.
Apesar da aparência extravagante, Tina não é de muita badalação. Seu jeito de se vestir reflete uma pessoa extremamente vaidosa, que se recusa a perder a ousadia da adolescência e que acorda feliz e disposta a se arrumar para seus alunos.
Foto modelo primavera verão
Os chineses não são de olhar para mulher nas ruas, mas os guardinhas do meu condomínio e os motoristas de taxi que veem apanhá-la aqui em casa lançam olhares sexuais para suas pernas como eu nunca vi antes. E ela não está nem aí. Como enjoa no banco de trás do carro, ela enfia os pernões “brasileiros” na cara do motorista e senta confortavelmente no banco da frente.
Confesso, no entanto, que a aparência da Tina pode assustar no início. Ainda mais quando ela começa a usar uma de suas analogias para nos ajudar a memorizar as palavras.
Em nossa primeira aula, para explicar como se escrevia o ideograma de “obrigado”,(xiè xiè – 谢谢) ela disse: “a primeira parte do ideograma significa “dizer” e a segunda significa “lançar”. Então, quando o homem lança seu esperma dentro da mulher, o neném que nasce diz “obrigado” ou “xiè, xiè”.
Sinceramente, nem me lembro mais da historinha completa, mas me lembro muito bem da minha confusão mental ao ouvir tudo aquilo de uma chinesa exuberante como ela.
Mas o tempo foi passando, outros exemplos similares foram aparecendo, e fui percebendo que suas analogias são tão inocentes e desprovidas de segundas intenções quanto ela. E, mais importante que tudo, são de uma eficiência incrível!
Enfim, acho que a melhor forma de entender o método Tina de ensinar, é assistir a uma de suas aulas. Esta é sobre como contar de 1 a 10.
Depois de quase 5 meses encontrando a Tina duas vezes por semana, quando não mais, só tenho uma coisa para lhe dizer:
– Tina,o neném está muito agradecido depois que o papai fez aquilo com a mamãe. Xiè, xiè. Uma professora de chinês tão boa quanto você, só mesmo lá na China!
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