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Ni hao
你好

CARREGANDO :)

Uma coisa que me surpreendeu muito por aqui foi a temperatura. Chegamos em pleno verão e me senti na Amazônia, sem nem nunca ter estado por lá. Parece que você está sempre saindo de um baile de carnaval com a fantasia molhada, o cheiro do desodorante pontencializado e louco por um banho gelado. Quando chove (e a gente fica conversando sob a chuva, que nem gorila na floresta, como se nada estivesse acontecendo), dá para ver o vapor subindo pelas pernas e, para virar sauna, só falta o eucalipto. E os mosquitos? Invisíveis e mudos, mas fazem um estrago absurdo nas suas pernas.

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Além da temperatura, outra surpresa foi o trânsito. Não, o trânsito de Shenzhen é simplesmente in-des-cri-tí-vel. E olha que nós moramos boa parte da vida no Rio de Janeiro, ou seja, temos MBA em trânsito barra pesada. Pelo que ouvi por aí, existem três fatores que tornam dirigir e atravessar a rua em Shenzhen um ato de coragem.

O primeiro é que o povo ainda não aprendeu a dirigir (lembrem-se de que esta é uma cidade de migrantes) e, pelo que ouvi falar, compram a carteira (ah! como somos parecidos!). Para eles, carro e bicicleta são exatamente a mesma coisa. Não precisa dar seta, não precisa parar no sinal, pode entrar na contramão, pode parar onde, quando e como quiser (no meio da rua, no ponto de ônibus, em cima da zebra…) e pode até andar pela ciclovia se o sinal estiver fechado e você não estiver muito a fim de esperar.

Brasileiro acaba se virando bem por aqui, mas vocês podem imaginar um escocês (e nós somos amigos de um) tentando atravessar a rua na zebra, com o bonequinho verde para pedestre, e a chinesada passando batido, se lixando? Dava um belíssimo esquete do Mr. Bean.

Segundo: aqui, vale a lei do mais forte e não as leis de trânsito. Vira primeiro no cruzamento quem tiver mais coragem, independente se você vem da esquerda ou da direita. Se fizer contato visual com o motorista que disputa a vez com você, esqueça. Ele ja sentiu sua fraqueza e vai virar na sua frente. Já vi coisas de arrepiar os cabelos.

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E em terceiro lugar, as motocas!

Todas as ruas aqui são assim: zilhares de motos esperando para atravessar junto com os pedestres e com os carros.

Reparem que, no meio desta confusão toda, o sujeito está falando ao celular!

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Milhares delas de todas as cores, tamanhos, parecidas com scooters, com pedal igual às mobiletes de antigamente, com cestinhas para as mulheres, com baú para os executivos, com sombrinha acoplada para proteger do sol, à gasolina e à bateria, o que significa que são extremamente silenciosas e você não ouve quando estão se aproximando.

Eles carregam qualquer coisa nas motos. Papelão…

… caixa de isopor…

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… material de construção…

… tapete. Peraí! Esse tapete é meu! Botei para lavar ontem! Juro!!!!

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Sucata…

… nenem….

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… e até cachorro!

Às vezes você vê uma família inteira em cima de uma única motinho.

Parece que são proibidas pelo governo, mas ninguém sabe ao certo. De vez enquanto, rolam umas blitz e eles apreendem uma porção delas. O fato é que todo mundo vende, todo mundo compra e todo mundo tem! E, se ainda não tem, um dia vai ter!

Agora, parem para pensar um pouquinho: se carro não precisa respeitar lei de trânsito, imaginem as motocas! Ou seja, na hora de atravessar a rua, tem que olhar para todos os lados, (eu olho até para o céu) para ver se não vem vindo uma dessas motos silenciosas a 40km/h, o suficiente para fazer o um belo estrago nas suas pernas já comidas pelos mosquitos.

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Essa é chique!

Olha o tamanho dessa! As meninas estão fofas em cima deste patinete gigante!

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Adoro estes guarda-sóis! No verão batem o maior bolão!

As mulheres andam de ladinho, na maior categoria.. e equilíbrio!

O mais absurdo de tudo é que elas andam pelas calçadas livremente disputando espaço com os pedestres. Ou melhor, buzinando ostensivamente para os pedestres saírem da frente para elas poderem passar.
Você está andando calmamente pela rua (mentira, a gente nunca está cem por cento relaxado por aqui com todas essas motos) e um sujeito faz Fóóóóóón no pé do seu ouvido! Inevitável mandar o cara para aquele lugar (em português, é claro) e não sair da frente de jeito nenhum.

O Dudu acabou de ganhar uns óculos de espião que tem dois espelhos embutidos nas laterais. Já estou pensando em pegar emprestado para andar na calçada e não ser atropelada por uma motinho vindo por trás.

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Falando em brinquedo, você já deu um brinquedinho desses que faz barulho para uma criança de 2 anos? O que ela faz? Aperta o botaozinho e fica fazendo o tal barulhinho até você arrancar o brinquedinho novo da mão dela e se arrepender, pelo resto da vida, por ter dado o brinquedo e, depois, por ter tirado dela. Tudo isso para dizer que uma buzina na mão de um chinês e um brinquedinho na mão de uma criança de 2 anos são estritamente a mesma coisa. Eles buzinam o temmmmmmmpo tooooooodo. Moto, carro, ônibus, não importa. Mas, justiça seja feita. Eles não buzinam para xingar uns aos outros como nós fazemos. Eles buzinam só para avisar que estão passando ou que vão fazer uma barbeiragem sem tamanho para cima de você.

E quem não tem moto, vai de bicicleta mesmo, como é o meu caso.

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Este mendigo tem um problema nas pernas e fica todos os dias em frente à escola das crianças. Ele mora na bicicleta. Tem tudo lá. Prato, cobertor, tudo! Um dia de manhã muito cedo, eu o vi andando na pracinha, durante uma hora, no maior sacrifício, com ajuda de uma bengala, para se exercitar. Mendigo chinês é outra coisa!

AGRADECIMENTO ESPECIAL

À minha amiga e fotógrafa Marília que fez todas as fotos das motos para este post, em uma única tarde. Que competência!Valeu, Marília!

E para terminar, esta foto foi tirada da Internet por uma amiga chinesa. Depois de tudo que a gente viu aí em cima, alguém duvida de que seja verdade?

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Até a semana que vem.

下周见
xià zhóu jiàn