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Um aniversário inesquecível!
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Ni Hao,

Segunda-feira passada foi meu aniversário. Na China, essa coisa de comemorar aniversário ainda não tem a importância que tem para nós ocidentais. Lembro que logo que cheguei aqui, fomos ciceroneados por um chinesinho na casa dos vintes anos, muito simpático e que falava inglês bem. Aproveitei para perguntar quantos anos ele tinha. Ele virou os olhinhos puxados para cima, pensou, pensou e respondeu: “Em que ano estamos mesmo?”. Pois é gente, ele mal sabia a própria idade.

Isso sem falar que, em algumas regiões da China, o neném já nasce com um ano. Para quem não considera aborto, crime, essa conta não faz muito sentido, né?

Bom, vocês querem saber o que fiz no meu aniversário?

Primeiro, um prosaico, sem graça, mas necessário checkup médico. Aos 48 anos, morando num país onde não sabemos ao certo a qualidade da medicina, não dá para vacilar nem um segundo. A descrição de um checkup, que eu pretendo fazer para vocês, não parece ser a coisa mais divertida do mundo, mas garanto que ela pode dizer muito sobre a cultura deste povo.

Para começar, a clínica em que fui, especializada em checkup, foi indicada pelo nosso amigo Terry cuja esposa, por sua vez, é amiga do diretor. Este simples fato nos proporcionou um desconto de 20% na notinha e o direito de usufruir da sala VIP com poltronas gigantes, banheiro privativo, chazinho e outras mordomias. Este é o famoso关系 (guanxi) chinês de que tanto se fala, mas que para nós brasileiros parece bem familiar, não acham?

Divulgação

Como a clínica era 100% focada no público chinês, minha grande amiga, parceira profissional e emocional, Fu Ling, foi comigo para ir traduzindo o que os médicos e enfermeiras orientavam. Ela me viu por fora e por dentro e hoje, além de mim mesma, da minha mãe e do Luiz, posso garantir que ela é a pessoa que mais me “conhece” atualmente.

Os pontos altos do checkup foram, primeiramente, o exame de sague. A enfermeira furou a minha veia, tirou o sangue, tirou a agulha, colocou um esparadrapo e pediu para eu pressionar por 5 minutos. Nada demais, até eu me distrair, soltar o esparadrapo e o sangue jorrar que nem chafariz do meu braço.

A Fu Ling, desesperada, chamou a enfermeira que entrou na sala, me olhou com cara feia, esfregou uns lencinhos de papel no meu braço, colocou novo esparadrapo e nos abandonou na sala VIP. Ficamos eu e Fu Ling olhando a poltrona suja de sangue, os bolinhos de papel ensanguentado jogados em cima da mesa e meus dedos e cotovelos todos manchados de vermelho. Eu brinquei com a Fu Ling dizendo que, se eu tivesse uma doença séria, a esta hora ela já estaria contaminada. Arrependi-me da brincadeira de mau gosto assim que vi a carinha apavorada dela para mim.

O segundo ponto alto foi o exame de vista. Aqui na China, você olha para o quadrinho abaixo e tem que sinalizar com as mãos para que lado está virada a letra “E”. Depois de um ano e meio de China, eu já sabia que era assim que funcionava, mas não preciso nem descrever como foi o meu primeiro contato com este nova realidade: “E? M? W? 3?.

A Fu Ling me disse que aconteceu o mesmo com ela no Brasil. O oftalmologista a colocou em frente ao painel cheio de letrinhas e, em vez de falar, ela ficou apontando para direita, esquerda, cima e baixo para constrangimento do marido brasileiro.

Divulgação

Entre uma tomografia e outra, uns médicos bem velhinhos entravam na sala VIP para olhar minha garganta e nariz, tirar pressão, analisar minhas retinas como se aqueles procedimentos, feitos de forma rápida e automática, pudessem desvendar alguma doença escondida em meu corpo. Acho, sinceramente, que esses velhinhos simpatissíssimos, curiosos sobre minha nacionalidade, também são fruto do guanxi.

Enfim, uma dessas velhinhas simpáticas entrou na sala e começou a me apalpar delicada e rapidamente como se estivesse querendo pedir desculpas pelo incômodo: pescoço, seios, barriga, baixo abdomem, costas, bumbum e tchan!!!! fui submetida a um inesperado e surpreedente exame de próstata (???). Fico por aqui, melhor não comentar mais nada sobre este assunto.

Para finalizar, fui fazer o exame de urina. Sim, aqui na China você mesma faz o seu exame de urina. Eles me deram um copinho plástico e um tubinho etiquetado. Fiz o xixi no copinho, transferi eu mesma para o tubinho (estava sem meus óculos e com as mãos trêmulas de 14 horas sem comer) e coloquei o tubinho aberto num engradado de tubinhos que ficava no chão ao lado da pia. Interessante….

Para fazer o exame de sangue, tomografia do rim, fígado, estômago, ultrasonografia da mama, tireoide, útero e coração, eletrocardiograma, nível de gordura corporal, nível de cálcio nos ossos, exame de vista, pressão ocular e etc (vocês sabem a que “etc” me refiro), paguei 2.700 RMB ou R$ 900,00. Se alguns dos leitores souber quando custa um checkup destes no Brasil e quiser compartilhar a informação, eu agradeceria.

Depois de um sábado de manhã rodeado de médicos, eu (merecidamente) e o Luiz passamos à noite na nossa boate particular, The Terrace http://www.theterrace.com.cn/, onde dançamos até às 3:30 da manhã.

Particular por que? Bom, fica a 10 minutos aqui de casa, não tem consumação mínima, não tem couvert artístico, você pode sair para reabastecer o nível de açucar e sal no McDonald’s ao lado e voltar sem ter que dar satisfação a ninguém. E olhem o nível da banda, formada por cantores filipinos, que toca no The Terrace? Wesmon, o cantor oficial, canta até Rapa em português! O vídeo, retirado do Youtube, dá direito a chinesinhas dançando do jeitinho chinês de dançar.

Em tempo, o melhor disso tudo é, depois de uma noite de muito divertimento, poder voltar para casa de táxi sem receio de ser assaltado no caminho.

Domingo, como não poderia deixar de ser, almocinho ocidental com a família e o presentino tão esperado: o iPad mini para tirar fotos de todas as minhas aulas de chinês!

Em resumo, um aniversário inesquecível, né doutora?

Chris

Zai Jian

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